Coisas da vida.

O ator Will Rogers estapeou o comediante apresentador do Oscar que chacoteara a moléstia de sua esposa, entendendo-a como motivo de riso.

Meio mundo de gente caiu de pau no ator que traduzira seu desgosto com tal violência explicitada.

Não é o meu caso. Se não sou afeito a violências, não me vejam um ser educado.

Não! Eu não uso da violência porque me vejo incapaz de cometê-la no grau da intensidade desejada, afinal quem dela utiliza deve estar preparado para o acréscimo, cada vez crescente em revide.

Veja-se, por exemplo, a Ucrânia.

Ninguém está dando razão ao Putin invasor, que preventivamente conduz uma guerra que se armava contra a Rússia.

O herói, nesse contexto de meio copo vazio ou cheio, é um outro comediante, por piadista de profissão, o ucraniano, Volodymyr Zelensky, que trocou o picadeiro pela política, mimetizando ampla plateia, mundo afora, convencendo a torcida a trocar de banda, saltar do rubro encarnado, para o azul desfigurado; coisa que não fica bem, nem por garantido e caprichoso, muito menos em patolas de cartolas ou gralhas de urubus , por embates de  FLA-FLUs.

Porque uma coisa é a disputa em campo de várzea ou passarela, quando o bumba-meu-boi não sangra e só a bola é quem rola; outra coisa é o conflito ideológico, a posse territorial entre vizinhos, sem falar de velhas histórias em conflitos milenares.

Mesmo porque o homem é o mesmo, embora se diga o contrário, do neto renegando o avô, o bisavô e o pai-avô, como cantavam os antigos, por coruja não ter pai e bacurau não ter avô.

O homem continuará, para sempre, sem se amar, como pregara debalde Cristo.

E sem se tolerar!, o que é mais terrível! Porque tolerar é mais fácil do que amar!

E há tantos que não amam nem toleram os próprios filhos, justo aqueles a quem pôs no mundo!

Amar é dificílimo!

Excelente texto de Irvin D Yalom, centrado na vida do Filósofo prussiano, Friedrich Nietszche (1844-1900)

É tarefa de Santos, talvez filosofando como Nietzsche quando perdeu a razão se abraçando em prantos a um animal vergastado pelo seu dono só porque desabara no chão, vencido pela carga, que era insuportável a transportar.

 

Ou seja: ninguém quer ser Santo.

 

Nem Putin, o invasor marginal, nem Zelenski, o novo líder nascido; nem o ator, Will Smitt, o premiado estapeador ofendido; nem o pouco engraçado Chris Rock Roger, o estapeado; nem a Academia do Oscar, que a tudo “lamentou”; nem Joe Biden, o sorridente presidente; e nem eu, que aqui escrevo, sem restar bem silente, por mais distante e só assistente.

Mas, eu não quero morrer sem os meus pecados!

Assumo-os todos!, com direito próprio de ser humano e falível!

Porque não é fácil cada um ser o que é, em próprios limites, e suas circunstâncias!

Mas, como dizia Nietzsche, “enfim só houve um cristão e este morreu na Cruz”.

Esperemos que Deus, perante quem ninguém é justo, nos acolha, por derradeira esperança.

E aqui eu me volto para o grande poema de Péguy: “Que os homens tenham Fé, isso não me espanta, diz Deus: há uma explosão de mim na natureza… Que os homens tenham Caridade, isso não me espanta, a menos que eu não lhes tivesse dado um coração de carne, mas de pedra… Que os homens tenham Esperança, isso me espanta!”

Essa Esperança que se vê nos olhos de uma criança, como o das minhas duas netinhas, Luísa e Isabela, com dez meses apenas! E engatinhando! E sorrindo! Na certeza de que existe um amanhã, mais belo que o de hoje, e o de agora, com o Sol se renovando, apagando trevas e esquecendo mágoas; despertando a vida renovada e a continuada vontade de viver, de ir em frente, de prosseguir!

“Que os homens tenham Esperança, – diz Deus, por Péguy, isso me espanta!”

E o tema me vem também porque o grande ator Alain Delon, aquele cujos jovens de meu tempo queriam parecer e imitar, está a se despedir da vida.

Optou por uma morte assistida, invocando um Acidente Vascular Cerebral (AVC) irreversível, por direito assim confessado, afinal onde reside, a Suíça, a Eutanásia é garantida enquanto escopo legal dos ali residentes.

Em post divulgado na última sexta-feira, 25, por seus familiares, despede-se o ator: “Eu gostaria de agradecer a todos que me acompanharam ao longo dos anos e me deram grande apoio. Espero que os futuros atores possam encontrar em mim um exemplo não só no campo do trabalho, mas na vida cotidiana entre vitórias e derrotas. Obrigado, Alain Delon”.

A questão da Eutanásia, muito longe de uma mera contenda legal, envolve amplas discussões: histórica, religiosa, ética e filosófica, e o que se quiser no âmbito livre do arbítrio e do desejo.

Em pesquisa realizada na França, que é um país onde a morte assistida é proibida, há um entusiasmo muito grande pela Eutanásia, tida como uma morte digna, por piedosa.

Daqueles ouvidos por tais institutos de consulta, tida randômica e desprovida de manipulações, 44% dos franceses são absolutamente a favor, e 48% o são em alguns casos.

Dito assim, em torno de 92% , excedente maioria, seriam favoráveis a uma legislação permissiva nessa área.

A Filosofia ficando maluca de Jean-François Braustein.

 

A notícia de Delon me fez voltar ao estudo de Jean-François Braunstein, “La philosophie devenue folle”, a filosofia se tornando maluca, tema já discutido por alguns artigos meus nesse blog, quando abordei diversos “debates societais”, por não serem tão assim sociais, e só para utilizar linguagem escolhida pelo autor, para inserir diversas questões atuais, tão malucas, quanto dissolutas, qual seja, o da amputomania, a retirada de músculos sadios do corpo, por não ser do agrado e simples estética; a zoofilia, ensejando múltiplos enleios sexuais com animais em bons consentimentos; o eugenismo, erigindo boas práticas antes só dos nazistas para o aperfeiçoamento da raça; o utilitarismo, para o emprego de doentes terminais e/ou “handicapés” como cobaias científicas; muitas questões de violação da ética médica, inclusive, querendo ingressar por fim, no tema terminal da vida; de uma humanidade afadigada, cansada de si mesma, em busca do homem derradeiro; essa coisa que Yuval Harari, tentou dissertar enquanto sonho de Homo Deus, perpetuado, em bom uso de peças orgânicas repositivas, por busca de uma imortalidade nunca alcançada.

Foto do Pentobarbital exibido por Le Figaro em 1 de abril de 2021.

À parte tudo isso, outro dia vi no Le Figaro (1º  de abril de 2021) a matéria “Quand des pro-euthanasie se font trafiquants de barbituriques”(quando os pró-eutanásia se fazem traficantes de barbitúricos) de Stéphane Kovacs e Paule Gonzalès, em que por baixo custo e via internet, é possível adquirir na França, frascos de pentobarbital de sódio, potente anestésico de venda proibida, mas fabricado na Dinamarca e com distribuição franca nos mercados do mundo.

Segundo os distribuidores do produto, há uma ampla procura pelos que desejam morrer dormindo no conforto de seu jardim, longe da assistência médica, mediante a utilização desta solução miraculosa, como defende a Professora Aposentada, Claude Hury, de 71 anos, “mulher qui sempre soube escolher seus homens, suas gravidezes e suas lutas”, e que entende possuir o direito de decidir o seu fim, tanto que fundou uma associação chamada, “última liberdade”, na qual milita em favor da legalização do suicídio assistido e pela eutanásia voluntária.

Em declaração a imprensa, Claude Hury, acusada de intermediar esse tóxico letal cuja venda é proibida na França, disse que: “possuir o pentobarbital ao alcance da mão foi uma solução milagrosa que ela teve a chance de descobrir, da qual não hesita em partilhar”.

pentobarbital (C11H18N2O3) é um barbitúrico sintético comumente empregado como sedativo, hipnótico e antiespasmódico na forma de seus sais de sódio ou cálcio. Ele pode ocorrer tanto como um ácido livre quanto como sais salinos de elementos como sódio e cálcio. É usado como anestésico intravenoso; no tratamento de crises convulsivas graves e também como um agente para eutanásia, é o que diz o Google.

Um especialista, ouvido na reportagem, disse tratar-se “do melhor barbitúrico para sacrificar animais, indivíduos deprimidos e criminosos condenados à pena capital”, quase ousando prometer “uma verdadeira esperança para dar o descanso eterno aos doentes terminais”.

Em forma líquida -250 euros por 50 ml -, em sais para diluir ou em comprimidos, diz outra propaganda, é menos recomendado, porque é “muito difícil engolir vários”.

Já em outro site de venda, sediado na Holanda, diz tratar-se de “um produto muito confiável e leva a uma morte suave; uma droga de escolha para o suicídio assistido”.

Em uma outra “farmácia online” recomenda-se “pelo menos quarenta comprimidos, deglutidos com molho de maçã ou sorvete para reduzir os efeitos colaterais, como vômitos”.

Como determinar sua dose letal?  – pergunta a reportagem – “Basta informar sua idade e peso, diz um terceiro site, e “nossos especialistas poderão determinar qual dose será letal ideal para você”. Conte no “máximo 36 horas” para um entrega “100% discreta”, com “política de reembolso/devolução para garantir a máxima satisfação”.

No caso em questão, pelo que diz a reportagem, o barbitúrico intermediado por Claude Hury é para ser ingerido, em um suco de fruta misturado.

E se não der certo? – perguntam os jornalistas Stéphane Kovacs et Paule Gonzalès.

– “Não tem problema, há o risco de se morrer pela metade…”

Por metade da metade, o tema pode ser insólito mas é verdadeiro

Aqui mesmo, em 20 de março de 2008, escrevi o texto “Madame Sébire pede eutanásia”, quem quiser visitá-lo está em

Madame Sébire pede eutanásia. – Infonet

Diante da fragilidade da vida, indivíduos como Alain Delon encarregam o seu filho para tal missão terminal.

Como fazê-la? E que missão!

E o médico, preparado para salvar, enquanto vida existir, deve poder decidir quem deve morrer e viver?

Deve ele também aprender a matar, mesmo para cumprir um desejo como o de Delon?

Que Deus nos ajude, afinal, em todos os tempos, um bom carrasco sempre estará em boa serventia.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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