Três qualidades para largar na frente

A beleza da política é que ela pode estar onde menos enxergamos. Sabe o que Charles Darwin, Olga Benário Prestes e Martinho da Vila têm em comum além da devoção às relações sociais e à vida? É que o naturalista britânico, a mártir alemã e o sambista brasileiro nasceram no mesmo dia 12 de fevereiro.

E daí? De que forma seus legados se adequam à política?

Na sua longa viagem a bordo do HMS Beagle, Darwin provou que as espécies evoluem por seleção natural e, como na evolução da vida biológica, são os mais fortes aqueles a sobreviver no mundo algumas vezes inabitável da política.

A bela e heráldica Olga Benário, morta pelos nazistas na câmara de gás por ser comunista e judia, é lembrada como vítima da intolerância resultante da ausência da política – essa política como exemplo elevado de diálogo, cortesia e civilidade que devem imperar mesmo na relação entre opostos.

E Martinho da Vila é a política no estado puro, conduzida com habilidade, astúcia e capacidade de fazer o povo mais feliz. Quem é do mar não enjoa. Ele leva nessa toada há 83 anos.

O bom político tem que saber se adaptar às situações, estar aberto ao diálogo e pensar acima de tudo na felicidade de todos. Mas isso soa como uma balela quando se vê que alcançar o sucesso não é necessariamente uma virtude e poucos políticos de sucesso são verdadeiramente bons.

Seriam Edvaldo Nogueira (PDT), Rogério Carvalho (PT), Alessandro Vieira (Cidadania) ou Laércio Oliveira (PP) suficientemente bons para governar os destinos do povo sergipano? A pergunta vem a propósito da já precipitada disputa eleitoral visando 2022. Os políticos não gostam de admitir, mas termina uma eleição e eles já estão tratando da seguinte. Antecipar-se aos fatos também é uma qualidade?

Os quatro não negam que têm desejo de governar Sergipe e por enquanto parecem os mais destacados postulantes a suceder Belivaldo Chagas (PSD). Para usar uma palavra da moda, quem é o mais resiliente? Quem tem mais capacidade de diálogo? Quem está mais apto a servir ao povo?

Edvaldo Nogueira tem a vantagem da experiência administrativa. São mais de 10 anos na cadeira de prefeito de Aracaju, além dos mais de cinco anos como vice-prefeito e de dois mandatos de vereador na capital. Falta a ele capilaridade no interior do Estado? Talvez. Falta diálogo com o governo federal? Isso pode ajudar ou atrapalhar?

Nada que aliados como Jackson Barreto (MDB, mas como um pé novamente no PDT), Luciano Bispo (MDB e também de saída), Fábio Mitidieri (PSD) e o próprio Belivaldo Chagas não possam ajudar a superar. Talvez até o deputado federal Laércio Oliveira ajude, se permanecer no mesmo projeto.

Uma coisa é certa: Edvaldo possui aqueles três predicados: sabe se reinventar para sobreviver, conversa com todo mundo, ricos e pobres, socialistas e liberais, e já está mais do que provado que tem competência para trabalhar e servir. Usando um jargão mais do que desgastado, é para ele que vai passar o cavalo selado. Saberá montar?

O senador Rogério Carvalho é o nome do PT para disputar o governo de Sergipe. Ninguém mais do que ele está preparado para o desafio. Foi bom gestor como secretário de Saúde de Marcelo Déda na Prefeitura de Aracaju e no Governo do Estado, teve boa atuação como deputado estadual e deputado federal e se destaca no Senado, onde é líder do partido.

O PT nacional vai querer o maior número possível de candidatos aos governos estaduais, principalmente agora que a popularidade de Lula volta a crescer com o desmascaramento da operação Lava Jato. Mesmo que o líder petista não seja o candidato, a limpeza do seu nome volta a dar novo fôlego ao partido.

Uma equação importante a resolver é a aliança com Belivaldo Chagas e Jackson Barreto. O PT é parte da gestão estadual, Eliane Aquino, liderança importante do partido, é a vice-governadora.

O senador Alessandro Vieira ainda é um livre atirador. Delegado de carreira, fez boa gestão na Polícia Civil e surpreendeu com a quantidade recorde de votos para o Senado, surfando na onda de moralização da política pregada com sucesso pelo presidente Jair Bolsonaro em 2018.

O moralista discurso presidencial ficou pelo caminho, mas o senador tem conseguido se afastar do populismo e fazer um mandato com personalidade, sendo crítico e propositivo. Mas dificilmente terá a mesma capacidade de surpreender na disputa ao governo do Estado se não tiver um adversário em quem possa vestir o figurino do político velho e desgastado, como fez em 2018 com JB e Antônio Carlos Valadares (PSB), o que não parece ser o caso.

Laércio Oliveira é uma incógnita. Por enquanto, é aliado do governador Belivaldo Chagas e do prefeito Edvaldo Nogueira. Tem poder financeiro e penetração no empresariado nacional, mas só poderia se arriscar se Bolsonaro estiver realmente bem na campanha à reeleição, ostentando uma popularidade que parece já não possuir, e se, nesse caso, for ele o candidato bolsonarista.

Laércio é bem sucedido no mundo empresarial, cumpre bem na Câmara Federal seu papel de representante da classe, dialoga respeitosamente com o mundo político, mas depende desse empurrãozinho de cima.

No mais, tudo pode acontecer, afinal, política é o diabo, como disse para este articulista um ex-senador. Ou, se preferir um Martinho da Vila: canta, canta, minha gente, deixa a tristeza pra lá… Afinal, é Carnaval!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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