Laranjeiras (SE) – Popular, histórica e cultural

Vista do alto do Bom Jesus com Quarteirão dos Trapiches abaixo

Em temporada de festa de Lambe-sujo e Caboclinhos, considerada uma das maiores manifestações folclóricas do país, cultura e história se misturam neste domingo próximo (14) na cidade de Laranjeiras (SE), situada a 18 km de Aracaju. Conhecida por seus grupos populares e prédios históricos do século XVII, Laranjeiras é um convite ao passeio no tempo e resguarda parte da época colonial açucareira de Sergipe. Considerada Berço da Cultura Popular, intitulada de Atenas Sergipana por suas colinas com pitorescas igrejas ao topo, cidade dos terreiros de candomblé, da firmação dos jesuítas em Sergipe e área de pesquisas de cavernas, o município resguarda tradições seculares, que se evidenciam na comunidade negra local e nos seus costumes.

Calcadão de pedra secular documenta um conjunto arquitetônico dos tempos aéreos do ciclo co açúcar em Sergipe

Para começar o tour pela cidade sergipana, inicie na região central. O calçadão secular de pedras em meio aos trapiches e prédios históricos formam um conjunto arquitetônico que remontam ao período áureo dos engenhos em Sergipe.

Ruas, casarios, igrejas, tudo respira a época do Brasil colônia. A cidade já foi uma das mais importantes de Sergipe, berço da educação, política e da economia. Conta os historiadores que o município só não se tornou a capital de Sergipe por conta de uma manobra política do Barão de Maruim, que transferiu a sede de São Cristóvão para Aracaju. As terras pertenciam a Freguesia de Socorro e naquela região foi construído um pequeno porto às margens do Cotinguiba, que ficou conhecido como Porto das Laranjeiras, onde escoava parte da produção da alvissareira região do Vale do Contiguiba.

Quarteirão dos Trapiches

A movimentação pelo rio era intensa e, logo, o porto passou a ser parada obrigatória. Em torno dele, o comércio ganhava espaço, principalmente, a troca de escravos. Mas a partir de 1637, o pequeno povoado do Porto das Laranjeiras também sofreu com os ataques e depois com o domínio holandês, deixando traços bastante expressivos no município. Muitas casas foram destruídas, mas o porto, um ponto estratégico, foi preservado.

Ao andar pela cidadezinha com cerca de 29.567 mil habitantes (dados estimados pelo IBGE 2018), os vestígios dos séculos XVII, XVIII e XIX são latentes, como o Quarteirão dos Trapiches, os prédios do Museu de Arte Sacra, Museu Afro, Casa de Cultura João Ribeiro, Escola Zizinha Guimarães, Teatro Santo Antônio, Teatro São Pedro, o Mercado Municipal e a Ponte Nova, todos atrações turísticas da cidade.

Igreja de Comadaroba é símbolo da presença dos jesuítas em Sergipe

O Quarteirão dos Trapiches desenha um traçado do século XIX e é composto por sete edificações: Trapiche Santo Antônio, Antiga Exatoria, Sobrado 117, Casarão 159, ruínas ao lado do Casarão 159 e ruínas em frente ao mercado. Trata-se do mais importante conjunto arquitetônico do sítio histórico urbano de Laranjeiras e hoje um deles foi reformado preservando as ruínas.

O regime escravocrata também deixou marcas na construção populacional e cultural de Laranjeiras, e caminhando por suas ruas, percebem-se traços da miscigenação, além das manifestações culturais e folguedos da região, como o Caboclinho, o Lambe-sujo, Reisado, Taieira, São Gonçalo, Cacumbi e o Samba de Pareia, acostumados a animar festas e feiras, entre elas, o Encontro Cultural de Laranjeiras, que acontece no mês de janeiro, evento que em 2018 completou 43 anos de festividade.

Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus é uma das únicas

Templos religiosos – São mais de 30 templos na região e lá estão a primeira igreja evangélica de Sergipe e o primeiro terreiro de candomblé, considerado de Matriz, já que muitos outros se originou dele: os Filhos de Obá, de origem Nagó e que é tombado pelo Governo de Sergipe, por manter a religiosidade e tradições afro no Brasil.

O primeiro museu dedicado a cultura afro do país também está em Laranjeiras. O acervo percorre a religiosidade, os açoites sofridos pelos escravos, a economia, entre outros bens materiais e imateriais.

As igrejas católicas são outras atrações do município, muitas delas distantes da sede, mas que vale a pena a visita por seu contexto histórico e cultural. São mais de 12 igrejas, duas delas catalogadas como contribuição dos jesuítas para a região. São elas: do Retiro (1701); de Nossa Senhora da Conceição da Comandaroba (1734); de Nossa Senhora da Conceição dos Pardos (1843); a Igreja Presbiteriana de Sergipe (1884); a Igreja do Bonfim; Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus (1791); a capela de Sant’Aninha (1875); Igreja Bom Jesus dos Navegantes (1905); Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário; Igreja Jesus, Maria e José (1769).

Altar-mor da Igreja Matriz  em adoração ao Sagrado Coração de Jesus

As igrejas do Sagrado Coração de Jesus e de Bom Jesus dos Navegantes localizam-se em pontos privilegiados da cidade, que reverenciam também, além da arquitetura e de seus altares, a vista panorâmica da cidade.

A Igreja de Bom Jesus dos Navegantes fica no topo de um morro e vê-se toda a cidade cortada pelo rio Cotinguiba. Ao descer e caminhar pela cidade, outras igrejas vão se revelando ao visitante. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Comandaroba é símbolo de Laranjeiras e está entre as mais visitadas por seus mitos e histórias.

Construção única envolvendo peças com detalhes de animais  na igreja de Comandaroba

Outra opção é entrar na antiga casa da Praça Heráclito Diniz Gonçalves, onde hoje funciona o Museu de Arte Sacra, com imagens de santos e seus nomes. Há ainda a Casa de Cultura João Ribeiro, em homenagem ao escritor e poeta sergipano e outras casas históricas que se pode conhecer durante uma caminhada.

Igreja de Bom Jesus fica em uma das colinas

Fora do centro da cidade, há algumas atrações naturais como a Gruta da Pedra Furada, cercada de história de fuga de escravos, e a gruta Matriana. Pesquisadores tem feitos estudos na região e apontam que o município é entrecortado por cavernas, mas enquanto os estudos não se concretizam, o patrimônio histórico e cultural são realidades que podem ser conferidos durante todo o ano, principalmente em temporada de festejos juninos.

Museu comunitário Filhos de Obá

Dica de viagem

Como a cidade é pequena, o ideal é percorrê-la a pé aproveitando as paisagens e a simpatia dos moradores da cidade. Verifique o horário dos museus e das igrejas na página oficial da Prefeitura da Cidade, pois pode encontrar os prédios históricos fechados.

Há poucas opções de estadia em Laranjeiras. Muitos conhecem Laranjeiras no sistema de bate e volta partindo de Aracaju. O Hotel Fazenda Boa Luz fica mais próximo da cidade, no trevo de acesso a cidade de Itabaiana.

Se quiser conhecer a festa dos Lambe-sujos e Caboclinhos com conforte e segurança, consulte a empresa Vento Leve, através do telefone 55 79 9999-2300. Há poucas vagas disponíveis.

Caso vá de transporte particular, partindo de Aracaju, pega-se BR 101 no sentido Maceió. Não tem errada, a BR passa por duplicação e está em obras, porém, continua bem sinalizada e há uma placa informado o trevo de acesso à cidade.

Gastroterapia

Peixe ao molho do camarão do Chiozinho na Mussuca

O povoado Mussuca, a poucos 2km da sede municipal, é uma boa pedida para quem quer completar a busca pelas mais autênticas tradições que envolvem negros, índios e europeus. Lá moram muitos dos brincantes dos grupos folclóricos e é remanescente de quilombo. Partindo da cidade no sentido BR 101, contorne a bifurcação como se fosse para Alagoas, no sentindo BR 101 – Norte e há uma placa a direita de acesso ao povoado Mussuca. Siga direto pelo povoado e percorra até a segunda unidade de saúde quando deve-se seguir para a esquerda até chegar ao Restaurante do Chiozinho, intitulado o Rei do Pirão.

Chiozinho se intitula o Rei dos Caldinhos e não é por menos

O restaurante fica em um sitio agradável, simples, mas com uma comidinha de satisfazer os mais exigentes paladares. A especialidade da casa são os ensopados que dele se originam o pirão. A matéria prima é adquirida ali mesmo no povoado, a exemplo do de camarão, da galinha de capoeira, do capão, do guaiamum, do caranguejo, do peixe e até mesmo do carneiro. Os preços variam de R$ 51 a R$ 75 e servem duas, até três pessoas. Há também a opção individual e os caldinhos que custam R$ 4.

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