“O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter.” Cláudio Abramo.
Os mais novos não devem saber, mas o bairro América, em Aracaju, já foi o mais violento da cidade. Até quando um trabalho da comunidade, através do frei Raimundo e o apoio do governo estadual deu início a policia comunitária no local, que depois serviu de modelo para os outros bairros.
Tudo começou na gestão de Albano Fraco, tendo Wellington Mangueira como secretário da SSP. Inclusive, no fim do ano passado, Mangueira recebeu em Brasília, do Senado Federal, uma comenda de Direitos Humanos, pela Implantação da Polícia Comunitária, sob o lema "polícia cidadã para uma sociedade de cidadãos".
Agora, prestes a completar 20 anos o primeiro “Posto de Atendimento ao Cidadão” – PAC da PM, instalado no estado será fechado por determinação do comando. O PAC foi uma parceria entre a comunidade, a Igreja Católica e a comunidade local.
De lá para cá, o bairro América é outro e não foi apenas pela desativação da penitenciária que existia no local. Antes mesmo da desativação, os índices de violência reduziram drasticamente.
O Conselho de Segurança é um exemplo até hoje, com a participação ativa da comunidade. E a comunidade está aflita e não encontra respaldo junto a SSP.
O blog não acredita que Jackson – que sempre defendeu a interação entre comunidade e polícia – passará para a história como o governador que acabou com o PAC do bairro América.
Inventa moda. “Ombudsman” no TCE. Tá sobrando dinheiro?
O blog assina embaixo a nota de autoria do colega aqui da Infonet, Adiberto de Souza: “E o Tribunal faz de Contas de Sergipe agora vai ter um ombudsman, aquele sujeito pago para “dedurar” os erros dos coleguinhas. Ora, um órgão tão pequeno como o TCE precisa disso? Será que os bem pagos conselheiros e diretores não são suficientes para enxergar os equívocos cometidos na Casa? Ô, Clóvis, deixe de inventar moda, rapaz!”
Apoio do PSD ao PSB em Aracaju assustou grupo João Alves
E o fato da semana foi o apoio do PSD de Aracaju a pré-candidatura do PSB com o nome do deputado federal Valadares Filho. Depois da segunda-feira foram bombardeiros dos aliados de João Alves na mídia até ontem. Parece que não esperavam que alianças fossem costuradas ainda em janeiro.
Apoio municipal, não estadual
O mais interessante é que os aliados de João na mídia incentivaram discursos de que o PSD não foi todo. E até vereador do PSD no interior se pronunciou dizendo que não foi consultado. Tem burro na política. O apoio do PSD foi do Diretório Municipal, comandado pelo deputado Fábio Mitidieri. Tem que alertar alguns que a eleição 2016 é municipal e não estadual. Ou seja, cada município no seu quadrado, ou seja, na sua realidade.
Fim dos nomes de ditadores nos prédios públicos em SE
Ninguém tem duvida que o ato realizado ontem, 13, do governador Jackson Barreto retirando os nomes de ditadores (torturadores e assassinos) dos prédios públicos foi histórico. O governador se emocionou na solenidade por ter vivido o momento difícil daquele período. A fala de Wellington Mangueira foi importante.
Jorge Carvalho deveria ter orientado o governador para os novos nomes
Agora o secretário da Educação, Jorge Carvalho, deveria ter orientado o governador para os novos nomes. João Costa, tudo bem, mas Mandela e Paulo Freire já têm homenagens demais por todo país. Como bem lembrou o professor Wagner Lemos Sergipe tem muitos outros que estão esquecidos, como Seixas Dória, Amando Fontes, João Mulungu e Pedro Calasans.
Enfim, monumento Governador Déda está sendo concluído
Depois de muito tempo e um período paralisada a obra do monumento Governador Marcelo Déda, no Parque da Sementeira está sendo finalizada. Fica próximo a duas árvores plantadas por Déda e Eliane Aquino, quando ainda prefeito de Aracaju. Com um jornal ‘A Semana’, de Simão Dias, em seu colo, a estátua fiel de Marcelo é um dos destaques da obra. Ontem, 14 o governador Jackson Barreto, ao lado da ex-primeira dama Eliane Aquino estiveram visitando o local e conheceram os detalhes do projeto arquitetônico ao lado do arquiteto Ézio Déda.
Sergipe Tec está quase pronto
As obras do Sergipe Tec, em São Cristovão, ao lado do Campus da UFS, estão em fase final. Ontem, 14, o Secretário Estadual da Infraestutura e do Desenvolvimento Urbano, Valmor Barbosa, acompanhado pelos diretores-presidentes da Cehop e do SergipeTec, Caetano Quaranta e Manoel Hora, respectivamente, e por engenheiros e técnicos, inspecionou as instalações.
Modernidade e funcionalidade
“O Governo do Estado não mediu esforços para a construção desse novo parque. Foram inúmeras reuniões aqui e em Brasília para conseguirmos viabilizar os investimentos. É uma obra que prima pela excelência em modernidade e funcionalidade a disposição de qualquer empresa do gênero que queira se instalar aqui. Temos a absoluta certeza de que Sergipe está galgando um novo patamar no que se refere a avanços tecnológicos dos mais diversos segmentos e, posteriormente poderá se tornar referência para todo o país”, avalia Valmor Barbosa.
Cloves Trindade discute indústria e mais segurança para Boquim
No exercício do mandato de prefeito de Boquim desde o último domingo, em virtude de viagem do titular, Jean Carlos Nascimento, o vice-prefeito, jornalista e radialista Cloves Trindade, foi recebido nesta quinta-feira, dia 14, pelo governador Jackson Barreto em Palácio. Cloves e Jackson trataram de temas que já estavam na gestão harmônica de Jean e ele.
Pauta
“Nossa audiência com o governador Jackson Barreto teve como pauta a discussão de nova indústria no setor citrícola para Boquim e também a solicitação do reforço na áera de segurança pública, algo que vem sendo tema da ação do prefeito Jean Nascimento”, disse Cloves.Segundo Cloves, a notícia repassada à gestão de Jean e dele foi a de que um grupo de peso do Estado de São Paulo tem interesse de se instalar em Boquim com atividade no processamento de laranja. A informação foi repassada a eles pelo presidente da Codise, o ex-deputado federal Sérgio Reis. Segundo, o grupo já viu a área onde deve se instalar.
Mudança
“Isso para nós é de uma extrema importância. Por mais que haja mudança no setor citrícola, com a incorporação de outras atividades rurais, como o milho e a floricultura, a laranja é a nossa matriz de bem-estar. Nosso maior suporte econômico. Quando uma indústria, do Sudeste ou daqui, se dispõe a vir para Boquim, nós só temos é que comemorar”, diz Cloves.
Segurança
Cloves, previamente discutido com Jean Nascimento, levou a Jackson Barreto também o pleito de mais segurança para Boquim. “Somos um município estratégico no Sul do Estado, com saídas para Estância, Lagarto, Tobias Barreto e Itabaianinha. Precisamos garantir mais segurança à nossa comunidade, tanto na sede quanto na zona rural”, diz Cloves.
Shopping RioMar: iniciada obra do edifício garagem com 5 pavimentos. Mais 1,4 mil vagas
Com investimentos estimados em R$ 110 milhões, no início de janeiro foram iniciadas as obras de ampliação do RioMar Aracaju, o primeiro da capital sergipana. No total, a expansão terá 49,5 mil metros quadrados, entre edifício garagem e área de loja, com previsão de conclusão para outubro do próximo ano. Com as obras, o mall do RioMar sairá de 51 mil metros quadrados para 63 mil metros quadrados, ganhando 90 novas lojas e totalizando 246 opções de compras para o cliente. A primeira etapa da expansão será a construção do edifício garagem, com 28,7 mil metros quadrados de área construída e o acréscimo de 1,4 mil vagas de estacionamento. O shopping irá disponibilizar para os clientes um total de 2,8 mil vagas, dando maior conforto na hora de estacionar. A obra do edifício garagem com cinco pavimentos – que será capaz de gerar 120 empregos – tem previsão de conclusão para o final deste ano.
Mais 20 mil metros quadrados de loja. Obra começa em outubro
Em outubro, os empreendedores NB Participações e Empreendimentos e Grupo JCPM devem iniciar a segunda etapa da ampliação que irá contemplar a área de lojas, com acréscimo de 20 mil metros quadrados. Desse total, 11,8 mil são de área de loja. Atualmente, são 158 lojas, das quais 7 são âncoras e 6 mega lojas.“Hoje, o cliente do RioMar dispõe de um completo mix de marcas. Mas entendemos que temos demanda para crescer e poder oferecer ainda mais opções de compras. Acreditamos muito no mercado de Sergipe e, por isso, já começamos o ano com as obras de ampliação”, pontuou o vice-presidente Comercial e de Novos Negócios, João Carlos Paes Mendonça Tavares de Melo. Com a ampliação, haverá incremento também na parte de fast food, com novas operações contemplando alimentação, com o surgimento de uma nova praça.
PELO TWITTER
www.twitter.com/WilliamFonseca É mais prudente confiar na intuição que no coração. Ele é cego, teimoso e altamente influenciável.
www.twitter.com/lucianopazx Quando você gasta muito acha que o problema é o salário que é pouco e a saida que procura é aumentá-lo!É isso que estão fazendo os governos.
www.twitter.com/LeonardoBoff Acaba de sair pela Vozes meu livro A Terra na palma da mão:uma nova visão do planeta e da humanidade.Temas: ciência,ecologia,ética,espiritual.
www.twitter.com/UsielRios Saca essa: Contas de brasileiros na França passam de 8 mil, perto dos US$ 7 bi em depósitos. A maioria sem declaração à Receita Federal.
www.twitter.com/sargentoedgard Os vândalos disfarçados de manifestantes quebram tudo, e a polícia é quem é acusada de violenta.
Nota de repúdio à ação truculenta da PM no 2º ato contra o aumento da tarifa
O 2º ato contra o aumento da tarifa de ônibus de Aracaju, imposto pelo Prefeito João Alves de forma ilegal e fraudulenta, foi marcado pela brutalidade e violência gratuita da Polícia Militar. Enquanto os manifestantes protestavam pacificamente em passeata pela avenida Hermes Fontes a tropa de choque se aproximou pela retaguarda do protesto. Os manifestantes iriam até o terminal DIA, mas como um grande efetivo da Guarda Municipal estava cercando o terminal, decidimos finalizar o ato no espaço aberto mais próximo, o estacionamento do shopping jardins, onde já encerramos diversos atos de forma tranquila em mobilizações anteriores.
Assim que entramos no estacionamento para finalizar o ato, policiais militares da tropa de choque sem identificação cercaram e agrediram alguns manifestantes, levando presos, sem nenhuma alegação, 4 manifestantes, que logo foram liberados da delegacia plantonista devido a total ausência de fundamento para as prisões.
Ao que tudo indica, a operação truculenta e autoritária foi uma ação orquestrada pelo Prefeito João Alves, o Governador Jackson Barreto (com seu comando da PM) e veículos da imprensa sergipana, que alem de não fazerem a cobertura do ato e da violência que ocorria, caluniou os manifestantes e estimulou a truculência policial, a exemplo do programa Cidade Alerta chefiado por Gilmar Carvalho, que teve uma conduta completamente contraria ao que reza a boa pratica jornalística, sequer ouvindo o lado dos manifestantes da Frente Contra o Aumento da Tarifa.
Não conseguirão nos intimidar. Continuaremos mobilizando a população sergipana que não aguenta mais os sucessivos aumentos da tarifa de ônibus que só engordam os lucros dos empresários. Continuaremos mobilizando o povo contra os ataques dos governos e da máfia do transporte. Não aceitaremos nenhum centavo a mais.
Amanhã Será Maior
R$ 3,10 Não, Fora João!
ARTIGO
Alina Paim: a greve na Rede Mineira de Viação
GILFRANCISCO: jornalista, professor, pesquisador, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e-mail: http://gilfrancisco.santos@gmail.com
Alina Vieira Leite nasceu na cidade de Estância sul do Estado (68 km de Aracaju) berço da imprensa sergipana, a 10 de outubro de 1919, filha de Manuel Vieira Leite e de Maria Portella de Andrade Leite, ambos sergipanos. Estudou em Estância, Simão Dias, e Salvador. Casou-se em 1943, com o médico baiano Isaías Paim e mudou-se em seguida para o Rio de Janeiro. Alina faleceu no último dia do mês de fevereiro de 2011, aos 91 anos, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul onde residia com sua filha Maria Teresa Leite Paim (1956) há onze anos. Publicou dez romances, alguns traduzidos para o alemão, russo, chinês, búlgaro e quatro livros infanto-juvenis.
(…) – A classe operária vai mesmo ser dona do mundo?
– Vai. Tão certo como o sol há de nascer daquela serra.
– Mas quando? Quando Zé de Barros?
– Na hora próxima! (…)
***
Rede Mineira
Durante os primeiros anos de sua criação, a Rede Mineira ficou dividida em duas estradas de ferro. A Oeste de Minas continuou sendo Estrada de Ferro Oeste de Minas – RMV Oeste, e a Rede Sul Mineira passou a ser denominada Estrada de Ferro Sul de Minas – RMV Sul, mas é possível afirmar que o sistema foi unificado em fins do ano de 1939 ou início da década de 1940.
Na época, existia um grande esforço de modernização da frota que demonstra a importância desse meio de transporte nessas localidades. As principais ferrovias do Brasil, como a Central do Brasil e a Santos-Jundiaí estavam trocando as locomotivas a vapor pelas diesel-elétricas, além de outros investimentos executados nessas ferrovias. Com suas atividades deficitárias, as ferrovias menores iam se mantendo com suas “marias-fumaça”.
A Rede Mineira de Viação foi composta por várias outras empresas menores, algumas como Estrada de Ferro Oeste de Minas e Rede Sul Mineira, sendo encampada pelo governo de Minas Gerais em 1931. A RMV operava nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, até 1965:
A Estrada de Ferro Oeste de Minas era administrada pela União desde 1902 e foi arrendada ao Estado de Minas no dia 24 de janeiro de 1931, quando:
Foi, pelo Governo Federal, lavrado o contrato com o Governo de Minas Gerais. Por esse contrato, ficou resolvido que a Oeste seria, como está sendo, explorada técnica e financeiramente em comum com a Estrada de Ferro Paracatu e a Rede de Viação Sul Mineira, sob a denominação de Rede Mineira de Viação.
Em 1938 a Estrada de Ferro Trespontana, Estrada de Ferro Machadense e Estrada de Ferro São Gonçalo, todas pertencentes ao Estado de Minas foram incorporadas à Rede Mineira de Viação. Em 1950 o futuro presidente da República do Brasil, Juscelino Kubitschek é eleito governador do Estado de Minas Gerais. Após acordo selado com o presidente Getúlio Vargas, a devolução da Rede Mineira de Viação à União se concretizou em agosto de 1953 e durante o governo federal (1956-1961) de Juscelino Kubitschek, que inaugura uma fase de dinamismo e desenvolvimento, conseguindo conviver com setores antagônicos, amortecer os setores golpistas e suportar as pressões populares, em 1958 cria a rede Ferroviária Federal.
A Greve
Em 26 de setembro de 1949 o delegado de Polícia de Cruzeiro, João Ranali, envia às 10,20 horas radiograma para o Diretor do D.O.P.S. de São Paulo, Dr. Elpídio Reali, relatando os últimos acontecimentos relativos a greve dos ferroviários da RMV:
A parada levada a efeito pelas famílias dos ferroviários da RMV continua inalterada pt Tende ela vg daqui para diante vg degenerar porque as grevistas instigadas por dois vereadores com tendência comunista recusam se a aceitar a proposta da Estrada que deseja pagar um mês e mais o aumento desde janeiro pt Já não existe o motivo fome que possam os grevistas se apegarem porque a Cooperativa está com mantimentos para fornecer aos necessitados pt Solicitei mais soldados ao Comandante do 5º B C de Taubaté pt Por falta de alojamento solicitei autorização para dispender da verba mencionada em seu Rádio 516 de 24 deste para transporte vg a fim comprar 10 colchões para soldados pt Prefeito esgotou seus recursos financeiros de auxílio pt Aguardo resposta urgente pt
Atencs. Sauds.
João Ranali
Delegado de Polícia
Em 1º de outubro de 1949, o delegado de Polícia João Ranali, de Cruzeiro, envia ofício nº704-49, ao Dr. Elpídio Reali, DD. Diretor do D.O.P.S., de São Paulo. Vejamos:
Hoje, de acordo com a presença feita pela Direção da Rede Mineira de Viação, estão sendo feitos os pagamentos aos funcionários daquela rodovia.
Assim, após o término da greve aqui irrompida e levada acabo por mulheres e crianças, pertencentes às famílias dos ferroviários, desaparece, com a providência que hoje se ultima, a ameaça de irrupção de um novo movimento que ora esperado a qualquer instante, caso a Rede Mineira não satisfizesse seus compromissos.
É de meu dever ainda afirmar que considero a última greve aqui verificada, como uma modalidade hábil empregada por elementos interessados em movimentos operários dessa natureza, qual seja a de colocar mulheres e criança a frente das iniciativas, cabendo aos homens o trabalho de mentores da situação.
Continuam sendo vigiados rigorosamente os simpatizantes do credo comunista e que aqui residem.
Para dar uma ideia geral do movimento, anexo ao presente ofício um exemplar do Correio do Povo, onde vem por mim assinalada, a nota sobre a atuação da Polícia local. Como é de meu feito, usei de toda a energia para evitar depredações e danos aos próprios da Rede Mineira de Viação e mantive a greve fora de qualquer ambiente onde o sentimento dos paradistas pudessem ser explorados para fins de outros, que não a objetivação das finalidades dos ferroviários que tinham seus ordenados com 3 meses de atraso.
Aproveito o ensejo para apresentar-lhe os meus protestos de elevada estima e profunda consideração.
as. João Ranali
Delegado de Polícia
O Auto de qualificação e de interrogatório da Secretaria da Segurança Pública – Delegacia de Polícia de Cruzeiro – São Paulo, datado de 1º de março de 1951 (18 h.), onde se achava presente Enzo Júlio Tripolli, Delegado Adjunto em diligência e Dr. Lysandro Bartholo, Delegado e Mussefi Hassum, escrivão, para ouvi o depoente Castorino Rocha, trinta anos, ferroviário há doze anos, tendo trabalhado na Estrada de Ferro da Central do Brasil, casado com Angélica Quintanilha Rocha, pai de um filho, residente à Rua Otávio Ramos, 493 não se negou a responder as perguntas a ele dirigidas:
[…]
Certo é que também mora nesta cidade à avenida Jorge Tibiriçá 301, um senhor de nome Pedro Américo cuja profissão é viajante fotográfico, casado com uma tal dono Edith e ambos pertencentes ao comitê do Estadual do extinto Partido Comunista do Estado de São Paulo que, dona Edith frequentava constantemente a casa do declarante e a esposa do declarante Angélica, também mantém contato com a mesma, que, no dia 18 de fevereiro último dona Edith acompanhou uma senhora de nome Alina Paim que dizia-se escritora, até a Estação e depósito da Estação, tendo essa senhora Alina pedido diversos esclarecimentos ao delegado sobre as condições de vida, sobre o funcionamento da Estação e pediu ao declarante para realizar uma reunião em sua residência, de todos os ferroviários mais em evidência e antigos da Rede Mineira de Viação, ficando combinado que essa reunião realizar-se-ia à noitinha, digo, à tarde, de fato, realizou-se essa reunião estando presente dona Alina Paim, o declarante, Angélica Quintanilha Rocha, o ferroviário Prado, digo Antonio Prado, certo é que essa senhora Alina ficou nesta cidade uns cinco ou seis dias sabendo somente o declarante que a mesma percorreu a casa de diversos colegas pedindo informes e esclarecimentos sobre a situação da estrada, assunto este que também tratou-se na reunião acima mencionada […]
Neste mesmo interrogatório, informa o depoente que:
dias depois do embarque da mesma, soube o declarante que aqui tinha estado uma jornalista comunista, loira e que tinha se hospedado na casa de Pedro Américo, que o declarante conhece como Pedro Perrota […]
Em 16 de março de 1951 o delegado de Polícia do município de Cruzeiro, Minas Gerais, Bartholo, informa ao Dr. Enzo Tripolli da Secretaria de Segurança Pública – Departamento de Ordem Política e Social – Departamento de Comunicações e Serviço de Rádio Patrulha DOPS, São Paulo, conforme rádio nº32, que o M. Juiz de Direito daquela Comarca decretou prisão preventiva de Alina Paim, alegando que a mesma esteve envolvida na greve verificada em Cruzeiro, Rede Mineira, em fins de fevereiro:
Levo conhecimento prezado colega que nesta data vg o MM Juiz Direito desta Comarca vg decretou a prisão preventiva dos indivíduos João Pinto Costa vg vulgo João Pescoço vg Pedro Américo Perrota vg Edith Américo vg João Luis dos Santos e Alina Paim vg todos envolvidos na última greve MRV desta cidade pt
Solicito providências desse Departamento a fim pedir prisão de Alina Paim no Rio de Janeiro vg para ser encaminhada para esta delegacia pt
Ats Sds
L Bartholo
Delegado de Policia
Vejamos resposta do Dops–SP, através de ofício do Delegado Especializado de Ordem Social:
Dr. Enzo Júlio Tripolli
Delegado Adjunto de Ordem Social, em diligência
Cruzeiro
Com referência a Alina Paim vg conforme seu pedido de hoje vg cumpre-me informar que a pessoa em questão fez parte do “Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores” vg realizado em janeiro de 1945 vg como delegada do Estado da Baía pt
Atenciosamente
(a) João Guedes Tavares
Delegado Especializado de Ordem Social
Em 2 de março de 1951 é expedida do município de Cruzeiro por Enzo Tripolli mais um radiotelegrama para Dr. Guedes Tavares:
Estou trabalhando sem cessar na ultimação do processo pt foi descoberto a rede dos dirigentes da greve pt pedirei prisão preventiva de Castorino Borba vg Angelina Quintanilha Rocha vg Antonio Prado vg João Pinto Costa vulgo “João Pescoço” vg Alina Paim vg Pedro Américo vg Edith Américo pt Devo observar que Angelina vg João Pescoço vg Alina vg Pedro e Edith são elementos comunistas estranhos à Rede Mineira de Viação pt conversei com Juiz vg penso correrá tudo bem pt
Enzo Tripolli
Rui de Camargo Pires, Delegado Regional de Polícia do Estado de São Paulo, envia radiotelegrama “urgentíssimo” ao Dr. Ribeiro da Cruz, Diretor do Dops de São Paulo, datado de Guaratinguetá, 28 de fevereiro de 1951. Vejamos o texto:
Nr 82 pt
Levo conhecimento V.S. que na manhã de hoje surgiu um surto grevista na Rede Mineira de Viação Sul vg na cidade de Cruzeiro vg por motivo de falta pagamento de seus empregados pt
A greve e consequente paralisação dos serviços foi originada pela presença das famílias dos empregados vg mulheres vg filhos etc vg que se postaram vg já como da outra vez no leito da estrada impedindo assim a partida dos respectivos comboios pt
Esta regional já mandou reforços policiais para àquela Delegacia e ao mesmo que recomendava ao respectivo titular que usasse de meios suasórios e persuasivos a fim de que diplomaticamente e sem violência pusesse fim ao surto grevista pt
Agora tivemos notícia que alguns elementos fizeram sabotagem nas oficinas vg razão que deu origens a detenção dos culpados e a instalação do competente inquérito pt
Queremos crer que os comboios de hoje ainda partirão em seus respectivos horários e estamos ainda de prontidão para nos transportar para aquela cidade assim que o titular daquela Delegacia sentir quaisquer dificuldades pt
Cordiais Saudações
O Delegado Reg de Polícia
Rui Camargo Pires
Durante todo o período da paralisação do movimento grevista, grupos solidários emitiram vários Boletins Mimeografados concitando à greve de solidariedade ao pessoal da Rede Viação Mineira. Os Boletins foram distribuídos na madrugada do dia 31 de maio de 1950 ela cidade, solicitando “contribuição para os heroicos grevistas de Cruzeiro” e traz o endereço da Rua Conde de Pinhal, 184 (Redação de O Sol). Vejamos alguns boletins:
A greve de Cruzeiro é uma demonstração de que a classe operária não está disposta a morrer de fome só porque os aventureiros que governam o Brasil querem entregar tudo aos Americanos e participar da guerra atômica prometendo utilizar até a Bomba Atômica para destruir povos livres.
A bomba atômica é uma ameaça a todo o cidadão e só pode ser a favor dela os que querem a continuação ao regime de negocistas e privilégios dos tiranos Dutra, Ademar & Cia.
Demonstre que você é contra a Bomba atômica e contra a guerra levando a sua contribuição aos heroicos grevistas de Cruzeiro – por um pedaço de pão – àqueles que trabalham.
Rua Conde de Pinhal, 184 (Redação de O Sol)
***
Outro Boletim
Ao Povo de São Paulo
Encontra-se em greve 8.000 ferroviários da Rede Viação Mineira. Querem aumento de salários. Estão lutando contra a fome e a miséria!
A luta desses bravos operários é a luta de todo o povo brasileiro que já está cansado de tanta exploração por parte do atual governo de fome e terror policial que aí temos!
As esposas dos grevistas estão arriscando suas vidas, deitando-se nos trilhos para garantir a vitória dos seus companheiros!
É, portanto necessário que todo o povo dê sua ajuda àqueles bravos operários, principalmente os trabalhadores da Vidraria Santa Mariana, Curtume Franco Brasileiro, Mecânica Matarazzo e Companhia Melhoramentos, que devem ir até à greve de solidariedade.
Toda e qualquer ajuda pode ser enviada à redação de “O Sol” na Rua da Glória 111.
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Ordem de Prisão
A Justiça das classes dominantes teme cada vez mais o despertar do povo. É disso um exemplo o que se passou no interior paulista. Grande é o número de patriotas encarcerados pelo “crime” de lutar por uma reivindicação sequer ou de divulgar jornais da imprensa popular. Alina Paim, jovem e brilhante escritora viajou para Cruzeiro, a fim de colher material para um romance em que procurava retratar a vida e a luta dos ferroviários e de suas destemidas companheiras. Ali passou dias entre os trabalhadores no desempenho de sua nobre missão.
No Brasil, as mulheres estão à frente das lutas. Famintas mas resolutas, elas estimulam os companheiros. E entre as grandes lutas travadas no Brasil, a da Rede Mineira de Viação, em 1944, empolga-a pela grandiosidade de que se revestia e pela participação feminina:
Alina também se sente empolgada pelo heroísmo das mulheres. E resolve partir e conversar com elas. Quem sabe, se do contato com as mulheres operárias nas nasceria o romance que necessitava escrever? Alina arruma a bagagem, cadernos e lápis, e lá se ai ela: Divinópolis, Três Corações, Soledade, Itajubá, Cruzeiro, são as cidade da Rede Mineira que vai percorrer. (1)
Sobre a abordagem da mulher em sua obra, Alina Paim confessa em entrevista “A Redescoberta de Alina Paim: o realismo crítico da romancista” concedida ao autor em abril de 2008, que:
A mulher está sempre presente em minha obra, mas não tem relação com minha infância, apenas com a compreensão que tem da vida. A mulher era muito importante por isso deveria estar presente. (2)
Mas o Juiz de Cruzeiro decretou a prisão de Alina, num processo forjado em sua comarca contra os bravos ferroviários que exigem um pouco de pão na mesa dos lares. Trata-se de atentado contra os trabalhadores, pior ainda que os praticados sob o Estado Novo de Vargas, quando Monteiro Lobato foi encarcerado. A medida fascista contra a escritora Alina Paim atinge a todos os que pensam e escrevem em nosso país.
Solidariedade
O Momento Feminino, em solidariedade a Alina Paim publica em sua edição de abril de 1951 o seguinte texto:
O escritor brasileiro perdeu o direito de produzir obras honestas, baseadas em fatos concretos. Perdeu o direito de pesquisar, de trazer para o enredo dos romances os sentimentos, as lutas, a vida do povo.
Alina Paim, nossa colaboradora, a jovem romancista que escreve o que existe de real e o que aparece de novo contra a realidade dolorosa da exploração, foi a Cruzeiro, em Minas Gerais, pesquisar fatos para escrever um livro em que vai retratar a vida e as lutas dos ferroviários, das mulheres que se deitam nos trilhos da estrada de ferro e exigem pão para os filhos. Por isso, o juiz daquela localidade expediu um mandado de prisão contra Alina. Por isso, Alina está sendo processada.
Protestamos contra essa medida nitidamente fascista copiada dos julgamentos de opinião nos Estados Unidos e, nos solidarizamos com Alina Paim, a quem nos habituamos a querer bem pela sua modéstia e bondade, e a quem admiramos pela sua firmeza em defender o direito de fazer literatura popular. Sabemos que traduzimos, também, o protesto e a solidariedade de todos aqueles que desejam dar a escritores como Alina um mundo de liberdade para criar as verdadeiras obras literárias.
A Hora Próxima
Em dezembro de 1950 Alina publica na Voz Operária, o capítulo “O Comunismo é como o vento” sobre o Velho Tião, personagem do romance. Vejamos um pequeno trecho:
Velho amigo, no ponto da entrada em que estejas, no coração de Minas, tira o boné, solta teu cabelo ao vento e canta uma canção. Comemora a vitória dos coreanos, eles são nossos irmãos, sua vitória também é nossa. Velho Tião, faz a festa cantando, faz a festa distribuindo o Manifesto de Agosto. No programa da Frente Popular de Libertação Nacional está o fim da escravidão de nosso povo, estão a terra para o camponês, a fábrica para o trabalhador, a liberdade para a mulher, a instrução para todas as crianças. Levanta bem alto a bandeira da revolução, solta nas estradas a palavra de Prestes. Tu disseste Velho Tião: “o comunismo é como o vento”. Quem poderá segurar o vento quando ele estiver solto entre nós! (3)
A literatura popular refletiu as lutas desse período. Em particular a coleção, “Romances do Povo”, dirigida por Jorge Amado, publicada pela Editora Vitória que reuniu 25 títulos de autores de vários países. Um desses livros, A Hora Próxima, de Alina Paim, escritora sergipana militante do Partido Comunista do Brasil e colaborou na elaboração de uma narrativa literária que espalham as lutas do povo, revelando o futuro de inevitáveis conquistas para o proletariado. A Hora Próxima, título que compõe a coleção (Vol. XI) vendeu 10 mil exemplares somente na primeira tiragem, em 1955. O livro foi traduzido para o russo e chinês, segue as pegadas de Jorge Amado, introdutor e praticante-mor do realismo socialista no Brasil.
A partir dos anos 50-60 temos a explosão da linguagem e dos temas em Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles, cujo achado vão inspirar e alimentar o surgimento de uma prosa densa, combativa e reivindicatória, em busca da afirmação da mulher na sociedade, em igualdade de condições com os homens. Essas são mudanças significativas nos direitos das mulheres. Romancista como Alina Paim questiona os modelos, reivindica a igualdade, denuncia as mazelas da educação patriarcal, analisa a maternidade e as relações no espaço do místico, assume a emergência do erotismo, encara a violência, assume as contingências da liberdade sexual.
O lançamento no mercado da pílula contraceptiva, seu engajamento nos movimentos reivindicatórios, outros marcos, delinearam um novo perfil de mulher. As mudanças sociais e culturais ganham novo ímpeto dos anos 70 até o momento atual, como desenvolvimento acelerado das mídias, a comunicação via internet fazendo parte do dia-a-dia, abrindo perspectivas para divulgação de conhecimentos e troca de ideias sobre questões de gêneros.
Segundo Jacob Gorender, em 1950, ouve uma reunião no Rio de Janeiro, num apartamento em Copacabana dirigida por Diógenes Arruda, então braço direito de Carlos Prestes, contando com a presença de aproximadamente 30 intelectuais militantes, entre eles Alina Paim, James Amado, Carrera Guerra, Astrojildo Pereira, Werneck de Castro, Oswaldino Marques e outros. O objetivo do encontro era “implantar a teoria do realismo socialista entre os intelectuais comunista”. Arruda tentou orientar a produção cultural dos militantes, mas encontrou resistência, porém, entre os próprios intelectuais alinhados, caso de Graciliano Ramos.
A ação central do livro é uma greve dos ferroviários em 1950, em vários entroncamentos da Rede Mineira. A estrada da Rede, em Cruzeiro, é tomada por um piquete de mulheres com a tarefa de deter a locomotiva 437 que se prepara para engatar uma composição e seguir viagem. O maquinista titubeia e, ante a firmeza e ousadia do grupo de mulheres, pára a locomotiva nº437, que imediatamente tem na caldeira esfriada e posta fora de combate. A locomotiva se tornará a bandeira do movimento grevista. Escrito há mais de sessenta anos, A Hora Próxima, se refere ao grande momento em que as massas, protagonistas de uma ação política organizada e revolucionária, dirigirão a humanidade ao rompimento da aurora. A narrativa de Alina Paim se prende à ação das massas, sem, contudo tornar-se aprisionada de factualismos e justificativas.
O jornalista Carlos Oliveira, militante da Gazeta Socialista, ao comentar A hora próxima, novo romance de Alina Paim, faz crítica severa a sociedade burguesa sergipana:
Geralmente, burguesinha sergipana tende para respeitável matrona ou severa titia. Tudo aqui é pacato e morno. Espírito e corpo repousam numa letargia de quem se está consumindo em fogo brando. Conhecendo essa realidade, surpreendi-me ao ver que o décimo primeiro volume da coleção “Romances do Povo” era escrito por uma sergipana. Matutei nas cargas d’água que fizeram incluir numa seleção da chamada vanguarda literária do realismo socialista, a magricela escritora de Simão Dias.
Após a leitura desse quarto romance, relutei em criticá-lo. É que sou demasiado latino na apreciação dos feitos do belo sexo. Somo a isto, a má educação brasileira. Foge-me da pena, à serenidade. Se elogiar, julgo-me na posse daquela alma sensível. Se combater, sinto-me covarde, dando em mulher. É sob os impulsos dessas tendências que analiso A Hora Próxima. […] Um aroma suave, às vezes, sopra as páginas de A Hora Próxima, amenizando a temperatura do seu clima escaldante. Isto acontece nos momentos de ternura que transbordam dos espíritos aflitos das mulheres que compõem o cerne da greve. A marcha dos seus pés obstinados levando-as ao encontro das locomotivas, a audácia das suas mãos conquistadoras que detiveram os movimentos dos monstros de fogo e aço, embora despertem simpatia pelo novo caminho, cedem ao calor humano dos diálogos simples entre as grevistas no interior do acampamento, trocando gentilezas e firmando aquela tranquila solidariedade tão comum entre donas de casa. (4)
Sobre o processo judicial comenta Alina Paim em entrevista “A Redescoberta de Alina Paim: o realismo crítico da romancista” concedida ao autor em abril de 2008:
Decretaram a tal ordem de prisão, processo em torno de mim. Fizeram o desagravo de querer me condenar por causa do livro, c onduziram-me a uma porta e havia uma grande fila. Havia inúmeras pessoas para beijar a minha mão pelo livro que eu tinha escrito sobre a vida deles. Mandaram-me estender a mão para todos e após teria a reunião do desagravo. Um velho ferroviário me abraçou, chorou e disse que eu havia escrito a vida dele, foi à coisa mais comovente esse encontro com o velhinho.
Senti-me completa ao escrever sobre aquela luta, o Partido apoiou a tradução de “A Hora Próxima” em russo e chinês. O sucesso desse romance foi o fato de que a luta operária era o centro, a história de uma greve forte na maior ferrovia de um país. (5)
Realismo Socialista
A década de 30 foi um momento difícil para os intelectuais marxistas. A ascensão do nazismo, de um lado, e a consolidação do stalinismo, de outro, produziram um estreitamento de horizontes. O realismo Socialista, corrente artístico-literária que surgiu na antiga URSS durante o stalinismo, sendo oficializado em 1934, quando se realizou em Moscou o Primeiro Congresso dos Escritores Soviéticos, acontecimento importante para o futuro das relações entre intelectuais e artistas com o movimento comunista. Até então, vigorava na Rússia uma política cultural pluralista: desde a Revolução de 1917, o Estado não interferia diretamente na vida cultural. Havia uma liberdade de criação acompanhada de uma política cultural flexível que se recusava a impor aos criadores artísticos um modelo qualquer a ser seguido. (6)
Na classe operária e no partido, o movimento dos Prolekcults (círculos de cultura proletária) se ampliava. A ambição desses círculos era de renovar toda a cultura em conformidade com as aspirações do proletariado:
Propunham grandes problemas e formavam nas grandes cidades, grupos pequenos, muito ativos, que se ocupavam de poesia, de teatro, de crítica literária. Esse movimento só chegou a formar um certo número de poetas que, muitas vezes, iria, cair em trabalhos banais e sem originalidade sobre a fábrica, o trabalho penoso, o heroísmo proletário. (7)
Portanto, Lenin viu surgir em seu país após Outubro uma série de movimentos artísticos, dos mais diferentes que pretendiam ser os verdadeiros representantes da sociedade socialista. Diante dessa diversidade, o Estado Soviético prudentemente, evitou a escolha de um deles como representante do “novo regime”.
O princípio fundamental do Realismo socialista é a captação da realidade com a visão partidária, objetivando uma tomada de posição explícita a favor da construção do socialismo. Da fusão entre partidarismo e o chamado romantismo revolucionário derivou a concepção esquemática e maniqueísta dos temas e personagens. Salientou-se a exaltação do proletariado como “herói positivo” na construção do amanhã (para o qual o próprio Stalin seria um suposto arquétipo); adotaram-se as formas simplificadas, a exuberância decorativa e a comunicação fácil com o público leitor ou espectador. Foi justificado ideologicamente nos informes de Andrei. A. Zdanov sobre arte e literatura (A frente ideológica e a literatura) e, sobretudo durante o stalinismo, foi á teoria artística oficial na URSS e em outros países socialistas. (8)
O Realismo Socialista, padrão estético imposto pelo regime comunista na antiga União Soviética, com a missão de controlar a produção intelectual, subordinando-a aos cânones dogmáticos do comunismo de então. De acordo com tais princípios, a literatura e a arte deviam exercer papel exclusivamente pedagógico, difundindo os esforços comunistas para a construção do “homem novo” e do “mundo novo” nos países socialistas. Para tanto, os textos deveriam ser pautados pela objetividade social e participante. Em lugar da cultura burguesa, considerada pelos comunistas “decadentes e degenerada”, os escritores e artistas tinham por obrigação se empenhar em edificar a “cultura proletária”, que julgavam a única capaz de desmistificar os valores morais da classe dominante e sustentar o caráter revolucionário da obra de arte. Graciliano, apesar de se ter filiado ao Partido Comunista, jamais tolerou tal ingerência partidária no campo da literatura. Sobre o realismo socialista, Alina Paim afirma: minha obra faz parte do realismo crítico, o livro da greve, esplendoroso, é um livro classista, uma reivindicação por melhores salários. (9)
(artigo inédito, 4.01.2016)
(1) O Romance de uma romancista, Ana Lúcia (Entrevista). Rio de Janeiro, Momento Feminino – um jornal para o seu lar, Semanário dirigido por Arcelina Mochel, 1955.
(2) A Romancista Alina Paim, GILFRANCISCO. Aracaju, Edições Base nº3, agosto, 2008.
(3) Voz Operária. Rio de Janeiro, Ano II, nº82, 16 de dezembro de 1950.
(4) A Hora Próxima, Carlos Oliveira. Aracaju, Gazeta Socialista, Ano I, nº42, de 29 de setembro de 1956.
(5) A Romancista Alina Paim, GILFRANCISCO. Aracaju, Edições Base nº3, agosto, 2008.
(6) Lukács – um clássico do século XX, Celso Frederico. São Paulo, Editora Moderna, 1997.
(7) A Vida Literária, in O Ano I da Revolução Russa. Victor Serge. São Paulo, Editora Ensaio, 1993.
(8) Literatura, filosofia e realismo, Máximo Gorki e A. A. Zdanov. México, Coleção 70, Torres & Abreu, 1971.
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Frase do Dia
“Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem.” Rosa Luxemburgo, filósofa e revolucionária polonesa, morreu em 15 de Janeiro de 1919. (Nasceu em 5 de março de 1871)