Um perfil registrado no Twitter nesta quinta-feira, 4, tem exposto uma série de estudantes da Universidade Federal de Sergipe (UFS) que teriam fraudado as informações exigidas para os critérios de cotas de vagas para entrar na instituição. O foco da página, intitulada de ‘Fraudadores de Sergipe – IFS e UFS’, conforme diz em sua bio, é mostrar quem fraudou cotas raciais para entrar nas duas instituições.
O perfil vem sendo atualizado entre minutos e exibindo fotos e prints com informações de estudantes que se autodeclararam negros, pardos ou indígenas, no cadastro do Sisu, embora as características físicas aferíveis mostrem que se tratam de pessoas brancas. A maioria dos estudantes expostos, até agora, é do curso de medicina dos campus de São Cristóvão e Lagarto.
Nas publicações da página também há menções de estudantes que declararam renda mínima abaixo de 1,5 salário mínimo por família, categoria que dispõe de cota de vagas para o ensino em universidades públicas. Em fotos, o perfil mostra esses mesmos estudantes em registros que retratam padrão de vida incoerente com a renda declarada.
Os seguidores do perfil têm aconselhado que todos os casos sejam denunciados ao Ministério Público Federal (MPF) para que sejam investigados e haja responsabilização, se constatada a fraude. Nossa reportagem consultou o MPF para saber se já há um posicionamento sobre o assunto. A assessoria do órgão informou que iria consultar internamente e retornaria com a resposta. Até o fechamento desta reportagem, não tivemos retorno.
Contexto
O perfil no twitter nasce em meio a um movimento de escala mundial contra o fim do racismo, com o estopim nos Estados Unidos, onde um americano negro foi assassinado por um policial que utilizou o joelho para sufocar a vítima por 8 minutos, durante uma abordagem.
No Rio Janeiro e em outros estados, também já há perfis semelhantes expondo estudantes que teriam fraudado as cotas raciais. Nos últimos dias, mulheres também utilizaram a mesma rede social para relatar situações de assédio, abusos e agressões cometidas por homens. O caso das mulheres, inclusive, será investigado pelo DAGV.
UFS
A Universidade Federal de Sergipe (UFS) se pronunciou por meio de nota:
Diante da exposição de imagens de discentes da Universidade Federal de Sergipe em perfil na rede social Twitter, e da acusação de que os referidos alunos supostamente fraudaram o sistema de cotas raciais em processos seletivos da Universidade, a Pró-Reitoria de Graduação vem a público esclarecer que:
- Em respeito à Clausula Sexta do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a UFS e o Ministério Público Federal, os casos relatados por meio de denúncia à Ouvidoria da UFS, devidamente amparada por conjunto probatório que a sustente, serão incluídos em uma lista, que entrará em pauta de reunião da Comissão de Heteroidentificação para Ingressantes Pretos, Pardos e Indígenas (PPI).
- Os denunciados, caso seja necessário, se apresentarão à Comissão para verificação da denúncia e, após, um relatório técnico conclusivo será encaminhado ao MPF, que adotará medidas junto ao Poder Judiciário.
- Todos os candidatos aprovados em cotas para PPI, no Vestibular 2020 do Campus de Lagarto, estão obrigados a passar por avaliação da Comissão de Heteroidentificação de Ingressantes, conforme itens 2 e 5 do Edital nº 09/2020/PROGRAD, o que invalida a necessidade de denúncias antes do resultado das análises.
- Os trabalhos da Comissão de Heteroidentificação de Ingressantes, composta por representantes legitimamente reconhecidos pelos movimentos sociais e grupos de representação, desenvolveu as suas atividades até o advento da pandemia de Covid-19. A partir de então, em comum acordo entre os integrantes da Comissão, as atividades presenciais foram suspensas por questão de segurança sanitária.
- A Pró-Reitoria de Graduação não compartilha da abordagem utilizada pelo referido perfil no Twitter por considerar que, com a exposição dos casos realizada sem a devida instalação dos procedimentos adequados para a apuração da Instituição e do MPF, não há respeito ao direito da ampla defesa e ao contraditório dos denunciados.
Por Ícaro Novaes
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