Criatividade: uma competência instransferível

CRIATIVIDADE: UM PODEROSO ATIVO INTANGÍVEL E INSTRANSFERÍVEL (*)

A importância da criatividade começou a ficar mundialmente visível desde 2006, por ocasião da cerimônia de abertura do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, Suíça, quando o presidente do evento falou sobre a importância de desenvolver essa competência para se encontrar novas soluções para os problemas seculares que atingem a humanidade; o mesmo considerou que não haveria mais como resolver os problemas atuais do mundo tomando-se como referência acontecimentos do passado; portanto, seria preciso um novo olhar e que isso só poderia acontecer se fosse usada a competência criatividade. Esse discurso provocou com que a Comunidade Europeia se mobilizasse para em seguida denominar o ano de 2009 como Ano da Criatividade e da Inovação e 35 países europeus se juntassem para discutir e disseminar esse conceito na Europa. E, a partir dai, pode-se afirmar que o real conceito sobre criatividade começou a ficar muito mais conhecido em todo o mundo. Esse foi o ponto bom desse processo; todavia, vários conceitos foram disseminados, desde o de que a criatividade era importante só para as artes, como aquele que a criatividade servia para tudo e a palavra criatividade passou a ficar associada a tudo: escola criativa, desenho criativo, comida criativa, aula criativa e por ai foi. Por esse motivo, a verdadeira definição do que seja criatividade tomou várias formas.
A matemática Dra. Ruth Noeler, pesquisadora da Creative Education Foundation- CEF/USA (www.creativeeducationfoundation.org), mundialmente famosa por trabalhar com educação criativa, sempre questionada por grandes empresas clientes da instituição, propôs uma fórmula para ajudar no entendimento do que seja a criatividade:

C = fat(Cn x I x Av), onde:
f at= função de atitudinal; Cn = Conhecimento; I = Ideias; e Av = Avaliação.

Assim sendo, de nada adianta se ter bastante conhecimento, ideias e capacidade de avaliação se as atitudes mobilizadoras para o processo criativo não estiverem ativadas. Essa atitudes mobilizadoras são justamente aquelas que fazem com que o indivíduo se mobilize, participe, intervenha nos mais diferentes processos e cenários da sua vida. São elas que nos fazem desafiar a vida, e quando imbuídos delas nos sentimos vivos e com a nossa vida em contínua expansão. Embora em número bastante reduzido, poderemos dizer que são fortes o bastante para eliminar ou pelo menos atenuar a força das dezenas de atitudes desmobilizadoras, portanto são: 1º – Ter confiança em si próprio; 2º – Prontidão para Agir e 3º – Adiar o Julgamento.
As constantes transformações porque passa o mundo atual com o avanço da tecnologia, internet, dentre outras coisas tem provocado mudanças profundas favorecendo que se estabeleçam novas dinâmicas de relacionamentos, negociação, trocas de experiências e conhecimento. Por outro lado, não é mais possível se fazer como foi feito por muito tempo até alguns anos atrás olhar para os acontecimentos do passado e buscar soluções para o presente.
Por conta disto, é preciso se estar inovando continuamente em todos os cenários, tais como cultura, educação, tecnologia, negócios e, para isso acontecer é preciso que a criatividade inerente a todo ser humano e que foi “escondida” face aos modelos educacionais arcaicos e seculares, seja resgatada e desenvolvida, pois a mesma é a parte inicial do processo que culmina com a inovação.
E no mundo globalizado – tecnologia e conhecimento – que foram aspectos fundamentais para o desenvolvimento não o são mais, pois, podem ser facilmente transferidos; todavia, a criatividade humana que é uma competência essencial não pode ser transferida de pessoa para pessoa, nem de um país para outro, nem de um projeto para outro.
No Brasil falamos muito sobre inovação, mas de um modo geral percebemos que a criatividade não é muito levada em consideração, seja porque acreditamos que somos muito criativos por sermos brasileiros, seja porque ainda não entendemos muito bem o que seja criatividade. Pela minha experiência em trabalhar com criatividade empresas percebo que há ainda um entendimento que criatividade é necessária “apenas” para aqueles que se dedicam às artes; portanto não há ainda o entendimento da conexão violenta entre criatividade e inovação.
Analisando o cenário brasileiro, constata-se, pelos mais diferentes meios de comunicação, que muitos milhões de reais são investidos – anualmente – em projetos sobre inovação em vários campos e cenários, mas, os resultados verdadeiros desse investimento ainda são fracos.
Isso pode ser comprovado, por indicadores internacionais como é o caso do relatório Global Innovation Index – 2012 (GII-2012), elaborado anualmente pela INSEAD , o qual analisa o estado da arte da inovação em 141 países do mundo e aponta que o Brasil encontra-se na 58º posição.  Esse relatório bastante considerado em todo o mundo avalia como anda a inovação segundo dois cenários: Innovation Input e Innovation Output. No primeiro caso são considerados cinco indicadores: (1) Instituições, (2) Capital Humano e Pesquisa, (3) Infraestrutura, (4) Sofisticação de Mercado e (5) Sofisticação dos Negócios; no segundo caso são dois indicadores: 1º – Produção em Conhecimento e Tecnologia e 2º – Resultados Criativos (Creative Outputs).

A partir do que foi exposto anteriormente porque o debate sobre a criatividade se faz importante para o mundo atual?

1º – Por que a criatividade humana é um talento que não pode ser transferido seja para pessoas, seja para economias em grande escala;
2º – Por que a criatividade ao ser considerada uma competência fundamental para a economia e não uma competência marginalizada poderá ajudar a motivar, reconhecer e fundamentar novos modelos de negócios e processos organizacionais;
3º – Se trouxermos essa discussão para o Brasil poderemos afirmar que o conhecimento sobre criatividade como uma competência fundamental ainda não está consolidado e, de uma maneira geral, busca-se a inovação sem antes preparar a cultura da instituição, empresa, comunidade ou território para o pensamento criativo (etapa inicial do processo criativo cujo resultado final será a inovação).
4º – Num mundo em constante transformação a criatividade vem sendo encarada como uma competência que ajuda a regenerar cidades e territórios através dos resultados que vêm sendo obtidos com a Economia Criativa favorecendo não só a revitalização da economia local, como a inclusão social, aumento da renda média das pessoas e causando grandes impactos positivos na sociedade. Portanto, a criatividade se tornou uma força propulsora do crescimento econômico e essa transformação baseia-se na inteligência humana, conhecimento e criatividade e faz uso de novas matérias primas que englobam a informação, propriedade industrial, capital criativo e capital intelectual humano como elementos essenciais para a sobrevivência e crescimento econômico na era da concorrência global.
5º – A criatividade ao ser entendida como a capacidade de produção que se manifesta pela originalidade inventiva e inovadora e a habilidade de ver o mesmo que toda gente, mas pensar de forma diferente.
6º – Embora a criatividade sempre tenha sido considerada uma competência fundamental para os avanços tecnológicos e os descobrimentos, atualmente, a convergência de muitos fatos importantes no planeta fizeram com que a criatividade se tornasse um ativo econômico diferencial.
7º – Como as indústrias criativas, a economia criativa e as cidades criativas são três abordagens consideradas complementares uma vez que se incorpora a criatividade com catalizadora de inovações, compreendidas no sentido amplo é necessário, por esse motivo manter-se em aberto um constante diálogo sobre o que seja criatividade, os seus “inputs” e “outputs” e, principalmente, que é uma competência inerente a todo ser humano que pode ser desenvolvida em qualquer pessoa e não apenas nos chamados “gênios criativos”.
8º – Finalizando, vale considerar então que a criatividade é fundamental não apenas para os setores ligados a intelectualidade, ciência e arte, mas sim em toda e economia e em todos os setores; dai a ideia de uma classe “criativa” perde o seu efeito, pois entendemos que todas as pessoas são criativas e a criatividade humana pode ser resgatada e desenvolvida. Dai se justifica a necessidade de se discutir intensamente a sua importância no e para o mundo contemporâneo.

(*) Fernando Viana
www.fbcriativo.org.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais