Automedicação: um péssimo hábito na rotina dos brasileiros

Oração não é pedir. É um anseio da alma. É uma admissão diária das próprias fraquezas. É melhor na oração ter um coração sem palavras do que palavras sem um coração ( Gandhi )

A grande carência de atendimento médico em nosso país, aliada ao excesso de medicamentos à venda levam a maioria dos brasileiros ao arriscado e extremamente perigosos caminho da automedicação.

O que se observa é um emaranhado e tortuoso caminho de falácias!!! Os médicos e os farmacêuticos condenam os fabricantes e se eximem de culpa, porém o problema continua acontecendo: o nosso povo permanece tomando e indicando medicamentos a familiares, amigos e conhecidos, como se fosse simples receitas de bolos ou quitutes culinários.

Segue fielmente anúncios na imprensa de medicamentos para o fígado, para impotência, para o envelhecimento, para “prisão de ventre” ou diarreia, e até para o uso de vitaminas, ou seja o milagre é total no uso desses “remédios” na cura de mil e uma utilidades (o chamado remédio “ bombril” ), resultado em geral de consulta ao balconista da farmácia (quase nunca o farmacêutico ), que de forma solicita, faz o “diagnóstico”, aconselha o medicamento e “resolve”o seu problema.

Em contrapartida, nos hospitais o setor de intoxicação identifica que o uso indevido de medicamentos é a causa de quase 50% dos seus atendimentos, e o que é pior em sua maioria ocorre em crianças menores de 12 anos.

Como dizia um amigo meu, o hábito da automedicação é mais antigo que “rascunho da Bíblia”…

O que sabemos, com toda a certeza é que até meados do penúltimo século, os remédios eram naturais, derivados de plantas e seu uso era orientado pelo conhecimento adquirido e transmitido de geração a geração.

Atualmente se utiliza substâncias químicas e algumas biológicas, (muito mais potentes e perigosas), de forma similar a de que nossos ancestrais usavam chás e infusões, sem que  no entanto termos o conhecimento adequado sobre tais produtos.

Devemos chamar a atenção de que não há nenhum medicamento totalmente inócuo quando tomado incorretamente, por que certamente ele poderá mascarar sintomas, agravar a doença ou produzir novas patologias clínicas, provocar intoxicações e mesmo dependências, além de prejuízos individuais.

É  o exemplo dos antibióticos, que usados de forma inadequada, seleciona bactérias resistentes que posteriormente podem ser transmitidas a outros indivíduos, o que consequentemente leva a um fato desastroso, qual seja de que para o seu combate, serão necessários outros antibióticos mais fortes, mais específicos, e em geral mais caros.

Um dos fatores que estimula a automedicação é o próprio excesso de remédios à venda, que induz ao seu consumo indiscriminado, no momento a Organização Mundial da Saúde (OMS) garante que cerca de 250 medicamentos seriam suficientes para tratar 95% das doenças conhecidas, curiosamente sabemos que no Brasil, o Ministério da Saúde registra mais de 100 mil apresentações de medicamentos, das quais 50 mil estão no mercado, pergunta-se:será preciso tanto remédio?

Em nosso país não apenas se tolera, mas até se estimula a automedicação, pelo uso de uma  propaganda muitas vezes agressiva , insistente e poluída .

Isso cria uma demanda artificial quer seja por medicamentos inócuos, quer seja por outros mais diretamente prejudiciais.

O que se constata é que a propaganda e a promoção representam em muitos casos 50% do preço final do medicamento, excluído o lucro do varejista, ou seja, o indivíduo está pagando para automedicar-se.

Em suma, a automedicação não é apenas um hábito condenável de nossa população,por que infelizmente temos a contrapartida que fica por conta da inexistência de uma infra – estrutura de atendimento médico integral e gratuito (cadê o SUS?), acessível a todos e a todas…

Por outro lado as farmácias perderam totalmente (ou parcialmente) sua função social e hoje se restringem a serem pontos comerciais e conseguem chegar aos pontos mais longínquos de nosso país, antes do aparecimento do atendimento das equipes de saúde.

A Anvisa e nossas Leis Maiores impõem restrições à comercialização de vários medicamentos, por exemplo, os de tarja preta e os de tarja vermelha, que só podem ser vendidos com a apresentação de receita médica adequada.

Mas será que isso é respeitado?

O que sabemos com muita propriedade é que não precisamos mudar o sistema de saúde do Brasil, e sim respeita – lo e faze – lo funcionar de forma correta e honesta.

O gestor não pode tratar a saúde brasileira como um bem de consumo, que uma vez perdido, pode ser adquirido em um estabelecimento comercial, para ser reposto de forma total e adequado, por que isso é um raciocínio sabidamente estúpido e desnaturado

A saúde não é uma peça de um equipamento facilmente substituída, e sim um item insubstituível da vida do cidadão.

Não se automedique.

Procure sempre um médico ou uma Unidade de Saúde para uma vida melhor, para você e sua família.

Uma boa e agradável semana, com muita saúde, e acima de tudo com muito respeito as orientações de seu Médico…

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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