A epopéia dos 200 anos da imprensa (II)

O Noticiador Sergipense (clique para ampliar)
A imprensa sergipana, criada na Estancia em 1832, na Tipografia Silveira, com o pequeno jornal O Recopilador Sergipano, redigido pelo padre José Alves Pitangueira, insere-se na história da imprensa brasileira, pela ligação íntima com a divulgação dos atos oficiais. Enquanto o Correio Brasiliense, o primeiro jornal brasileiro, circulou em Londres, em 1808, distante no Poder, o jornal estanciano tinha a proximidade política com a administração da nova Província,  emancipada em 8 de julho de 1820.

 

O monsenhor Antonio Fernandes da Silveira, proprietário da tipografia Silveira, foi o responsável pela edição de outros jornais, como Diário do Conselho Geral da Província de Sergipe, em Estancia, e o Noticiador Sergipense, em São Cristovão. Foi, também, editor do primeiro jornal da Província do Piauí, além de político, fundador de um dos primeiros partidos – o Luzia, deputado geral e membro e presidente do Conselho Geral da Província, que precedeu a Assembléia Provincial de Sergipe, criada com o Ato Adicinal de 1834 e instalada no começo do ano de 1835.

 

Um parêntesis: No passado mais remoto, por volta dos anos de 1730/1740, houve uma tentativa de organização de uma tipografia em Sergipe, chegando a ser publicadas umas “gazetas”, consideradas infamantes e subversivas, atribuídas ao padre Eusébio Dias Laços Lima, da vigararia de Itapicuru de Cima, agregado a Freguesia de Lagarto. Tais publicações foram citadas em processo no Conselho Ultramarino, que envolveram o sacerdote por ter declarado o Brasil – especialmente Sergipe e Alagoas – Império livre, distribuindo cartas de nobreza com seus seguidores. Fecha o parêntesis.

 

O dístico Sede justos se quereis ser livre/ sede unidos se quereis ser forte, de Washington, colocado como epígrafe no cabeçalho do Recopilador Sergipano, tinha relação apropriada com o sentimento de liberdade dos sergipanos, que a Constituição do Império, de 1824, consolidou. E tanto foi assim que outros jornais com as mesmas características de folhas oficiais repetiram a frase, como uma espécie de guia conscientizador. Os jornais Noticiador Sergipense e Correio Sergipense, ambos editados na capital da Província, também se valeram da mesma epígrafe¸ o que significa um uso contínuo, por 34 anos, de uma afirmação forte de justiça, de liberdade, de união e de força, elementos agregadores de uma sociedade em formação, com a responsabilidade de gerir seus próprios negócios, ter seu próprio Governo, construir seu próprio futuro.

 

Todos os jornais até agora citados têm em comum a função de folha oficial, embora a circulação fosse de duas ou no máximo três vezes por semana. De todos eles o mais duradouro, e por todos os títulos melhor, foi o Correio Sergipense, que teve início em São Cristovão em 1838, quando pelo Decreto nº 4, de 7 de março, foi montada a Tipografia Provincial, para publicação de um jornal, sendo editado às quartas e sábados até 1855, passando, com a capital, para Aracaju, onde circulou por mais 11 anos, até 1866. Este jornal foi editado pela Tipografia Provincial. Domingos Mondim Pestana e oVigário José Gonçalves Barroso foram dois dos mais importantes redatores, tendo o primeiro sido diretor da Tipografia Provincial, um dos empregos públicos de destaque, naquele tempo.

 

Outro parêntesis: Em 1860, ao visitar a Província de Sergipe, o Imperador Pedro II esteve na Tipografia Provincial, conheceu os funcionários e estranhou que eles fossem pagos pelo Governo da Província, viu o maquinário, os tipos móveis com os quais era composto o jornal, mas registrou a falta de uma coleção completa, com os números atrasados. A observação do Imperador atesta que o descaso para com a memória sergipana é antigo. Ainda hoje as coleções dos jornais são incompletas, e muitas delas não favorecem a leitura. O próprio Diário Oficial, que desde 1919 é editado regularmente, não tem sido guardado com regularidade. A SEGRASE, por exemplo, começa sua coleção em 1922, com um pequeno volume encadernado. A atual direção, sensível ao fato, já pensa em recompor a coleção completa, o que favoreceria a  consulta interessada e  a pesquisa histórica. Fim do parêntesis.

 

Houve um pequeno hiato entre o Correio Sergipense e o Jornal de Aracaju como jornais destinados à publicação dos atos e do noticiário oficial da Província. O Correio encerra as suas atividades em 1866 e o Jornal do Aracaju só inicia a sua edição em 1870. O Governo provincial pensou em acabar com a Tipografia e contratar diretamente a edição de jornais. Através do instrumento contratual, o Jornal de Sergipe, órgão do Partido Liberal, dirigido pelo bacharel José Fiel de Jesus Leite, que circulou, com interrupções, entre 1868 e 1906, contando com outras direções, como a de Gonçalo de Aguiar Boto de Menezes, e diversos colaboradores, como Antonio da Mota Rabelo, tomou feição de jornal oficial.

 

Seguiram-se os jornais O Republicano, ( primeiramente foi editado em Laranjeiras, como órgão da propaganda republicana, depois foi mudado para Aracaju, onde começou a sair em 4 de janeiro de 1890), dirigido por Joaquim Anastácio de Menezes, tendo como principal redator o professor Brício Cardoso, editado de 1890 a 1893; O Dia, de janeiro de 1894 a 1895. No primeiro Governo do general Oliveira Valadão foi criado um jornal oficial, que a partir de 1º de setembro de 1895 começou a circular com o título de Diário Oficial do Estado de Sergipe, dirigido por João Menezes, sobrevivendo até 1898, quando foi extinto, coincidindo tal extinção com o fim do mandato do Presidente Valadão.

 

No mesmo ano de 1898, no dia 5 de julho, apareceu o jornal O Estado de Sergipe, como jornal oficial, redigido por Brício Cardoso, até 1904, e por Manoel dos Passos de Oliveira Teles, nos anos seguintes e até 1919, quando o Decreto 696 de 22 de outubro o transformou em diário oficial, com o mesmo formato do primeiro DO, que é igual ao de hoje, tipo de tablóide.

 

Desde 24 de outubro de 1919, quando publicou em suas primeiras páginas a nova Constituição estadual, que o Diário Oficial do Estado de Sergipe vem cumprindo a sua função divulgadora, com poucas modificações, sempre circunstanciais, sempre provisórias, sendo o mais completo acervo dos atos oficiais de Sergipe, por isso mesmo uma fonte recorrente da vida administrativa, política e jurídica do Estado. (continua)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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