“Essa foi a primeira captação de um doador tão jovem, apenas um mês e sete dias. Essa família, mesmo diante da dor da perda, deu a oportunidade de que outras vidas fossem salvas”, é o que expressa Janaina de Almeida Santos, Coordenadora da Organização de Procura de órgão (OPO).
A OPO e a Central Estadual de Transplante de Sergipe (CET/SE), que é de competência da Secretaria de Estado da Saúde (SES), acompanharam todo o processo da doação de órgãos deste bebê, cujo nome e as causas da morte não serão divulgadas. Desde o momento em que a OPO recebeu a notificação, no dia 14, de que se tratava de um caso considerado Glasgow 3, ou seja, quando o paciente não abre os olhos, não mexe ou reage a estímulos que as entidades vinham monitorando. Nesses casos, há uma probabilidade de morte encefálica, então, a OPO acompanha e orienta a equipe até o fechamento do protocolo de confirmação.
O coordenador da CET/SE, Benito Oliveira Fernandez, informou que o doador anterior com menos idade tinha sete anos. Ele destaca que os casos que envolvem a morte de filhos (as) geralmente são mais complicados de agenciar junto às famílias, pois, invertem a ordem ‘natural’ da vida. “É uma situação bastante delicada, por isso, é preciso muito cuidado e atenção na conversa com eles. Apesar da dor imensurável da perda do filho, esse jovem casal teve a preocupação em evitar que outros pais passassem por essa dor. Em uma atitude de extrema solidariedade, autorizaram a doação dos órgãos do bebê. Nossa expectativa é que esse ato sirva de exemplo para toda a sociedade sergipana”, fala Benito com gratidão.
O pequeno doador estava internado no Hospital São Lucas e a conclusão do protocolo que confirma a morte encefálica aconteceu no último dia, 16. “Trata-se de um processo muito seguro que envolve testes clínicos e de imagem. O Brasil é exemplo em segurança no diagnóstico de morte encefálica. O exame clínico é feito por dois médicos, é realizado um eletroencefalograma e também uma série de outras avaliações confiáveis são efetivadas”, explica o coordenador da CET/SE.
“Quando fomos informados sobre o término do protocolo, orientamos que fosse marcado um horário para conversar com a família. A OPO acompanhou a conversa da médica com os familiares, informamos que o bebê era um provável doador de múltiplos órgãos porque ele teve a morte encefálica, mas o coração continuava funcionando”, explica Janaína.
A coordenadora do OPO ressalta ainda que o procedimento de conversar com os pais ou responsáveis, é comum quando a doação envolve menores de idade. Benito explica que a legislação vigente preconiza que somente os cônjuges ou parentes em segundo grau podem autorizar que o paciente seja doador. “No encontro foi esclarecido o processo para doar e os pais aceitaram, assinaram um termo de autorização. A partir desse momento, começamos uma corrida para a realização de todos os exames que são exigidos pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT)”, esclarece Janaina.
Todos os resultados dos testes são encaminhados para o Sistema Nacional de Transplantes. A OPO e a Central de Transplantes de Sergipe ficam aguardando a nacional avisar que localizaram um receptor compatível, que nesse caso, por ser o doador um bebê , precisa possuir características semelhantes. “Tínhamos um receptor compatível, a central informou o horário que as equipes estariam preparadas e foi agendada a sala cirúrgica de acordo o que é passado pela central de transplantes. A cirurgia para captação dos órgãos foi agendada para hoje, às 5h da manhã, no centro cirúrgico do hospital São Lucas. A equipe de Pernambuco chegou, fez a captação e levou o órgão para o destino junto com a documentação necessária”, explica a coordenadora Janaína.
“Acho um ato de extrema nobreza o que os pais desse bebê fizeram. O transplante é uma modalidade terapêutica que depende da doação, você pode ter estrutura mas sem doador sem nada”, salienta Benito. Por isso, o coordenador recomenda que as pessoas deixem claro para seus familiares o desejo de doar os órgãos.
Segundo acredita, é preciso desmistificar muita coisa sobre a doação de órgãos, desse modo, as pessoas poderão perder o medo de se tornarem doadoras ou aceitarem a doação de órgãos dos seus parentes. “Temos ainda muito apego ao corpo, muitas famílias querem o corpo íntegro dos seus entes. A gente precisa entender que a única certeza é que a gente vai morrer e o corpo se desintegra. O sentimento que tocou o coração dos pais do pequeno bebê doador é o que a gente espera que floresça no coração de outras pessoas”, finaliza.
Fonte: Ascom/SES
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