CUIDADO, A INDIFERENÇA CONTAMINA

Estacionei o meu carro próximo a um ponto de táxi, onde vários senhores, sob a sombra de uma frondosa árvore, conversavam e assistiam a um programa numa televisão portátil.

Quando saí do carro, todos olharam em minha direção, o que me estimulou, naturalmente, a dirigir-lhes um sonoro “boa-tarde”.

Não obtive uma resposta sequer. Continuaram olhando em minha direção, porém, nenhum deles se dignou a responder, meneando a cabeça ou levantando o dedão. Nada. Apenas silêncio e uma enigmática e inexplicável “encarada”. Senti-me um bobo, falando com uma porta.

Não sei se já ocorreu o mesmo com você, mas que é uma coisa estranha, é. Tem-se a sensação de que algo está se perdendo, de que alguém está diminuindo a gente. O incrível é que é um tipo de comportamento que contamina. Eram seis e não somente uma pessoas olhando para outra que, mesmo não conhecendo nem privando da amizade, tentou se comunicar, coisa tão natural entre os normais.

Se eu tivesse passado por eles sem cumprimentá-los, poderia ser naturalmente tachado de orgulhoso, imagino. Porém, mesmo tentando estabelecer um contato, recebi em troca olhares de indiferença.

Mas, não são profissionais que lidam com o público? Não se espera deles, portanto, um relacionamento amistoso, educado, recíproco? Ou isso é bobagem? Para lidar com clientes, não se faz necessário um pouco de amabilidade, boa educação, boas maneiras, gentileza?

Fico pensando o porquê de tanta indiferença. Será que, se eu estivesse em busca de táxi, alguém teria respondido ao meu “boa-tarde?” Ah, com certeza, eu seria uma pessoa interessante, quer dizer, que representava algum interesse. Mas como estava claro que não seria um cliente, para eles, imagino. Simplesmente como ser humano, nada significava.  Não havia ali nenhum interesse.

Em outras palavras, se naquele momento eu não significava uma corrida, ou seja, eu não representava nenhuma perspectiva de lucro, não era nada e, por isso, não merecia sequer um “boa-tarde” em resposta. Nem um sorriso, nem um aceno de cabeça, nem um dedão levantado, nada. Um carregado e indiferente silêncio foi o que consegui daquelas seis pessoas…

É lamentável. Nada mais mesquinho do que negar ao semelhante uma palavra, uma resposta, uma saudação. Mas, infelizmente, nós sabemos que isso não acontece somente com determinados profissionais, classes ou pessoas, ao que parece, sentem-se diminuídas ao responder outra.

Procuremos, por exemplo, numa repartição pública. Com louváveis exceções, ocorre o mesmo. A maioria, ainda, nos trata com a mesma indiferença que me dispensaram aqueles seis senhores.

Atenção! Não estou falando mal daqueles profissionais e nem dos funcionários públicos. Fiz a ressalva das louváveis exceções, pois tenho consciência de que a grande maioria, aqueles inclusive, que me trataram com tanta frieza, são antes vítimas e pessoas sérias, que estão ganhando o seu sustento e de suas famílias, trabalhando honestamente.

Estou falando com muito conhecimento de causa, pois, durante muito tempo da minha vida, eu também exerci estas duas profissões: fui taxista e funcionário público e sei o valor que tem estas duas nobres profissões.

Estou chamando a atenção para um fenômeno. Por que as pessoas evitam umas as outras? Por que olham ou tratam aos outros com tanta indiferença? Por que estamos perdendo os nossos bons modos, a nossa educação, a nossa sensibilidade, a nossa gentileza a nossa cortesia?

Repeti, de propósito, o pronome possessivo “nosso”, para reforçar a idéia reinante e verdadeira de que nós nordestinos somos comunicativos, alegres, educados, corteses e gentis. Ninguém deve se sentir diminuído por saudar ou por responder a uma saudação.

Ninguém fica menor pelo fato de cumprimentar ou corresponder educadamente a quem lhe dirige uma boa-tarde. É, antes, imagina-se, um gesto de boa educação, de satisfação de valorização pessoal, não importando de quem venha.

Pretendo apenas chamar a atenção para a banalização do comportamento entre os seres humanos, em detrimento da nossa saudável convivência.

Preocupa-me quando isso acontece aqui entre nós brasilianos, sobretudo nordestinos, que temos, repito, como uma das melhores características a extroversão, a alegria do encontro, a felicidade do relacionar-se.

Será que estamos, sem perceber, perdendo esta característica tão salutar? Exatamente agora, momento em que o mundo clama por harmonia, por paz entre os homens, por tolerância e por amor?

Fica a reflexão. Somos responsáveis pela nossa parte. Vamos desarmar os espíritos! Vamos nos dar as mãos, vamos nos cumprimentar, nos relacionar, nos doar mais.

Vamos seguir a filosofia daquele que há dois mil anos aconselhou exatamente a paz e a harmonia entre os homens. Vamos pensar nisso? Boa semana para todos!

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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