Ponte Aracaju – Barra dos Coqueiros

Sejamos a favor ou contra a construção da ponte è importante e mesmo necessário, antes que o fato se concretize, que analisemos o que está ocorrendo em outros estados para não nos arrependermos amanhã por hoje não termos tomado as medidas devidas. Assim, a seguir publicamos um texto divulgado na Internet pela Ambiente Brasil (www.ambientebrasil.com.br):

 

“Quase na metade do rio, a água batia um pouco acima do joelho. A maré, por volta das 10h30min, estava baixa. Ao lado das enormes colunas de sustentação da ponte sobre o rio Ceará, seu Antonio fica minúsculo. Passa quase desapercebido. Depois de jogar a tarrafa uma, duas, 10, 20, 30 vezes, ele caminha lentamente em direção à margem. Ao abrir o saco que segurava na mão direita, algumas tainhas – menos de 10 – se debatiam. ‘Não há mais peixes’, disse, enquanto enxugava o suor que escorria pela testa. Afinal, o calor era forte. Mais de 30 graus, com certeza.

Casado e pai de cinco filhos, Antonio Borges Pinto, ou simplesmente seu Antonio, vive na Barra do Ceará e é pescador há mais de 20 anos. ‘Antes, em duas horas, eu conseguia pescar entre 15 e 20 quilos. Aqui, se chegar a dois é muito. É só para o almoço’, lamenta. Toda a vida, seu Antonio tirou o sustento da família da pesca. Isso até alguns anos atrás. Hoje, a atividade de pedreiro se mistura com as manhãs de pescaria. ‘Quando aparece algum trabalho de pedreiro, dou prioridade ao serviço. É mais negócio’, diz. A situação do pescador é semelhante a de diversos moradores da Barra do Ceará, que têm na pesca o principal meio de subsistência.

Inaugurada em 1997 para facilitar o acesso entre Fortaleza e Caucaia, a ponte José Martins Rodrigues, mais conhecida como ponte sobre o rio Ceará, beneficia, diariamente, milhares de pessoas que cruzam os seus 633 metros. Para os cearenses que se deslocam diariamente entre as duas cidades, ela trouxe algumas melhorias, como a economia no tempo e na distância do percurso. Mas, para o meio ambiente já são sete os anos de prejuízos.

De acordo com a doutora em geografia ambiental e professora da Universidade de Fortaleza, Vanda Claudino Sales, as colunas de sustentação da ponte instaladas no leito do rio impedem o fluxo normal da água. ‘Como o rio é o maior transportador de areia e outros materiais orgânicos para o mar, os prejuízos são enormes para o meio ambiente. Os pilares acabam funcionando como obstáculos para a água’, explica. Segundo ela, grande parte da areia que deveria ser levada até o mar, acumula-se no entorno do obstáculo. ‘Isso causa um grande desequilíbrio no ecossistema. O prejuízo é para o rio, para as praias, principalmente do litoral Oeste, para as dunas e para os peixes’, afirma.

No rio, o desequilíbrio começa na profundidade do leito. O aterramento de boa parte da margem para a construção da ponte e os bancos de areias que se formam devido às colunas deixam o rio cada vez mais raso. Os barcos pesqueiros só conseguem passar por apenas um canal, localizado exatamente no centro do leito. ‘Ainda bem que esse ano foi muito chuvoso, caso contrário, nem no meio os barcos conseguiriam passar’ explica Vanda.

 

Segundo ela, a baixa profundidade prejudica, inclusive, a reprodução dos peixes que vêm do mar para desovar no rio ou no mangue. ‘A temperatura da água esquenta mais do que o normal. Com isso, os peixes acabam procurando outro lugar para se reproduzir’, explica. A vibração dos carros que passam sobre a ponte e a iluminação artificial que reflete na água à noite também são considerados fatores determinantes para a diminuição dos peixes no rio Ceará”.

 

Edmir Pelli é aposentado da Eletrosul e articulista desde 2000
edmir@infonet.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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