‘Doença que afeta o corpo e a mente’, diz enfermeira curada da Covid

Kérolyn passou 14 dias em isolamento após testar positivo para Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal)

Enfermeira assistencial de uma das alas de internamento do Hospital de Cirurgia, Kérolyn Dias, desde o primeiro dia de pandemia, em Sergipe, tem atuado na linha de frente de combate à Covid-19. Em uma rotina de 12h de trabalho nos dias de plantões, a profissional viu a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital, em questão de pouco tempo, ficar recheada de pacientes lutando pela vida.

“É uma doença rápida, que mexe bastante com as pessoas. São pacientes que precisam de assistência hospitalar humanizada e de qualidade, com um olhar amplo e maior sensibilidade, o que nós (profissionais) temos feito todos os dias”, detalha Kérolyn.

E nessa rotina de trabalho, a Kérolyn acabou trocando o papel de enfermeira, para paciente da Covid-19. Mesmo trabalhando com todos os equipamentos de segurança necessários, ela acabou infectada pelo vírus. Apesar de lidar diariamente com a doença, ela diz que os profissionais nunca estão preparados para notícias como essas. “Quando você passa a ter os sintomas e recebe o diagnóstico positivo, vem o nervosismo. O meu maior medo era quem eu poderia contaminar. Faz um mês que não vejo meu filho, sem contato com família, vivendo isolada por causa dessa rotina”, desabafa a enfermeira.

Kérolyn teve apenas sintomas leves da doença, como dor na garganta, coriza e cefaleia intensa, e não precisou ser hospitalizada. Mas, durante os 14 dias em que cumpriu o isolamento, a preocupação sempre vinha à tona. “É uma doença que você tem que lidar com os sintomas e também com a mente, porque há muita angústia, medo, o emocional fica abalado”, relata.

Hoje Kérolyn faz parte do grupo de 4.485 pessoas que venceram à Covid-19, em Sergipe, segundo os dados oficiais da Secretaria de Estado da Saúde. Já foram registrados 217 óbitos e um total de 9.290 pessoas infectadas pelo vírus em 80 dias de pandemia no estado.

A alegria de poder retornar ao trabalho

Funcionária do setor de limpeza da UTI, Aline Vieira, de 35 anos, também foi mais uma profissional infectada pela Covid-19. Ela conta que foram praticamente 14 dias trancada dentro do próprio quarto para não ter contato com o filho e os demais familiares que moram com ela. “É uma sensação de que não vai passar, de medo de perder essa luta. Quando eu fazia um esforço ou falava muito, vinha uma falta de ar”, conta Aline.

Lembranças que a Aline, agora, pretende só deixar no passado. Há cerca de 10 dias ela foi liberada para retomar o trabalho, foi recebida com carinho pelos colegas do setor e não esconde a felicidade. “Esse retorno foi maravilhoso. Saber que você venceu. Hoje eu oro bastante pelos pacientes aqui da UTI e quando posso, passo uma palavra de apoio”, detalha.

Retorno ao trabalho marcou nova fase na vida das profissionais

A enfermeira Kérolyn também já retornou ao trabalho. Nessa nova fase, como pode ser considerada, ela tenta passar a própria experiência para os pacientes. “A gente compreende melhor o lado de quem tá enfrentando a doença. Voltamos mais sensíveis, humanas, tentamos confortar essas pessoas. É triste ver alguns perdendo essa luta, mas a felicidade de ver pessoas superando essa doença, sobrepõe qualquer outro sentimento”, pontua.

Nos hospitais de todo o estado, há 406 pessoas internadas lutando contra o vírus, 150 delas em leitos de UTI. Em todas as unidades, profissionais que já tiveram a Covid-19 ou não, continuam equipados e protegidos contra a doença, na expectativa de que, a cada dia, essa batalha esteja perto do fim.

Por Ícaro Novaes

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