Arrumando a casa

Por mais que muitas pessoas afirmem que é ruim romantizar o cansaço, o nosso botão automático de querer mostrar ao mundo o quanto somos capazes parece que vive ligado o tempo inteiro. Todo final de ano é a mesma coisa, o cansaço é coletivo, mas os grupos se dividem nas ações. Um grupo faz balanço de suas atividades, metas cumpridas, outro grupo fala sobre os desejos e metas para os próximos 365 dias, outro grupo agradece por estar vivo, já que o ano foi muito difícil, e assim seguimos com os nossos anseios, lamentos e retrospectivas.

Uma coisa que aprendi com o passar dos anos é que toda semana precisamos arrumar a nossa casa, não somente quando o ano vira, mas sempre. É preciso limpar cotidianamente toda a sujeira, mesmo que em algumas semanas ela pareça imperceptível aos nossos olhos, acredite, ela está ali. É preciso usufruir de todos os cômodos, utilizar seus objetos, remanejar espaços, repensar consumo, e, principalmente, evitar acúmulos. Assim, nossa casa se manterá sempre arrumada, em harmonia com o que desejamos para a nossa mente, ou seja, pensamentos coerentes, sanidade e higiene mental, creio eu.

Com isso, aprendemos a administrar melhor o silêncio, as pausas, os limites, o cansaço, entendendo o fim de ciclos e início de outros, mesmo que para o mundo, o fim de um ciclo possa parecer um caos. Arrumar a casa é também fechar algumas portas temporariamente ou não, para poder abrir janelas e ver a vida do outro lado. É entender que há momentos de receber muita gente, e também há momentos de recuar, de se deliciar com a solitude de nossos próprios pensamentos e companhia, pois somente a solidão nos mostra a verdadeira delícia e dor de sermos quem somos.

Arrumar a casa requer cautela, às vezes podemos nos ferir, nos queimar, sobretudo quando se tem pressa e desordem em mente, quando não conseguimos ouvir o compasso desacelerado que a vida pede quando a mente resolve fervilhar. É necessário parar, respirar, analisar por onde começar. Às vezes, só arrumar nem basta, o que queremos é nos mudar, começar tudo de novo, do zero, se é que se inicia algo do zero quando já se tem uma vida inteira de casas montadas, desmontadas e reviradas.

No momento, minha casa está de portas fechadas, é hora de reordenar os cômodos e tirar tudo aquilo que um dia serviu, mas que já não serve mais. Algumas coisas estão indo direto ao lixo, sem direito à reciclagem, outras, certamente servirão a outras pessoas. Assim que estiver tudo no lugar, abrirei as portas para receber visitas, mostrar a casa arrumada, e quebrar o silêncio com a verborragia consciente que aprendi a desenvolver ao longo dos anos. Até lá, sugiro que também arrume a casa de vocês, afinal, são novos tempos, aliás, são sempre novos tempos, por isso, aproveite!

Um feliz e próspero 2023 a vocês! Axé!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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