Convivencia II

                                                            

 

                                                              “Estão confundindo desejo com direito”.

                                                                

 

Continuando no mesmo assunto abordado na semana passada, conforme prometido ao final daquele texto, quando eu dizia, combinando com o pensamento do filósofo Mário Sérgio Cortella de que “os jovens dos dias atuais, estão muito à frente do tempo e, talvez por isto, parecem não encontrar sentido nas realizações; suas e dos outros. Está faltando espanto. Tudo é muito simples, muito rápido e sem valor…”.

 

Fica fácil concluir isto com uma singela observação do cotidiano. A celeridade das ocorrências talvez esteja levando os moços a uma desesperada corrida à sua formação, criando uma desilusão com o presente e, uma falta de expectativa de futuro.

 

Tudo o que estão experimentando é muito simples, ou seja, não há mais um questionamento sério sobre os valores, sobre o comportamento, sobre a liberdade de fazer ou deixar de fazer, sobre as obrigações.

 

As coisas se apresentam para eles sem muito sentido, pois devido à velocidade com que acontecem, logo serão substituídas por outras e, nada fica. E, se nada fica, surge um vazio, a vida aparenta um vácuo, falta-lhe uma completude.

 

Os eventos se sucedem numa velocidade nunca vista, a informação de tão acelerada não deixa rastro e, não deixando rastro, não serve para formar. Serve somente e apenas para informar mesmo, sem o compromisso de permanência, por isso que mesmo sendo essencial para o viver em sociedade a informação está perdendo o seu valor.

 

Tudo vira sucata com muito pouco tempo de uso. Estamos no momento do “fast-food”, do Drive tru, .do miojo, do Microondas… Isto faz com que, até mesmo a vida, vá se esvaindo rápido demais e, desgraçadamente tanto jovem como o adulto achem que têm que aproveitar. O exemplo pode ser visto nas baladas. Lá têm que dançar todas, beber todas, beijar  todas e como isso é quase impossível, pois o corpo não aguenta, eles usam o energético ou a droga, para se manterem ativos e, quando vêm para casa, não conseguem dormir, por estarem intoxicados de drogas, aí tomam um medicamento para dormir e, se tiverem que ir a aula ou trabalhar mais tarde, tomam outro medicamento para se manter de pé… Tudo porque não podem perder tempo. Têm que curtir, pois, nas suas cabeças o amanhã poderá não acontecer.

 

Quer ver? Imagine que por alguma razão você teve que chegar a sua casa às 23.00h e percebe que sua filha de 17 anos está se arrumando, aí você pergunta:

 

– Por que você está se arrumando filha, a esta hora? 

– Pai, eu vou para a balada.

– Mas, já vai dar meia-noite filha. Você é menor e vai sair agora?

– Ah! Já vem você com as suas caretices. Eu vou e pronto.

– Mas, filha, e a aula amanhã?

– Não embaça, pai, eu já decidi e pronto. Eu vou.

– Pai, esta pode ser a última balada da minha vida.

 

E aí? Fazer o quê? Proibir ou deixar? É melhor deixar. Rezar muito para que nada de mau aconteça e ficar insone, esperando a porta se abrir e ela voltar, lá pelas 06.00h da manhã. Detalhe: a aula começa às 7.00h. Mas, ela acha que pode ser a última balada de sua vida. Toma um medicamento qualquer e vai dormir no banco da escola. Como pode uma jovem, na flor da idade, já achar que a vida se esvai tão cedo?

 

Está tudo confuso. O jovem consegue achar que desejo é direito. Se eu desejo tenho o direito de fazer. Se eu quero, eu faço. Se você não me deixar fazer, nem fizer para mim, eu me mato, ou vou embora; ou… (qualquer outra barbaridade).

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Então, diante deste terrorismo todo, o pai ou a mãe, mesmo sabendo que aquilo não é correto, mas para evitar um mal maior,  faz, ou deixa que se faça.

 

Só que os jovens naturalmente vão crescer e sair daquele teto e daquela proteção paterna. E, lá fora, a coisa é diferente. O desejo é simples desejo e o direito é simples direito. E, por mais desejos que se tenha é necessário um longo processo e muito esforço para atingir o direito. Detalhe: lá os pais, quase sempre, não estarão presentes. E, aí…

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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