MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: ZÉ RAMALHO

CD: “PARCERIA DOS VIAJANTES”

Gravadora: SONY & BMG

 

O paraibano Zé Ramalho surgiu no cenário da música nacional em 1977 e trouxe uma rufada de bons ventos à safra nordestina que, àquela época, já tinha feito o Brasil conhecer os talentos de Fágner, Ednardo e Belchior. Seus dois primeiros discos engataram vários sucessos que até hoje são tocados e regravados à exaustão, a exemplo das canções “Avôhai”, “Dança das Borboletas”, “Chão de Giz”, “Vila do Sossego”, “Admirável Gado Novo”, “Garoto de Aluguel” e “Frevo Mulher” (esta também registrada por sua então mulher, a cantora Amelinha). Seus versos abordavam temas psicodélicos que misturavam lendas de seu Estado natal a viagens imaginárias povoadas por seres alienígenas.

O reconhecimento inicial não impediu, todavia, que Zé mergulhasse em caminhos pessoais não convencionais, resultando em um considerável período de pouca criatividade, o que fez seu nome quase cair no esquecimento. Foi praticamente somente a partir de 1996, quando integrou, junto com a prima Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Alceu Valença, o projeto “O Grande Encontro” que Zé voltou a ver seu nome novamente reconhecido. De lá para cá, lançou alguns trabalhos revisionistas (que lhe garantiram boas vendagens e visibilidade) e outros contendo canções inéditas (que praticamente passaram despercebidos), mas o certo é que retornou a ser incensado como um dos melhores representantes da chamada “geração Nordeste”.

De fato, ele é um grande artista. Compositor inspirado, é também um cantor de timbre inconfundível: sua voz grave desafia as letras quase que as declamando e essa forma de emissão vocal tem feito escola, tanto que já pululam por aí vários seguidores (para não dizer imitadores).

Semana passada chegou às lojas “Parceria dos Viajantes”, o seu ótimo novo CD que apresenta onze canções de safra mais recente. Como o próprio título já o diz, trata-se de um trabalho voltado para inéditas parcerias, uma excelente idéia. Depois de anos de carreira, é natural que a fonte criativa já não seja tão fértil como outrora e cercar-se de outros artistas para dar uma arejada é sempre salutar.

Desta forma, há boas faixas assinadas com Chico César (“A Nave Interior”), Zeca Baleiro (“O Rei do Rock”), Zé Nêumanne (“O Norte do Norte”), Oswaldo Montenegro (“Do Muito e do Pouco”) e Dominguinhos (“Porta de Luz”).

O produtor Robertinho de Recife conhece a fundo as intenções de Zé e sabe de há muito domá-las muito bem. Há participações especiais da roqueira Pitty, de Sandra de Sá, de Zélia Duncan e de Daniela Mercury (extraordinária em “Procurando a Estrela”, um dos melhores momentos do álbum). Vale a pena correr atrás!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: CLARA MORENO

CD: “MEU SAMBA TORTO”

Gravadora: ATRAÇÃO

 

A cantora Clara Moreno tem o DNA da música no sangue. Filha da cantora e compositora Joyce com o compositor Nélson Ângelo, a artista chega ao seu quinto CD depois de pôr no mercado quatro ótimos antecessores (o primeiro e o quarto são sensacionais!).

Desta vez, no entanto, resolveu radicalizar. Nos discos anteriores, Clara mergulhou de cabeça em arranjos nos quais os apetrechos eletrônicos serviam de base para que ela pudesse mostrar um trabalho antenado com o momento presente, especialmente com o mercado estrangeiro. Todavia, no álbum recém-lançado (que se intitula “Meu Samba Torto”), ela se volta inteira para o lado acústico. Sustentado apenas por intervenções de guitarra acústica, baixo acústico e bateria, é na verdade um CD muito mais difícil de emplacar que os outros, até por conta da sonoridade que soa datada. Não que isso seja um demérito. É somente uma constatação.

Ao optar por um trabalho desse tipo, Clara (que deve ter tido lá suas razões) escolheu um repertório que terminou por reunir canções de autores de tempos díspares como Ary Barroso (a interessante “Morena Boca de Ouro”) e Celso Fonseca (autor de três músicas, dentre elas a bonita faixa-título, já gravada anteriormente por Virgínia Rosa). Celso, aliás, é presença forte no disco pois também toca guitarra em seis faixas e canta em três outras (“Moça Flor”, de Durval Ferreira e Lula Freire, na qual Clara se arrisca em registro vocal abaixo de seu tom natural, “Rosa de Ouro”, antológica criação de Elton Medeiros, Hermínio Bello de Carvalho e Paulinho da Viola”, e “Litorânea”, parceria de Celso com o baixista Rodolfo Stroeter, o qual assina a produção do disco ao lado de Kazuo Yoshida.)

Clara não é uma intérprete vigorosa do tipo que arrebata o ouvinte na primeira audição, mas possui um timbre bastante suave e agradável que, na maioria das vezes, cumpre bem o seu papel.

Dentre as quatorze faixas selecionadas, Clara canta em inglês (“Tenderly”, de Walter Gross e Jack Lawrence) e francês (“Mon Manege a Moi”, de Norbert Glanzberg e Jean Constantin, do repertório de Edith Piaf) e faz bonito especialmente na já citada “Litorânea” , em “Sabe Quem?” (parceria de Joyce com Zé Renato) e em “Bahia com H” (de Denis Brean, conhecida na voz de João Gilberto). Merece destaque ainda a redescoberta de uma obscura canção do primeiro LP de Jorge Ben Jor (“Vem Morena Vem”) e o duelo inicial em “Se Acaso Você Chegasse” (de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins), no qual a voz de Clara surpreende sustentada apenas pela irretocável bateria de Ricardo Mosca.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Semana retrasada, foi realizado um espetáculo memorável no Canecão para comemorar a parceria dessa famosa casa de shows com a Petrobrás. O evento consistiu em um concerto no qual canções de autoria de Edu Lobo ganharam roupagem sinfônica sob o comando dos maestros Wagner Tiso e Carlos Prazeres. Edu cantou sozinho pérolas como “Na Carreira” e “Frevo Diabo” e convidou Zizi Possi para dividir com ele os vocais de “Ponteio”, “A Mulher de Cada Porto”, “Upa Neguinho” e “Canção do Amanhecer”. Sozinha, a cantora entoou, afinadíssima como sempre, clássicos como “Sobre Todas as Coisas”, “Valsa Brasileira”, “Lábia” e “O Circo Místico”. Um belo momento que merecia se transformar em CD e DVD ao vivo. Quem sabe…?

 

·               O selo Baratos Afins repõe no mercado a trilogia intitulada “Bicho de 7 Cabeças” do compositor e cantor Itamar Assumpção. Dono de um incontestável talento e de uma versatilidade inata, Itamar enquanto vivo compôs diversas canções recheadas de criatividade, ora resvalando para a ironia, ora para o lirismo. O volume I traz as participações especiais de Rita Lee (“Venha até São Paulo”) e Tetê Espíndola (“Noite Torta”). O volume II vem com as presenças de Tom Zé (“É Tanta Água”) e Suzana Salles (“Coração Absurdo”). O volume III tem como convidados Jards Macalé (“Estrupício”) e Ná Ozzetti (“Quem Canta, Seus Males Espanta”). Pérolas como “Vou Tirar Você do Dicionário”, “Sonhei Que Viajava Com Você”, “Me Basta”, “Milágrimas”, “Tua Boca” e “Vê Se Me Esquece” também estão presentes nesse projeto que merece ser conhecido por todos os amantes da música inteligente brasileira.

 

·               Tentando dar uma repaginada na carreira, o grupo KLB está lançando o oitavo CD da carreira aderindo à fórmula das regravações de músicas que já resultaram em sucesso nas vozes de outros intérpretes. O novo álbum, que chega às lojas através da gravadora Universal, intitula-se “Bandas” e traz no repertório, dentre outras, as canções “Todo Azul do Mar”, “Rádio Pirada”, “Nós Vamos Invadir Sua Praia” e “Balada do Louco”.

 

·               Chegará às lojas em maio, através da gravadora Biscoito Fino, um tributo à cantora Maysa. De autoria da própria artista foram regravados os seus dois maiores sucessos: “Ouça” e “Meu Mundo caiu” (por Alcione e Ney Matogrosso, respectivamente). Alem deles, há ainda “Quando a Saudade Vem” (com Olívia Hime), “Tema de Simone” (com Claudete Soares), “Resposta” (com Carlos Navas), “Nego Malandro de Morro” (com Fernanda Porto) e “Pra Não Mais Voltar” (com Leny Andrade). Cantora intensa que tomava para si músicas alheias, Maysa também será lembrada em sua porção intérprete, de forma que também farão parte do repertório: “Bom Dia Tristeza” (com Beth Carvalho), “Ne Me Quittes Pas” (com Cauby Peixoto), “Franqueza” (com Zélia Duncan), “Raízes” (com Leila Pinheiro), “Por Causa de Você” (com Zeca Baleiro), “Demais” (com Alaíde Costa), “I Love Paris” (com Edson Cordeiro) e “Quando Chegares” (com Maria Bethânia).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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