Seixas Dória, Um político amedalhado

O Império soube cuidar das relações do centro do Poder, com a periferia representada pelas Províncias, cujas principais autoridades – Presidente, Secretário, Chefe de Polícia, Juiz de Direito, dentre outras – eram nomeadas, dentre figuras que circulavam nas bordas da máquina imperial. As estatísticas atestam que foram poucos os nascidos nas Províncias, que tiveram a honra de governá-las. No caso de Sergipe, por exemplo, o número de presidentes nascidos na terra sergipana dá para se contar com os dedos da mão e ainda sobram dedos, como disse, certa feita, Tobias Barreto, em Escada. Uma Elite Itinerante rodava o País, sem mandato de tempo certo, sem contatos anteriores, mas enquadrados numa política de interesses centralizados.

Havia, no Império, um vasto campo de relações, que de algum modo compensava essa ausência de quadros locais na administração superior das

Ordem do Senhor Jesus Cristo
Províncias. As Condecorações brasileiras serviram, tal qual a Guarda Nacional, para aproximar o governo imperial com lideranças políticas e econômicas provinciais, enquanto prestava homenagens a militares graduados, engenheiros, médicos e outros destacados quadros. O Império dispunha de várias condecorações nacionais, como a Ordem Imperial do Cruzeiro, com 4 graus: Gran-Cruz, Dignatário, Oficial e Cavaleiro; Ordem de Pedro Primeiro, nos graus de Gran-Cruz, Comendador e Cavaleiro; Imperial Ordem da Rosa, com 6 graus: Gran-Cruz, Grande Dignatário, Dignatário, Comendador, Oficial e Cavaleiro; Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, nos graus de Gran-Cruz, Comendador e Cavaleiro; Ordem de São Bento de Aviz e Ordem de São Tiago de Espada, com os mesmos graus: Gran-Cruz, Comendador e Cavaleiro. Tais ordens eram complementadas com insígnias e medalhas,
Ordem Imperial da Rosa
que evocavam feitos gloriosos do Império.

Por Decreto de 2 de dezembro de 1854, para valer no ano da mudança da Capital, grande número de pessoas, de todas as Províncias, foram contempladas com as Ordens de Aviz, Cristo, Cruzeiro e Rosa, em seus diversos graus, de acordo com a condição de cada um. De Sergipe foram agraciados: Alexandre Freire do Prado,com a Ordem de Cristo, no grau de Cavaleiro; Antonio José da Silva Travassos, com a Ordem da Rosa, no grau de Oficial; Antonio Manoel de Fraga, idem; Bernabé Francisco Teles, idem; Dr. Francisco Antonio de Oliveira Ribeiro, com a Ordem do Cruzeiro, no grau de Cavaleiro; Inácio Joaquim Barbosa, com a Ordem da Rosa, no grau de Oficial; José Francisco de Moura, Ordem da Rosa, grau de Cavaleiro; José Sotero de Sá, Ordem de Cristo, grau de Cavaleiro; Manoel José de Menezes, Ordem da Rosa, grau de Oficial; Manoel Raimundo Teles de Menezes,

Ordem de São Bento de Aviz
Ordem da Rosa, grau de Oficial; Rufino Enéias da Fonseca Galvão, então capitão, depois Visconde de Maracaju, Ordem da Rosa, grau de Cavaleiro.

152 anos depois o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia que concederá o mérito nacional ao advogado, intelectual e político sergipano João de Seixas Dória, ex deputado estadual, ex deputado federal, ex governador do Estado de Sergipe, uma legenda viva da política do País, já amedalhado com todas as honrarias sergipanas e com algumas de outros Estados, como a dos Inconfidentes, de Minas Gerais. Seixas Dória completou, em 23 de fevereiro, 90 anos e recebeu, e continua recebendo, todas as homenagens que merece, pela sua biografia que honra qualquer sociedade e representa todos aqueles que clamam por liberdade, justiça, e pelos valores marcantes da organização e da vida

Ordem Imperial do Cruzeiro
social. Lúcido, atualizado, ainda inflamado com suas idéias nacionalistas, Seixas Dória é credor do reconhecimento público, tornado nacional pela decisão do Presidente da República. É uma forma do Poder federal acanhar-se e pedir desculpas pela truculência com que retirou Seixas Dória do Poder, cassando a vontade popular, encarcerando-o em Fernando de Noronha, afastando-o da vida pública. É certo que não há desculpa capaz de fazer apagar a dor, o sofrimento, o desconforto familiar, a angústia dos amigos, o sentimento da população. Mas não deixa de ser uma iniciativa positiva, que mais do que focar a homenagem na figura de Seixas Dória, homenageia, em suma, o povo sergipano.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais