80 anos – Zé Peixe / Prático – uma profissão de coragem

Em entrevista ao Portal Infonet, Zé Peixe fala sobre sua vida 
Prático é a profissão de José Martins Ribeiro Nunes desde 1947. A responsabilidade deste profissional é receber os navios em alto mar e os guiar até a atracação no porto e vice-versa, evitando as armadilhas dos canais.

Mas diferente dos demais, Zé Peixe pega uma carona em uma embarcação e salta ao mar na chamada Boca da Barra – onde o rio Sergipe deságua no Oceano Atlântico com formação de ondas encapeladas, que dificultam a passagem com seus bancos de areia – e nada para uma bóia de sinalização, onde espera o navio chegar (muitas vezes por horas). Depois, é içado para assumir a pilotagem e levá-lo até o porto.

Quando o navio sai do porto, Zé Peixe consegue ser ainda mais impressionante. Ele não leva um barco de apoio para retornar a terra firme, como seus colegas de profissão. Ele segue com o navio até a Boca da Barra e quando termina o seu trabalho salta ao mar e volta nadando – chega a nadar até 13km.

José Martins virou referência no rio, pois o conhece como ninguém. Ele consegue levar navios para um porto seguro atravessando a barra do rio Sergipe, analisando ventos, prevendo o movimento das areias e, às vezes, jogando-se no mar bravio para achar a passagem. “O segredo é não nadar contra a correnteza”, explica Zé.

Bravura

Um dos fatos que chamou a atenção da população, em 1952, foi quando Zé Peixe foi ajudar a três remadores do Rio Grande do Norte que participavam de uma corrida de regata até o Rio de Janeiro a chegar ao alto mar. Dias antes, eles haviam chegado em uma yole, mas sem conhecer as dificuldades da barra do rio Sergipe tiveram a embarcação danificada.

Para chegar ao mar, eles foram na lancha Atalaia e além de Zé e dos competidores estavam na lancha o motorista e sua irmã Rita Ribeiro Nunes Shunk conhecida por Rita Peixe. A lancha naufragou e as notícias nos programas de rádio foram que todos estavam mortos. As notas solicitavam a quem tivesse carro que fosse para a praia de Atalaia iluminar a areia.

Zé Peixe e Rita conseguiram salvar toda a tripulação e foram homenageados alguns meses depois no Estado do Rio Grande do Norte (RN) em solenidade oficial, contando com a presença do presidente Café Filho e do governador do Estado do RN à época Jerônimo Dix-Sept Rosado Maia. Zé recebeu uma medalha em ouro maciço escrito, “Honra ao mérito pela gratidão do povo Potiguar”.

Certa vez, o almirante recomendou elogios a sua coragem por salvar dois marinheiros do rebocador Guarani (1959), que caíram no mar durante uma tempestade. Ao ser questionado se teve medo, Zé Peixe responde com naturalidade, “era o meu trabalho, fiz o que tinha que fazer”.

Outro acontecimento que destaca a coragem de José Martins foi quando o navio Mercury estava em chamas em alto mar, vindo das plataformas da Petrobras e com os funcionários a bordo.  Zé Peixe chegou ao navio com a ajuda de um rebocador, tomou a cabine e conduziu a embarcação, que poderia explodir, até um local onde todos pudessem saltar e nadar para a terra firma.

Quadro recebido na homenagem de 50 anos de profissão nele tem escrito”Um salto comum para si próprio, um mito para nós” – Os práticos do Brasil
Homenagens

Feitos como estes fizeram Zé Peixe receber algumas homenagens. A Prefeitura Municipal de Aracaju, através de Cleovansóstenes Aguiar, oficializou Zé Peixe como Grão-Mestre da Ordem do Mérito Serigy, concedendo-lhe o título, a medalha e a comenda por Honnoris Causa. E através de José Carlos Teixeira um posto de salva-vidas recebeu seu nome.

O ex-governador do Estado, João Alves Filho, nomeou o Parque Aquático do Batistão com o nome Zé Peixe. Além disso, Zé conta com uma homenagem de um golfinho na praça Inácio Barbosa, que foi feita pelo artista plástico Eurico Luiz, um busto em bronze na frente do Memorial de Sergipe – da Universidade Tiradentes e um catamarã com seu nome. 

Recebeu por unanimidade de todos os práticos do Brasil a homenagem pelos 50 anos de serviços prestados na praticagem/Capitania dos Portos. E em Salvador, José Martins foi homenageado pela Marinha do Brasil com a Medalha Almirante Tamandaré.

Ele também já foi tema de dois programas do Fantástico, foi entrevistado pelo Jô Soares e pelas grandes revistas nacionais e internacionais. Quanto à polêmica de ser feito um filme de sua história, Zé responde que “não é astro de cinema”. E quanto a ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros ter seu nome, Zé desconversa e não responde.

De acordo com sua afilhada, Zé Peixe foi injustiçado ao afirmarem na imprensa que por ele não aceitar fazer o filme estaria deixando de divulgar o Estado. “As pessoas devem entender que ele é uma figura humilde e não um astro. Ele diz que não é ator e sim prático e tem orgulho de sua profissão”, explica.

Acidentes

Ao ser questionado se nestes anos todos ele não teve nenhum acidente no mar e no seu serviço, Luciana Shunk conta que uma certa vez a corda do barco soltou e bateu em seu olho que tem uma pequena deficiência, mas enxerga normalmente.

“Ele já deslocou o punho ao saltar do navio, mas atualmente tem mais cuidado e envolve-os com gazes antes de saltar”, diz.

Por Raquel Almeida

(Esta matéria faz parte da homenagem que o Portal Infonet faz a Zé Peixe pelo seu aniversário de 80 anos. De ontem, 2, até sexta-feira, 5, estaremos publicando matérias sobre sua vida, trabalho e seus feitos no mar).

Para quem quiser acompanhar:

80 anos- Zé Peixe, mais do que uma lenda um grande homem

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