Deux Généreaux II.

As perdas da Alsácia e a Lorena, trocando de lado, ora germânico, ora gaulês, desde as guerras napoleônicas traziam consigo a humilhação e o sangue derramdo, numa ferida muito dorida e sentida, no âmago familiar da pátria, porquanto em cada lar de um lado e do outro, chorava-se a perda de um pai, um tio, um irmão, um avô ; um ente querido qualquer, que ensejaria no tempo a necessidade da retaliação.

 

E fora assim a formação dos dois militares Pétain e De Gaule, ambos buscando ao seu modo estudar os erros e suscitar estratégias para uma vitória futura, afinal naquele momento era a França que se sentia humilhada, frente a uma Alemanha belicosa.

 

Pilippe Pétain e Charles de Gaulle possuiam personalidades distintas e marcantes. O primeiro era um homem sensivel e ameno. Gostava de participar de eventos sociais e bem se relacionar. Tinha bom trânsito entre as mulheres, fazendo-lhes a corte, tendo fama inclusive de namorador, características repelidas pelo segundo, de formação austera, adepto da disciplina e do proceder retilínio, sem meneios, nem rodeios.

 

Por sua sensibilidade mais condescendente com as fraquezas do ser, Pétain se destacaria na 1ª Guerra, ainda coronel, porque sua preocupação com os comandados se manifestara desde o início da sua atuação em combate nos campos da Bélgica.

 

Ali ganharia o coração da tropa e o generalato pela maneira cuidadosa com que comandava seus homens evitando a perda inútil de vidas, muito diferente de outros que viam no soldado mera carne de canhão, e não zelavam pela logística do combate e pelas condições físicas e materiais do combatente.

 

Entendia Pétain, que o melhor soldado do mundo, se não fosse abastecido, municiado, socorrido em caso de ferido, ou substituído após duros combates, seria fadado ao fracasso e a derrota.

 

Naquele momento, a França via seus filhos dizimados, aos milhares, nas trincheiras enlameadas, nas quais se misturavam feridos e cadáveres, em padecimentos de frio, de dor, de febre, de gangrena e de fome.

 

Destaque-se que em 1917, explodiu no seio da tropa um descontentamento generalizado. Uma desolação ensejando o derrotismo e até ensaios de motim, sobretudo após o desastre de Chemin de Dames, no qual no intervalo de uma semana apenas, cerca de 100.000 homens foram postos fora de combate do lado francês.

 

O comandante desta época, o General Nivelle, pouco econômico com o sangue de seus homens, se vê então rodeado por uma deserção irrefreável, mergulhado num imenso oceano de desobediência e motim.

 

E a revolta era resistente a toda ação repressiva e violenta, algo semelhante ao que já acontecia nas estepes russas, e que ali seria responsável pela queda do Czar e pela Revolução Russa de 1917.

 

Para conter a rebelião no front francês, milhares de homens foram fuzilados por deserção em processos sumários.

 

General Pétain falando às tropas em Verdun em 1916

Até hoje não são conhecidos os pormenores destes fatos. Sabe-se apenas, por relatos esparsos e testemunhos isolados, que muitas injustiças foram produzidas. Excessos ainda desconhecidos da história, porquanto sua documentação se encontra, se é que existe ainda qualquer coisa nos arquivos militares daquela época. Arquivos mantidos em segredo por força de lei, documentos que só poderão ser abertos à pesquisa pública no ano de 2017, um século após os fatos.

 

Mas, de concreto, sabe-se que tais injustiças começaram a cessar quando o General Pétain substituiu o General Nivelle no comando da tropa.

 

Quanto a De Gaulle, a guerra o alcançaria ainda tenente. Antes fora aluno da escola militar de Saint-Cyr, tendo servido sobre o comando de Pétain, quando este como Coronel, comandara o 33º regimento de infantaria de Arras.

 

Iniciada a guerra o tenente De Gaulle seria ferido, logo no seu primeiro combate. Como capitão será mais uma vez ferido e hospitalizado, desta vez na mão esquerda.

 

Naquele tempo a ordem de então era permanecer nas trincheiras em defensiva sem ousar o ataque. Sobre este cotidiano da guerra, Erich Maria Remarque, em sua obra “Nada de novo no front ocidental”, narra o drama sofrido pelas tropas imobilizadas nas trincheiras enlameadas e empesteadas.

 

De Gaulle, muito jovem.

Ciente de que a melhor defesa é o ataque, De Gaule desobedece às deliberações de seus superiores, ordenando que o seu destacamento se exponha em ataque atirando nas trincheiras inimigas. Desobediência que lhe causaria uma suspensão por oito dias do comando, mas que revelava possuir um caráter resoluto, sem temer descumprir a hierarquia, quando a determinação a cumprir conflitasse com o seu entendimento de melhor estratégia.

 

Assim, por ser um oficial voluntarioso e inteligente, mesmo sendo considerado irascível e auto-suficiente, De Gaulle logo seria nomeado comandante adjunto do 33º regimento de infantaria.

 

Em 2 de março de 1916, seu regimento é atacado e quase destruído pelo inimigo defendendo a cidade de Douaumont, perto de Verdun. Sua companhia seria aniquilada em meio ao combate, tendo os sobreviventes sido capturados.

 

Segundo a versão oficial, De Gaulle tentara resistir, saltando pelas trincheiras quando é ferido a baioneta na coxa esquerda, sendo posto fora do combate.

 

Iniciar-se-ia um longo cativeiro, de onde tentaria fugir várias vezes, sendo punido com o internamento no forte de Ingolstadt, na Baviera, um campo de represálias, destinado aos prisioneiros recalcitrantes. Neste forte permaneceria preso até o armistício final da guerra em novembro de 1918, com a rendição dos alemães.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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