Doença de Crohn parte I

Aquilo que se faz por Amor está sempre além do bem e do mal ( Friedrich Nietzsche )

A doença de Crohn foi descrita pela primeira vez em 1932 pelo Dr. Burril B. Crohn, da cidade de Nova York, como uma inflamação no intestino delgado, que é crônica e deixa cicatrizes na parede intestinal, no entanto sabe-se que é  uma doença crónica inflamatória intestinal,e que atinge geralmente o íleo e o cólon (mas pode atingir qualquer parte do trato gastrointestinal), sendo que a maior parte das lesões são causadas por células imunológicas que atacam uma ou mais partes dos tecidos do tubo digestivo, mas não há certeza de etiologia autoimune, sendo que seus  sintomas e o seu tratamentos dependem como sempre na medicina, do paciente, sendo muito  comum haver dor abdominal, diarreia, perda de peso e febre, infelizmente no momento não há cura ,mas graças a Deus existe tratamentos que permitem alívio dos sintomas e melhoria de qualidade de vida.

É muito importante referis que Ela  é uma das principais doenças inflamatórias intestinais, sendo a outra a colite ulcerosa, que difere em vários detalhes,no entanto muitos médicos  acreditam que a doença de Crohn e a Colite ulcerosa são duas manifestações extremas de um mesma patologia intestinal subjacente

Apesar do processo inflamatório poder ocorrer em qualquer porção intestinal, o segmento terminal do intestino delgado (íleo) é preferencialmente afetado,ela  pode manifestar-se em qualquer idade, mesmo em crianças, mas com certa frequência podem surgir os primeiros sintomas no adulto jovem.

Crianças com doença de Crohn devem ser tratadas de maneira resoluta e imediata, por que se o problema não for diagnosticado precocemente, a doença inflamatória quando não tratada pode evoluir com  desordens no crescimento, atraso na puberdade e baixo desempenho escolar.

Em princípio, virtualmente todo o trato digestivo pode ser afetado no mal de Crohn, ocorrendo uma variação entre os segmentos intestinais inflamados, o que se observa é que em muitos casos, segmentos sadios intestinais encontram-se intercalados com os afetados.

A inflamação ocorre em todos os compartimentos da parede intestinal: na mucosa, nos músculos longitudinais e transversais da parede e no tecido conjuntivo abaixo da mucosa intestinal, esse  processo inflamatório provoca alterações nestas estruturas, inclusive nas glândulas intestinais, de tal forma que o intestino vai gradualmente perdendo sua função digestiva.

A absorção dos nutrientes supridos pela alimentação e as secreções intestinais necessárias ao processo digestivo passam a ser danificadas, essa  inflamação resulta em cicatrizes e um certo espessamento nos segmentos afetados do intestino, tornando a luz intestinal mais estreita e impedindo o transporte do bolo alimentar de forma eficaz.

Quadro clínico

Os sintomas podem ser totalmente aleatórios, como por exemplo,dores estomacais inexplicáveis e diarreia podem ser os primeiros sintomas referidos, entretanto, um súbito ataque com uma aguda e severa dor na “boca do estômago” é também possível, além disso pode ocorrer uma dor, que lembra uma câimbra, e diarreias ocorrem na maior parte das pessoas afetadas pela doença, diversos indivíduos também podem apresentar febre de aparecimento irregular, além de queixas de  perda de peso e do apetite.

Sintomas inexplicáveis que frequentemente ocorrem no ataque da doença não indicam diretamente a doença de Crohn e podem passar até mesmo anos para que o médico encontre o diagnóstico correto, em geral podemos encontrar evidências de inflamação crônica do intestino em laboratório de patologia, através de biópsia e pela identificação de sinais de inflamação não específica.

É importante salientar que o ataque simultâneo de dor abdominal, diarreia e febre, com sintomas em articulações, inflamação na pele ou inflamação recorrente nos olhos também podem ser sinais de Crohn, assim como a presença de fístulas anais, e sabe-se que o curso da doença é contínuo, porém pode ser intermitente, sendo interrompida por intervalos mais ou menos longos de pouca ou nenhuma sintomatologia.

Epidemiologia

É uma doença extremamente democrática,  existe no mundo todo, porem com grandes variações regionais de prevalência, Ela é mais comum em caucasianos, sendo mais frequente na Inglaterra, EUA e países escandinavos, sendo que nos EUA, é mais comum nos judeus do que nos não-judeus. Pode ocorrer em qualquer idade,no entanto é mais  prevalente de 20 a 40 anos e ligeiramente mais comum no sexo feminino.

Alguns estudos epidemiológicos mostram aumento de sua incidência nos últimos anos, o que não pode ser atribuído apenas ao aprimoramento dos meios de diagnóstico, mas talvez ao aumento da incidência de casamentos inter-familiares, a sua prevalência nos EUA é de 7 casos por 100.000 indivíduos, na Europa, na África do Sul e na Austrália a prevalência encontra-se em torno de 0,9-3,1 casos por 100.000 indivíduos, e na América do Sul e na Ásia a prevalência encontra-se em torno de 0,5-0,8 casos por 100.000 indivíduos.

Causa

A causa dessa doença ainda não é reconhecida oficialmente,porém acredita-se  que seja resultado de hiperatividade intestinal do sistema imunitário digestivo por ação de fatores ambientais com tendência genética, inclusive pode ter relação com uma doença reumática  a Espondilite anquilosante.

Julga-se que esse fator ambiental pode ser  um vírus ou bactéria que iria desencadear uma reação inflamatória descontrolada e inapropriada nas paredes do intestino, que se torna depois independente do seu agente inicial.

Trata-se de uma patologia clinica que em geral  cursa com formação de granulomas, uma forma de defesa especifica do sistema imunitário contra algumas bactérias intracelulares ou fungos, existe uma idéia de alguns médicos de que seria desencadeada por um microorganismo o Mycobacterium avium-complexo, no entanto vale a pena  frisar que apesar de possivelmente desencadeada por um agente infeccioso, a doença é devida a uma desregulação das defesas do próprio indivíduo devido a fatores genéticos,  não sendo, portanto causado pelo microorganismo isoladamrnte,ou seja em individuos sem essa susceptibilidade, esse microorganismo nunca causa a doença.

Existem alguns estudos sobre  uma possível relação entre a doença e fatores de fundo psicológico (já que o indivíduo possui o problema, mas pode manifestá-lo ou não).

Alterações não intestinais

Nos últimos anos descobriu-se que a Doença de Crohn não era exclusiva do intestino,em uma alta percentagem de casos, outros órgão apresentam sintomatologia da doença, em geral são  sintomas que não são relatados ao médico; por esta razão os indivíduos portadores da doença devem estar atentos a alterações em sua pele, articulações e olhos, para que o seu relato alerte o médico sobre as possíveis conexões com a doença inflamatória intestinal.

Podem ocorrer alterações no pâncreas, órgão que secreta as enzimas digestivas,outros indivíduos podem  desenvolver distúrbios do trato respiratório, no sistema nervoso e nos rins,significando que diversos órgãos podem estar envolvidos no curso da doença, é muito importante salientar que  na maioria dos casos, poucos sintomas tornam-se predominantes, tornando mais difícil o correto diagnóstico da doença crônica inflamatória intestinal.

Observações clínicas apoiaram o pressuposto de que os vários distúrbios apresentados têm uma causa comum, mas que esta causa é encontrada na doença intestinal, sendo, isso sim, um distúrbio do sistema imunológico.

Os médicos concluíram que os achados secundários mais comuns em vários órgãos, podem ser o resultado do distúrbio envolvendo o sistema imunológico, o psiquê dos pacientes e o próprio tratamento medicamentoso.

Imunologia e doença de Crohn

A ciência ainda não sabe qual a exata razão pela qual algumas pessoas desenvolvem o mal de Crohn. Entretanto, existe uma evidência crescente de que a predisposição genética, fatores ambientais e o sistema imunológico possam estar envolvidos.

O aparelho digestivo possui uma superfície de contato muito grande, de aproximadamente 250m2, e é uma área extremamente  importante para absorção dos alimentos e água ingeridos, por  causa deste contato com substâncias exógenas, o trato digestivo possui um grande número de células do sistema imunológico que, dentre outras funções, defendem nosso organismo da invasão de substâncias estranhas que acompanham os alimentos.

A barreira imunológica mais importante no intestino, é representada por um tipo de imunoglobina, a lg A, que possui funções diferentes da lg G encontrada no sangue.

Vários estudos têm demostrado que na doença inflamatória intestinal ativa crônica, a proporção entre lg A e lg G, muda a favor dessa última, na parede intestinal. Enquanto a lg A normalmente mantém antígenos distante das paredes do intestino, a lg G não possui esta capacidade, permitindo a ligação de antígenos ao tecido intestinal, podendo contribuir para a inflamação intestinal.

Além disso, a lg G, combinada com antígenos e anticorpos, forma “complexos imunes” que podem ser transportados a outros órgão do corpo causando processos inflamatório distantes do intestino.

Alterações no sistema nervoso

Alterações circulatórias e pequenas oclusões vasculares no sistema nervoso são extremamente freqüentes nessa doença,os efeito da perda de grande volume de líquidos e eletrólitos ocasionada pela diarreia podem afetar o fluxo sanguíneo.

Também é possível que o sistema nervoso desses indivíduos possa ser afetado pela carência de vitamina B, pelo fato de sua absorção intestinal ser insuficiente durante o ataque da doença inflamatória.

Além disso no caso de  pacientes que foram submetidos a cirurgia para a remoção de parte do intestino, a absorção de outras vitaminas como A, E, D e K também poderá vir a ser afetada.

Polineuropatia tem sido observada em pacientes com a doença de Crohn, reduzindo a sensibilidade da região nervosa afetada, podendo causar dor e atividade reflexa reduzida.

Caso um tratamento a longo prazo com metronidazol (antibiótico) seja necessário por causa da intensidade do Crohn, distúrbios nervoso podem ocorrer, por que este farmaco liga-se a vitamina B e, deste modo, polineuropatias podem ocorrer, com dores nas mãos e pés com perda de reflexos musculares, é lógico que os  sintomas normalmente são reduzidos com a descontinuidade da medicação.

Alterações osteo-articulares 

Reumatismo e doença de Crohn podem ter efeito recíproco: a inflamação reumática nas articulações pode acompanhar a doença; por outro lado, a administração de medicações anti-reumáticas pode exacerbar esse problema clinico, o que torna extremamente importante o trabalho médico interdisciplinar.

Há uma sugestão de que exista um distúrbio do sistema imunológico correlacionado com essa inflamação reumática.

Segundo alguns pesquisadores, a permeabilidade intestinal a compostos antigênicos estaria aumentada na doença de Crohn, e estes complexos imunológicos causariam dor nas grandes articulações dos braços e das pernas, assim como da parte baixa da coluna vertebral,ocorrendo em cerca de  25% dos pacientes, sendo descritas como artite, podendo envolver tendões e cartilagens neste processo doloroso.

A conexão estreita entre intestino e inflamação das articulações torna-se clara durante o tratamento, por que quando ocorre uma melhora nos sintomas reumáticos freqüentemente segue-se em paralelo o sucesso do tratamento e melhoria da atividade inflamatória intestinal.

Alterações oftalmológicas 

Podemos encontrar inflamações no olhos em um grande número de pacientes portadores da doença de Crohn, sendo que as mais  comuns são conjuntivite, inflamação parcial ou completa da esclerótica (parte branca globo ocular), inflamação da Íris, inflamação da membrana intermediária do globo ocular e inflamação da retina.

Observamos que no caso da inflamação da esclerótica ou da Íris,quando associada a doença, ela pode surgir acompanhada ou não um ataque agudo da doença, o seu tratamentos geralmente inclui colírios a base de cortizona e a correção da doença inflamatória intestinal.

Esses  distúrbios oculares,provavelmente são causados por uma reação tipo antígeno – anticorpo; é muito importante, tanto para o paciente quanto para o médico, considerar a possibilidade do envolvimento ocular na doença de Crohn, assim os primeiros sintomas surjam,ocorrendo uma ação profilática para evitar um problema oftálmico mais sério.

Distúrbios cutâneos

Mudanças na pele e na mucosa ocorrem em ao redor de 40% dos pacientes com Crohn,podem surgir lesões avermelhadas dolorosas, que em muitos casos são observadas antes das manifestações intestinais da doença, podendo ser importantes indicações da doença,  podendo surgir na mucosa bucal ou na região anal.

Os dermatologistas chamam estas alterações de inflamações granulomatosas em função de características das células do sistema imunológico presentes nesses locais, pois  são particularmente comuns ao redor de fístulas e em locais onde ocorra fricção cutânea, como mamas e virilha, não tendo conexão direta com o trato intestinal, e podem ocorrer nos lábios e na bochecha, com dores muito fortes nas bordas da língua.

Muitas das alterações epidérmicas parecem estar associadas com a perda ou a reduzida absorção de vitaminas e de oligoelementos, que ocorrem em função da diarréia, que causa perda de sangue e fluidos, no caso da  inflamação da língua (glossite),ela pode ser resultante de um quadro anêmico.

Transtornos semelhantes ao eczema na região bucal são atribuídos à carência de zinco, que é um importante oligoelemento para a defesa endógena, a sua  deficiência  também ocasiona atraso no processo de cura, além disso quando a função de defesa da pele é danificada pode ocorrer uma invasão por fungos (monília).

O fígado, a vesícula biliar e o pâncreas

Raramente podem ocorrer o envolvimento tanto o fígado quanto a vesícula , e que é  evidenciado em laboratório pelo nível elevado de enzimas hepáticas no sangue.

Proliferações celulares nodulares conhecidas como granulomas também podem se desenvolver no tecido hepático, do mesmo modo como são evidenciadas na mucosa intestinal.

Em casos muito raros, os anticorpos presentes podem reagir com a superfície dos ductos biliares, causando uma inflamação não especifica dos ductos(colangite), podendo ocasionar uma  constrição como resultado dessa inflamação, o que pode reter a  a bile e produzir pedras na vesícula, e em decorrência, o sintoma de cólica da vesícula biliar pode aparecer..

Problemas com o pâncreas são raros mas também podem ocorrer, além disso alguns medicamentos utilizados para tratar a doença de Crohn (sulfasalazina, mesalazina)podem desencadear uma inflamação pancreática(pancreatite), não esquecendo que a a pancreatite aguda pode ser produzida pela própria inflamação intestinal.O motivo disso é que a doença de Crohn pode provocar mudanças no duodeno; com o pâncreas produz importantes enzimas digestivas, que são secretadas para o seu interior através de um ducto muito pequeno, se este ducto estiver inflamado ou bloqueado, as secreções digestivas poderão congestionar o pâncreas.

As alterações nas enzimas digestivas são observadas em alguns pacientes com Crohn e são atribuídas a distúrbios digestivos do intestino inflamado ou mesmo aos efeitos no sistema imunológico.

Um boa e saudável Semana……

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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