Café Pequeno- Aniversário da Cidade

E Aracaju completa mais um festivo aniversário ostentando o título da

cidade de maior qualidade de vida do país!

 

Eu, nostálgica que sou, já começo a sentir saudades… enquanto relembro com carinho da bucólica Aracaju que desaparece.

 

As lembranças são nítidas especialmente da colina do Santo Antônio onde meus tios moraram na casa, quase normanda, no alto da encosta. Lá passamos tardes memoráveis entre frondosos pés de saputis emoldurados por enormes janelas de caixilhos de vidro.

 

A Atalaia era um imenso coqueiral em 1967 quando veraneamos por lá. Toda manhã íamos à praia deserta e a tarde pescávamos siris na maré do Apicum. De noite no escuro, ainda não tinha energia elétrica, observávamos atentos a luz do Farol.

 

Apesar de tantos verões jamais esquecerei esse primeiro de muitos veraneios depois curtidos de pé descalço na Atalaia Nova de ruas de areia e praças com quadras de vôlei gramadas. À noite íamos para  festinhas de short e sandálias havaiana.Verdadeiro paraíso adolescente!

 

Também guardo dessa fase as melhores lembranças. Passear pelo comércio de loja em loja, freqüentar os armarinhos em busca de botões de madre pérola… contas grandes e elástico para fazermos maria chiquinha. O cachorro quente no Parque finalizava o roteiro dessas tardes descompromissadas.

 

Sábado a noite programa infalível desde então: o caranguejo na Atalaia quase sempre no Veludo o mais famoso da época e, acredito, o primeiro grande empreendimento da orla.No Manequito ficavam os loucos e “ cabeças”  e no Barraco os descolados.

 

Domingo de tarde matinee no Cine Palace ou Vitória, depois tomar sorvete na Cinelândia e parar na retreta da Praça Fausto Cardoso em frente ao relógio para depois esticar na domingueira do Iate.

 

Nem sempre pude ir nas tardes dançantes da Atlética e raramente fui de noite no Iate, programa para maiores, mas na boite Oxente, no Cotinguiba, onde só enxergávamos dentes e roupas brancas na luz negra fui, me achando…

 

Tempos depois o Circo Amora e Amores fazia a alegria da cidade e havia o céu, os rios e muitas praias desertas. Naquela época o must era o Bar do China com uma esticadinha no Over Night.

 

E a Aracaju do terceiro milênio o que nos aguarda? Em processo de crescimento observamos que, apesar das mudanças, ainda vivemos numa cidade de escala ideal.

 

Enfatizo o ainda porquê, na post-modern Aracaju dos Jardins, já se  delineia uma nova paisagem urbana projetada para carros em velocidade num ambiente hostil a pedestres.

 

Mas a Aracaju modernista do Bairro São José permanece intacta com suas casas de platibandas retas, painéis de cobogó, venezianas e colunas revestidas de pastilhas, hoje ameaçadas. Momento ímpar da nossa arquitetura.

 

Mas gostoso, gostoso mesmo permanece a Aracaju dos antigos casarões da Rua de Estância, da Rua de Itabaiana perto do Centro, das praças com bancos convidativos.

 

A Aracaju da Rua da Frente, do Bairro Industrial , da Colina… do domingo na praça e Natal no Parque. Deliciosa para morar.

 

E poder flanar por aí a pé, é luxo só!

 

E assim coexistem as várias Aracajus, a do Plano Pirro, a dos conjuntos, a das invasões, a da combalida área de expansão e o esboço do que provavelmente será, em breve, a nossa selva de pedra.

Em qual delas gostaríamos de viver?

 

É hora de refletir. Os tempos são outros e desenvolvimento já não rima com metropolização.

 

Entramos na era de reciclar, reaproveitar, reutilizar….

 

E sendo assim, quem sabe, preservaremos por muito mais tempo o título que nos enche de orgulho.

Passarela das Flores-Aracaju-Foto Gândara Jr.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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