Proselitismos

A julgar pelo que se alardeia no amplo espraiar das redes sociais, houve um boicote ao show programado de uma famosa cantora baiana que vinha cantar aqui em plagas Serigys.

Se foi verdade não sei! Sergipe, que na minha meninice se polarizava entre “Rabo branco” e “Cara preta”, como assim se arranhava a política disputada pelos Leites pessedistas, contra os Leandristas udenistas, sempre teve as suas guerras, mais das vezes o sangue escorrendo e a violência campeando, num tempo em que o comum era Deputado exibir suas pistolas na cintura, alguns parecendo Durango Kid e Rock Lane os mocinhos do cinema.

Se os duelos rareavam, tudo foi esquecido e pacificado, quando vingou o toque de recolher do “execrado” Regime Militar, tido como o mais violento e sanguinário da humanidade, a invejar os idos de Gengis Kan, chegando a Mao Tse Tung, a Pol Pot, a Bokassa e Idi Amin Dada, a Adolf Hitler, a Joseph Stalin, o “paizinho dos pobres”,  e até ao Comandante Fidel Castro, todos fichinhas, comparados aos nossos generais presidentes, que empalmaram a República afastando os políticos que os incomodavam, cerceando-os de seus Direitos de possuíram mandatos eleitorais, poupando aqueles que lhes eram confiáveis e a outros permitindo o chamado “jus sperniandi”, que a alguns poucos deu a glória de nada sofrer, mas o poder de elastecer, para sempre, o seu valor heroico decantado, por resistência ao regime.

De concreto, excluídos alguns safanões verdadeiros e ameaças chicaneiras de carões,  os “milicos”  em Sergipe, pacificaram a politica partidária, unindo todos, dos Horácios aos Curiácios, aí se inserindo, por vezo e desejo, os revolucionários pascácios, que nunca foram poucos, e outros que nos posfácios se aproveitariam de tudo, das cassações dos autênticos aos inautênticos mandatos adquiridos, ninguém se achando em esbulho, ou no engulho, de uma legislação dita “biônica”, por rasa legitimidade popular, com direito até mesmo de a toda tensão arrefecer nas chamadas “sublegendas eleitorais”, hoje todas esquecidas.

Depois então, sobreveio a “abertura, lenta, gradual e segura”, e por consequência  dela a redemocratização consentida, sobrando espaços apenas para João Alves e Albano Franco, quando não havia mais polarização nem briga, mesmo porque ambos eram joias do regime que se exauria e se escafederia pelos fundos do Palácio do Planalto, sem dar espaços aos que no lombo sofreram o opróbrio de não herdar a democratização pela qual tantos lutavam.

E assim continuaria, creio eu, se ambos não se separassem, porque aí Lula ganhou no Planalto e Marcelo Dedaarrebanhou todos os restantes albanistas, os franquistas, de antiga cepa, que num mimetismo esperto tornaram-se os mais petistas fiéis, desde a infância!, não sobrando nada para aqueles que ousaram nos anos plúmbeos erguer palanques confrontando a ditadura.

Digo assim em relato tosco, porque Sergipe, antes Alvista e Franquista, por ausência pura e simples de sucessores, virou um feudo petista, por excelência, a partir da morte prematura de Marcelo Deda, que também não deixou legatários, embora muitos queiram se apoderar de sua memória, e do seu decantado espólio.

Como o que foi não é nada, do despojo disputado em bico e unhas, ninguém  poderá dizer por hora, que Sergipe  virou um bastião “bolsonarista”, essa nova bossa que parece galvanizar o país.

Uma bossa boçal, segundo vasto setor da intelligentsia nacional e paroquial, que, segundo alguns, firmou o boicote à cantora, que por aqui só queria vender seu canto e encanto, e a todos divertir!

Leio nos comentários alternativos que o boicote à muito bela ainda, Ivete, se deveu a uma sua preferência, dela cantora, de ter feito o “Ele”, ter votado em Lula, apoiando explicitamente, o hoje considerado pior gestor, execrado por mais de 50% do populacho nacional.

Uma realidade que sobrevive verdadeira, sendo discutível apenas, se tal percentual de desapreço não se faz bem pior a cada dia!

E nesse deprecio, quem manda misturar política com verve?

Nem com verve nem com nada que ao lúdico só desserve.

Quem lida com comércio, com venda de secos e molhados, no varejo, grosso e miúdo, e até no atacado, seja padre,  pastor, ou de qualquer serviço prestador, não pode dispersar cliente. Todos lhe devem ser benvindos. O mesmo valendo para um artista!

Um artista longe de se achar por missão articulista, não pode exibir opinião.

O articulista tudo pode, até perder leitores!

O articulista escreve para a sua bolha, ou na intenção de fustigar a borbulha que o cascabulha.

Algo que em outra bulha, poderemos dizer sobre as ideias, citando Walter Benjamin por Leandro Konder: “as ideias batendo boca em público como as rameiras”.

Não é o caso das artistas, e sobremodo dos cantores, afinal qualquer música soa bem cantada ao timbre distinto de cada um.

Mesmo que seja essa tolice de “macetar” a restar no que e no quem, sem explicar.

Inexplicável também é o proselitismo gerador da intolerância.

Inexplicável, digo mais, por nunca, jamais, tolerável, é a intolerância, dela sequente, por inerente ao humano.

Katharina Gulenmann, a mãe de Johannes Keppler, o astrônomo das orbitas elípticas, quase foi torrada na fogueira como bruxa na Alemanha Luteranna – Internet

Coisa que não é nova e vem muito antes do Cristo pregado na Cruz e da fogueira que assaria a mãe de Johannes Kepler, como bruxa na Luterana Alemanha, justo aquele genial astrônomo que concebeu em cônicas eliptudes as graves órbitas celestes!

O proselitismo intolerante não é, portanto, uma coisa nova; oriunda do “Bolsonarismo”, como muitos o querem agora, a tudo justificar, demonizando uma “direita xucra”, esse novo termo em novilíngua despencada, imposto ao cabide por nova moda.

Isso, porém, da “direita boazinha”, e daquela “mefistofélica”, por perniciosa, em pior picada anofelina que à Dengueou Maleita resistem, por nossos velhos males ainda, desde Oswaldo Cruz e o seu atropelo por Revolta da Vacina. A vacina sempre suscitando o terrapleno, matéria de comum aceno para novos dias!

Voltando à cantora repelida, sem vacina ou ingrediente farmacêutico ativo a enunciar, é um direito de cada um e até da artista de possuir o seu ideário. Trata-se de um direito dela, ao qual ninguém pode execrar, mas que a está ferroando como gado indesejado, essa coisa sempre comum às patrulhas ideológicas, sempre vis, por intolerantes, da qual padeceram Wilson Simonal, e a todos que foram enterrados no Cemitério dos Mortos-Vivos do Henfil, por gracejo e motejo do Pasquim.

Tal intolerância, todavia, não é nova. Dela sofreram o fascinante escritor Católico, Gustavo Corção e bem sofreria o “Reacionário Nelson Rodrigues”, se bem não fizesse excelentes limonadas dos limões a ele espremidos, criando personagens notáveis como “O Padre de Passeata”, “A Grã-fina com cara de cadáver”, “A Freira de Minissaia, e as múltiplas “Entrevistas nos terrenos baldios com uma cabra vadia”, todos reunidos do melhor de sua lavra.

Lavraturas outras sem gracejo, digam os que sofreram ao longo da vida por suas preferências políticas, religiosas e até clubísticas, aí incluídas as torcidas de pastoril e reisado, brandindo cordões e bandeiras, encarnadas ou anis, em irmandades reunidas e/ou desunidas, sempre doces por origem, e azedando mais das vezes, a ponto de se avinagrarem, vingativas e furiosas, formando correntes para caçar os seus concorrentes e/ou adversários, por opostos, quando o jogo deixava de ser “à brinca”, esportivo e inocente, e virava “à vera”, ou destinado a não vencer apenas, mas a extinguir e a fulminar o contendor adversário.

Nesse contexto, a história do mundo é farta desse proselitismo de onde derivam os mártires, nem sempre louvados como santos.

Como cada um no seu canto chora o seu pranto, comenta-se hoje como sendo um tempo terrível onde o ódio campeia nas “funestas redes sociais”, sendo estas responsabilizadas por esta desorganização que está ameaçando o futuro da nossa democracia.

Voltamos ao tempo de Galileu Galilei forçado a abdicar de sua Ciência? Será que dele saímos, quando um simples desagrado a tudo e a todos contamina?

O homem não é o mesmo se repetindo em erros e aplausos, tudo debaixo do Sol?

E assim eu me despeço, lembrando que hoje, quinta-feira 30 de Maio, é dia de Corpus Christi, dia santificado para louvarmos a Deus, com o Sacerdote exibindo em ostensório pelas ruas em procissão, o Corpo de Deus em forma de pão, perante quem nunca seremos suficientemente justos, nenhum dos viventes: “Ad Deum qui laetificat juventutem meam!”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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