LITERATURA ORAL, UM MUNDO DE CULTURA (Final)

O passo seguinte é abrir a escola a todos, em todos os lugares, sem discriminações. Uma escola universal, que não esteja contida pelos limites da lei, mas que proclame a responsabilidade de abrigar, na escolarização necessária, as crianças do pré, do ensino fundamental, os jovens do ensino médio e os adultos do supletivo, sem faltar aquele grupo portador de dificuldades em relação a escola, ou será a escola que tem dificuldades, em relação a eles?

 

A gestão da escola deve ser democratizada, tanto para vencer o autoritarismo rançoso de tantos séculos, como para permitir que os diversos agentes do cotidiano escolar — alunos, professores, funcionários, pais de alunos, comunidade — possam assumir seus papéis, na definição e na administração das prioridades. Será bom que o provimento da função de diretor ocorra por mérito de Concurso Público.

 

O leito da Reforma Administrativa é o mesmo da Reforma Pedagógica: o regimento. Neste país, as leis maiores mudaram, mas os regimentos das escolas permaneceram vigorantes, como entulhos da pedagogia do silêncio. O regimento da escola deve banir de seu texto toda a parte penal e disciplinar, transferindo-a para o campo próprio, que é o da  lei e da justiça.

 

Assim preparada, e com os retoques físicos de nem ser pequena que passe despercebida, nem grande que chame a atenção, mas que tenha o tamanho ideal do seu bem fazer cultural. Em Sergipe, adotou-se quatro salas como o mínimo, doze salas como o máximo, como conjunto pedagógico, acrescido de salas de vídeo, de leitura e laboratório de informática, como conjunto pedagógico complementar, refeitório, campo de areia e quadra de esportes, quiosques, bancos de namorar e outros equipamentos de uso social.

 

Pronta, a escola pode realizar, na sala de aula, o processo ensino-aprendizagem, que começa com uma pesquisa, pela qual o aluno fala (ou escreve) sobre si mesmo, seu ambiente social, seus informes, crenças, tabus, superstições, seu modo de brincar, os gestos, os repertórios, enfim um apanhado sincero do perfil de cultura daquele pequeno portador de conhecimentos. É com esse sinalizador prático, de simples aplicação, que a escola trava o contato mais próximo com seu alunado. O mais, é com o professor, na sala de aula, nos procedimentos próprios do ensino, da fixação e da verificação da aprendizagem, da reflexão crítica com a qual é construído o saber.

 

Será sempre conveniente, que o cálculo do jogo de marraio, ou bola de gude, com suas trincadas estratégicas de força, direção, toque, fuga, seja incorporado como prática, que o aluno domina, independentemente de saber das fórmulas que vão julgar, mais adiante, sua capacidade de aprender. Será sempre da maior conveniência que o conhecimento das calçadas e das ruas, apanhados da mais livre relação social, passe a freqüentar a escola e a sala de aula.

 

As rodas, com sua forma simples e perfeita, seus cantos, movimentos, as demais brincadeiras e os demais jogos, de domínio público, são elementos lúdicos insubstituíveis no campo do trabalho intelectual entre  alunos e professores. Com esse material, recolhido diretamente na fonte viva, antes que a criança e que o jovem se convertam em alunos, e com os demais materiais provindos das comunidades, onde vicejam, como novos, os velhos temas do mundo, refeitos a cada representação de autos, ou cada movimento de dança e de folguedo, como vicejam as estórias, as poesias e os ditos sintéticos e moralizantes, coisas mais que da vida, da alma das pessoas e dos grupos sociais que elas representam, a escola terá como colocar-se face a face com a história e com a cultura universal da humanidade.

 

E terá sido feita a síntese: quem sabe ensina.

 

No mais são os livros, os discos, as fitas de vídeo, todo os materiais didáticos, paradidáticos e referenciais, produzidos no contato com o povo, posto ao dispor de alunos e de professores, para a produção do conhecimento e para a construção do saber.

 

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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