Encontros Culturais e Festivais de Artes em Sergipe: a decadência de um estilo

Os Festivais de Artes e Encontros Culturais realizados em Sergipe têm como maiores representantes, pela história e importância que exerceram e que, de certa forma, ainda exercem, o Festival de Artes de São Cristóvão e o Encontro Cultural de Laranjeiras. Dois grandes eventos aglutinadores de produtores, artistas, técnicos do fazer artístico-cultural e turistas, hoje se encontram, infelizmente, completamente distantes de seus formatos originais. Pensados originalmente para perpetuarem momentos em que se pudesse brindar a produção artístico-cultural que não estivesse ligada aos modismos e aos que ditam as facetas obscuras da indústria cultural e, sim, privilegiar as manifestações folclóricas sergipanas, bem como as produções regionais e nacionais não necessariamente comprometidas com o mercado mas com uma qualidade artística de caráter cultural relevante, esses eventos sofrem muito, atualmente, com a insensibilidade e incompetência abraçadas pelos responsáveis por suas organizações. Com o final dos governos militares (e isso não significa que eles tenham sido bonzinhos com a Cultura), o Ministério da Cultura cortou drasticamente os recursos destinados a tais tipos de evento, impossibilitando, assim, a continuidade da liderança da Universidade Federal de Sergipe quanto ao Festival de Artes de São Cristóvão (o que, sem dúvida, prejudicou e muito a sua qualidade), o qual vem se arrastando há anos e dando um inexplicável tratamento diferenciado no que diz respeito ao pagamento dos cachês para os artistas de fora (que recebem antes dos shows e/ou espetáculos) e para os locais (que não sabem quando vão ser pagos pelos trabalhos já realizados). O caso específico do Encontro Cultural de Laranjeiras, todavia, é lastimável! Algumas atrações artísticas locais, embora ainda consigam ocupar pequenos e irregulares espaços, terminam sendo ofuscadas com uma maciça programação voltada para os shows de pagode, forró eletrônico e axé music, que terminam por desvirtuar completamente o sentido daquele Encontro Cultural. No Encontro de 2002, por exemplo, participaram a banda baiana Pimenta Nativa e a sergipana Calcinha Preta, as quais, muito embora tenham o seu público cativo (não cabendo, aqui, a emissão de qualquer juízo de valor), destoam completa e inequivocamente da concepção de um evento daquela alçada, tido, inclusive conforme se expressa no próprio nome, como “cultural”. Para o próximo encontro, já estão confirmadas como atrações: Araketu, Harmonia do Samba, Patchanka, e, novamente, a Calcinha Preta, que, não se sabe o porquê, está presente em todos (ou quase todos) os eventos realizados pelos Municípios no interior do Estado. Considerando que grande parte dos recursos aplicados nesses eventos vem do Governo de Sergipe, sendo, portanto, dinheiro advindo dos cofres públicos, e diante da irredutibilidade dos seus organizadores que se mantêm optando por esse tipo de atração artística, seria mais do que oportuno que houvesse uma interferência do Poder Público Estadual no sentido de garantir a realização de Festivais de Artes e de Encontros Culturais que realmente visem à valorização da cultura e não ao privilégio descabido de alguns que se encontram comprometidos com formatos artísticos ultrapassados e voltados pura e simplesmente para o mercado, objetivando tão somente a alienação do nosso povo. Quanto aos artistas de fora, é bom ficar claro que não somos contra as suas contratações, mesmo porque é importante criar divisas e estimular o intercâmbio, levando nossos artistas para outros lugares. Mas existem, na grande constelação de estrelas artísticas do Brasil, nomes que se encaixam de forma mais adequada a eventos como os que aqui fizemos referência. Basta que se tenha um pouco de sensibilidade artística e que se contratem para organizar esses eventos pessoas que realmente entendam de arte e de cultura e que não sejam somente “quebra-galhos”. E por falar em galho e para terminar estas linhas, é como bem diz a canção: para que as coisas efetivamente possam dar certo, “cada macaco no seu galho”! Aracaju (SE), em 18 de dezembro de 2002. JOÃO PAULO NETO Secretário da ECOS e Presidente ASSAIM ASSAIM – Associação Sergipana de Autores e Intérpretes Musicais; ABD – Associação Brasileira de Documentaristas; ASAP – Associação Sergipana dos Artistas Plásticos; ASAFOTO – Associação Sergipana dos Amigos da Fotografia; FECOSE – Federação Sergipana de Coros; LDQJS – Liga de Dirigentes das Quadrilhas Juninas de Sergipe; SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões de Sergipe.

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