Cinema e (pós) pandemia?

Prof.ª Dr.ª Andreza S. C. Maynard

Universidade Federal de Sergipe

Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Fonte: https://vejario.abril.com.br/programe-se/cinemas-nostalgia-sessoes-privadas/. Acesso em 18/06/2021.

A indústria cinematográfica foi diretamente afetada pela pandemia do novo coronavírus. Diante do cancelamento de grandes projetos em andamento e do fechamento das salas de exibição por meses, chegou-se a cogitar que este seria o fim do cinema como conhecemos. Será?

Locais de aglomeração por natureza, tanto os sets de filmagem quanto as salas de exibição se tornaram alvos das autoridades sanitárias. Mas a adoção de estratégias como a redução das equipes nos locais de gravação e a realização de testes garantiu a continuidade da produção em 2020. Por sua vez, o setor ligado à exibição foi o mais impactado.

Em nenhum outro momento da história, o cinema se deparou com tamanha dificuldade. Mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, a produção de filmes e a frequência aos cinemas foi suspensa apenas nos países em que os exércitos se enfrentaram. Nesse caso, a interdição era geograficamente localizada. No Brasil, por exemplo, o funcionamento não foi interrompido entre 1939 e 1945, mas o coronavírus fechou os cinemas de todo o país em março de 2020.

Apesar disso, nunca se viu tanto filme quanto durante a pandemia. Isso tanto para o Brasil quanto numa perspectiva mundial. Forçada ao isolamento e à permanência em casa, as pessoas recorreram às plataformas de streaming. Durante a pandemia, a cultura foi essencial para manter a saúde psicológica e mental de milhares de indivíduos.

Em países como o Brasil, o lançamento de filmes diretamente em plataformas digitais representou o acesso a produções internacionais e nacionais que dificilmente chegaria às salas físicas. Tanto mais se considerarmos o restrito parque exibidor brasileiro. De acordo com o IBGE, menos de 9% das cidades têm salas de exibição, e boa parte está localizada em grandes centros urbanos.

A partir de agosto de 2020, os cinemas começaram a reabrir, mas as sessões eram esvaziadas. Mesmo com a adoção de protocolos de segurança sanitária, o público se manteve afastado da sala de exibição.

Com os cinemas fechados, ou com fortes restrições quanto ao número de pessoas, chegou-se a tentar reviver o drive-in, mas a moda não emplacou. Em 2020 e início de 2021, o streaming se estabeleceu como a principal e mais rentável forma de consumir filmes e séries.

Apesar do avanço na vacinação e da queda do número de mortes, as bilheterias no primeiro semestre de 2021 estão aquém do esperado. Isso não significa que formas mais tradicionais de apreciação de filmes deixem de existir num futuro próximo. E a realização do Festival de Cannes, entre 6 e 17 de julho, de forma presencial, é um sinal de que a indústria cinematográfica não pretende renunciar às salas físicas.

Retornando à provocação inicial, se haverá cinema depois da pandemia, a resposta é uma dupla esperança. Almeja-se que em breve possamos estar numa fase pós-pandêmica e que existam cinemas funcionando depois disso tudo.

Para além de proporcionar o acesso ao filme, o cinema é dotado de algo que falta a outros ambientes. O ritual das luzes se apagando, da tela sendo iluminada, enquanto nós esquecemos o mundo lá de fora, ainda faz desse um lugar especial, capaz de nos arrebatar numa experiência de inigualável magia.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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