Dois temas: Zacarias e Caxias e Chacina Parlamentar de Inquérito

Em tempos de CPI: Zacarias e Caxias revisitados,

Há um versinho xistoso de autoria de Tobias Barreto, nos idos de 1859, que bem dizia assim: “Quando Deus formou o mundo, / Pra castigo de infiéis: / Deu ao Egito gafanhotos, / Ao Brasil deu bacharéis”.

Parece que foi de Tobias também, algo assim: “O gigante se conhece pelo tamanho da unha!”

Tudo tem a ver embora nada haja de haver com o tema que pretendo discutir: o infeliz noticiário da CPI da COVID.

Preliminarmente ouso advertir que não me anima qualquer proselitismo ideológico, se é possível isso acontecer.

Estou apenas dissonante aos críticos do Presidente Bolsonaro, que são infindáveis, pululando em toda e geral imprensa, faltando-lhes, no meu entender, consistência e precisão em suas críticas.

No meu apreender, o Presidente Capitão, desbocado ou não, e imoderado falastrão em demasia  (grifo em destaque necessário), vem acertando muito mais do que errando, embora todos na “velha imprensa” o ferreteiem desairosamente no focinho, não como ladrão ainda, mas como pernicioso genocida, alguém tão ominoso enquanto biocida e ecocida, desmatador e incendiário de florestas, sem falar de todas as demais gestas, nunca bem digeridas pelas tripas lassas, por más molestas e  manifestas desembestas.

Em verdade, estas críticas, não de todo imparciais e honestas, são veras cagações fedidas, descabidas demais, por desonestas; verdadeiros engulhos bovinos em refletir equino.

São só más digestas, vorazmente remoídas no inconcluso e mal escondido patrulhamento cultural.

Assim, em tantas diarreias mal processadas pelas tripas: “da tripa grossa da mulher da roça, passando pelas tripas finas das meninas e chegando a tripa gaiteira da muié sorteira”, só para não querer que me levem muito a sério, porque todos sabemos que o ladrão de ontem sempre poderá ganhar os céus, não por arrependimento ou qualquer contrição, mas porque o culpado, a lei assim o permite, com a promotoria falando demais e pouco provando o vero delito, até com PowerPoint, para que o juiz, que tudo aprova e concede, sempre possa lavar as mãos sem lixívia, igual a Pilatos no Credo.

Isso acontece, para que tudo prossiga, em compasso de contraprocesso, ou em pior passo e em melhor sucesso, por desídia, infindavelmente!

Não é mais ou menos assim no ordinário do nosso soez processual, para que tudo seja, e tudo possa, ser devidamente anulado, desde o início, na pronúncia mesmo, inclusive, para que um vício qualquer faça jus: ao bom perdão e à perfunctória alforria!?

Uma euforia, em que soa moderno o risível mote de Tobias, o nosso Barreto de Escada-Pernambuco, dando as suas barretadas, porretadas de um gigante que bem seriam mensuradas só pelo tamanho da sua mindinha unha, por arranho e pegada!

Em má pegada, todavia, está a nossa CPI do Senado, se ridicularizando pelo mindinho pensar de seus integrantes.

No contexto da CPI, Adolf Eichmann, o bode expiatório nazista, foi trazido como exemplo, equivocadamente, digo eu, porque se houve “banalidade do mal”, no seu crime cometido, enquanto homem normal e carrasco nazista, na tese imortalizada por Hannah Arendt em sua monumental obra “Eichmann em Jerusalém”, jamais poderia ser confundido ou comparado com as pretensas testemunhas-rés, ou já rés  ali ouvidas.

Se Eichmann fora alguém “terrível e horrivelmente normal, um burocrata típico que se limitara a cumprir ordens com zelo, amor e dever, sem considerações acerca do bem e do mal”, o mesmo acontecera com o juiz nazista Roland Freisler ao ameaçar e julgar os acusados e testemunhas, nos processos contra o Reich nazista, quase igual ao que alguns dos Senhores Senadores o fazem na CPI da Cloroquina.

Uma ameaça já tão explícita, valendo bem dizer agora, que a História se repete, em tragédia e farsa, atores posando iguais, em novas banalizações do mesmo mal.

E se o mundo não estivesse vendo na TV o que ocorre na CPI, com esse novo desabrochar de paixões, garimpar-se-ia na fala desses atores, em nova encarnação, não só um juiz alemão como Freisler, mas também novos “Arcanjos de Deus”, como o fora Saint-Just e o Inquisidor Fouquier-Tinville, de outra bem mais atrabiliária corte, por popular e revolucionária, que condenara Georges Danton, no longínquo terror revolucionário de 1793, quando os “indulgentes” foram processados e condenados, acusados de serem clementes, num tribunal quase igual todo potente, que não lhe dera o direito de poder falar e argumentar, em sua própria defesa.

Não está parecendo assim essa “CPI da Cloroquina”, em pronúncias dos nossos Senadores, se assim pudessem e conseguissem, calar os microfones e câmaras, impedindo que o gravado pudesse ser repetido de novo, sem o povo sair às ruas, desaprovando a todos, e sem fingir que está ofuscado ou iludido?

Ilusões e versões ao sabor das paixões, e à parte, e vendo apenas aquilo que queremos para bem ou mal analisar e interpretar, ouso deixar a CPI para rever e voltar ao remido e esquecido, do dia 7 de julho de 1870, só para citar um debate mantido entre os Senadores Zacarias de Gois e Vasconcelos e o Senhor Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, justo no término da Guerra do Paraguai, quando a caça de heróis e bandidos, bem se parece com noticiário atual, em plena guerra da Covid

Zacarias de Góes e Vasconcelos segundo pt.wikipedia.org

Em apresentação dos contendores, direi que Zacarias de Gois e Vasconcelos, hoje esquecido, foi um político baiano de Valença, nascido em 1815, que exerceu a Presidência das então Províncias do Império: do Piauí, do Sergipe e Paraná.

Foi também Deputado por Sergipe e Bahia e Senador pela Bahia, tendo sido Ministro da Marinha (1852), do Império (1862), da Justiça (1864) e da Fazenda (1862), e por três vezes, presidido o Conselho de Ministros, como se chamava assim o Primeiro-Ministro no tempo do Augustíssimo Imperador, Pedro II.

De sua presença em Sergipe, não sei dizer e nem vem ao caso, se vadeou o Cotinguiba, ou se passeou pelos nossos Apicuns.

Mas, na falta de alguém que o disserte em feito comum sergipano, nenhum político daqui, de antes e de agora, o deserta ou lhe faz sombra.

Quanto ao Duque de Caxias, todos o reverenciamos, porque foi bravo e digno comandante, embora existam historiadores como Júlio José Chiavenato, que o desanquem no seu Livro “Genocídio Americano: a guerra do Paraguai”, livro que perdi, mas relembro sua leitura, pois o nosso Duque, então Marquês, ali está acusado, de inomináveis crimes de guerra, sem prova, contraprova e defesa, de até contaminar, com cadáveres infectados de cólera, as águas do Rio Paraguai, e afluentes, rio acima.

O Duque de Caxias, segundo pt, wikipedia.org

Urdiduras e suturas à parte, e ainda bem longe do início da guerra, se não existia entre Caxias e Zacarias uma inimizade figadal, havia um antagonismo político incontornável, afinal o militar era um prócer do Partido Conservador, ou “Saquarema”, enquanto o baiano “casaca”, como assim iria se dizer dos civis, pertencia ao Partido Liberal, alcunhado de “Luzia”.

Nesse tempo da monarquia, bem se dizia que era incomparável o conservadorismo de um liberal quando assumia o poder, sendo famosa a frase xistosa do pernambucano, Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti de Albuquerque:  “Nada se assemelha mais a um “saquarema” do que um “luzia” no poder.”

Ou seja: o Império, por seus Deputados e Vitalícios Senadores, nunca fora pacífico, demonstrando que na política partidária da elite do Brasil no Segundo Reinado, os estadistas se matavam e se digladiavam uns aos outros, quanto mais se pareciam e se confundiam.

Eram embaraços e confundimentos tão excessivos, que a política também invadia amplos setores do exército e da armada.

Caxias, por exemplo,  era um notável “Saquarema”, e o Marquês de Herval, ou Manuel Luís Osório, tenha melhor simpatia, salvo engano, pelos “Luzias”.

O mesmo poderia ser dito dos Almirantes Tamandaré e Barroso, só para deles falar os que campearam nos charcos palustres do Paraguai.

Da guerra, deflagrada a partir da apreensão do vapor, “Marquês de Olinda” e do então Governador da Província do Mato Grosso que não conseguiu chegar a Cuiabá, em novembro de 1864, sabe-se que o Brasil sofreu sérios revezes, como nos narra o Visconde de Taunay, em seu hoje esquecido “A Retirada da Laguna”, contando a saga de uma força dizimada pela fome, cólera, tifo e beribéri, excedente deserção também e incontrolada indisciplina, um verdadeiro “salve-se quem puder”, ou “cada um cuidando de si, enquanto tempo de murici”, como depois foi cunhada pelo Major Tamarindo, isso na Guerra de Canudos, próximo daqui sob espanque de valentia nordestina, ambas com excesso de mortandade, sob inclemente metralha, ou calada na baioneta, em ferro-frio na facada, com amplo degolamento, de cristão ou guarani.

Como da guerra, só os que vivem e a ela sobrevivem podem contar a história, continua sempre cheia de versões, ao sabor da falcatrua dos que a escrevem.

O próprio Caxias assumira o comando da tropa encontrando ampla e geral indisciplina, avacalhação, e deserção, incontroláveis, isso em 1867, em suprema desmoralização do então 1º Ministro Zacarias, que assim fora forçado a nomeá-lo, enquanto figura mais notável do Exército e seu inimigo pessoal, para que pusesse ordem na guerra, como o fez, valendo a  própria queda, dele Zacarias, e do seu ministério e gabinete.

Nesse contexto de recontar a História, três anos depois, aconteceu o debate entre Caxias e Zacarias,  em 7 de julho de 1870, quando o Paraguai já fora vencido, “El Mariscal”,  Francisco Solano Lopes, já estava devidamente esfaqueado, morto e enterrado, e até a sua mulher, Elisa Alicia Lynch, quase fora linchada, e quiçá violentada, como rotineiro e comum às mulheres, filhas ou esposas dos vencidos, só para chamar atenção que na refrega e no esfregar dos fluidos, são raros os cavalheiros, que assim se portam, para louvação feminina

Nesse contexto, relatos narram que a senhora Lynch era muito assacada pela tropa tri nacional, d brasileiros, uruguaios e portenhos por ter sido, em lodos embrenhos  de juventude, uma cortesã famosa na Europa, tempo em que enamorou o “Mariscal”, sendo-lhe, para sempre a sua esposa fiel.

Uma fidelidade, que bem vale o pleonasmo, não pela feminilidade de Dona Lynch, que por si só, o mereceria, em sendo mulher, uma mãe, uma filha ou irmã, como todos a temos e reverenciamos, respeitosamente, em atos, palavras e omissões.

Isso dito, só para não inserir nem às mulheres imiscuir, numa gozosa, quase jocosa e assaz gasosa,  “bancada feminina”, como agora virou suprema glória, a reivindicar preferência em opiniões e decisões, mais das vezes estapafúrdias, a lhes comprovar pouca massa cinzenta no debate, em sobras ferinas de hormônios e picada de ferrões, opinião que ouso externar, mesmo que em desavio aos patrulhamentos preconceituosos que possam perceber em mim perdigotos de dragões e arrotos fumos, mefistofélicos, que não possuo. Só percebo, e consigno, por direito e opinião.

Mas, por que reclamar às rosas, se desde Giuseppe Verdi por seu xistoso Rigoletto melhor se encanta e sorri, encanto que “La donna è mobile”?

Mas, se do riso ou choro, do hormônio e do ferormônio, sobram a coragem, o zumbido e a valentia, tanto nas sinfônicas elegias de muriçocas, quanto nas parelhas de abelhas sem doçuras, que dizer dos cutelos iguais de zangões e valentões, quando estão reunidos, para no mesmo  afiar e porfiar em vilania, repetir a História Antiga de Breno, aquele que invadiu a Itália, vindo das costas lestes do Mar Adriático, isso nos idos distantes de 387 antes de Cristo, sitiando Roma, após fartar-se das mulheres romanas, e ainda exigir um resgate em peso de ouro, para poupar a cidade?

Ai dos vencidos: Vai Victis, por William Haverly Marti: gentedeopinião.com.br

E  aqui bem vale o desvio,  em recuos de “marcha-ré”, não dicionarizada, porque houve na lenda e na contenda dos romanos e não dos paraguaios, uma insatisfação na pesagem do ouro do resgate combinado, tendo Breno em resposta ao reclame, lhes aumentado a pena do resgate, colocando a sua espada de ferro, pesadíssima, no prato das taras contestadas, ficando-lhe famosa frase célebre, bisonhamente bisada: “Vae victis!

Que quer dizer: “Ai dos vencidos!”.

Em mesma frase e na mesma sanha, retornando da marcha à ré, inserida, destaque-se ainda, que as mulheres e os homens de ontem, de trasanteontem e de sempre, padecem de mesmos vícios e desejos, sendo necessário dizer que Elisa Lynch, a mulher do Ditador assassinado, só não foi linchada pelo cavalheirismo do Major Floriano Peixoto, o futuro Presidente da nossa República, conforme relato das folhas 353 de “A Guerra do Paraguai”, de Luiz Octavio de Lima, Editora Planeta, que lhe permitiu sepultar o seu amado, depois de exangue esfaqueado.

E a viagem histórica na maionese, bem valeu divagar, só para poder louvar aquele que seria o Marechal de Ferro, três décadas depois, e porque Elisa Lynch, em repasto inerme aos vencedores, gritou-lhes repelindo a lascívia zombeteira que a cercava: “Cuidado com o que vão fazer! Sou inglesa!”, o que não era então: pouca coisa, enquanto “bancada feminina”!

Mas, se a Sra. Lynch e o Major Floriano não me afastaram da guerra no solo Guarani, volto na mesma refrega ao debate entre Caxias e Zacarias, ambos Senadores do Império.

A data do debate, repito, foi 7 de julho de 1870, e consta da coleção “Perfis parlamentares 9”, editado pela Câmara do Deputados, em 1979, sob a Presidência do Deputado Marco Maciel, presente a mim enviado pelo nosso congressista, Francisco Guimarães Rollemberg, honra e glória, enquanto homem público, sem deslizes e a merecer honrada referência em nossa sergipanidade.

Se de Caxias todos conhecem sua extensa biografia, de Zacarias de Góes, “Um conciliador liberal”, segundo Jean Marcel de Carvalho França no caderno +mais!, da Folha de São Paulo, 19 de janeiro de 2003, e também Jaqueline Schmitt da Silva, da Universidade de Passo Fundo, no XII Encontro Estadual de História – ANPUH RS, de 18 a 21/07/2018, temário em DEMOCRACIA, LIBERDADES E UTOPIAS, dissertando sobre a crise ministerial de 1868, destacando-a enquanto “onda que iria derrubar a instituição monárquica”, bem vale citar Sérgio Buarque de Holanda, ressaltando sua figura por Machado de Assis destacada, em sua crônica famosa sobre o Velho Senado, citada também por Alberto Venâncio Filho na apresentação dos Perfis Parlamentares 9, porque “O Senado contava raras sessões ardentes; muitas, porém, eram animadas. Zacarias fazia reviver o debate pelo sarcasmo e pela presteza e vigor dos golpes. Tinha a palavra cortante, fina e rápida, com uns efeitos de sons guturais, que a tornavam mais penetrante e irritante. Quando ele se erguia, era quase certo que faria deitar sangue a alguém. (grifo inserido por mim).

Foi o que aconteceu nesse debate entre Zacarias e Caxias, norteado entre duas versões jornalísticas relativas ao desfecho da Guerra do Paraguai, uma transcrita num periódico carioca, reclamada pelo político baiano de um jornal do seu entorno e “de maior circulação”, e a outra de seu elogio, vinda de Paris, no além Atlântico, de autoria do Senhor Xavier Raymond, publicada na Revue des Deux Mondes (Revista dos Dois Mundos).

O primeiro artigo, possivelmente publicado no Rio de Janeiro, conferia a Caxias os louros dos combates, enquanto o segundo louvava o Senhor Conde D’Eu, príncipe consorte e esposo de Dona Izabel, aquela que, filha do Imperador Pedro II, seria depois a bem chamada e aclamada “Redentora”.

Redenções bem distantes ainda, o Senador Zacarias, estribado no francês, Xavier Raymond, desancou no Senado o seu colega Caxias que moderadamente respondia.

Caxias não reivindicava louros, mesmo porque nessa porfia, colocavam-no numa balança de braços desiguais, como a de Breno, sendo pesado e comparado com o futuro Príncipe Consorte, o eventual bem-amado do 3º  Império, em perspectiva.

Zacarias contundente contra Caxias, acusava-o,  até de deserção, quando este em Assunção, julgando estar a guerra terminada e conclusa, e entendendo-se por enfermo, passara o comando da tropa, e voltara à Corte, sem exibir a cabeça do Mariscal Solano Lopez, que lhe fugira como água entre os dedos.

O Império, por seu e corriola, queria a cabeça do Mariscal, ou que o trouxessem como Vercingetórix, numa jaula aprisionado.

Caxias, porém, em vendo o povo Guarani já exangue, não quisera cometer um genocídio cruel e sanguinário, como assim ocorreria, pois o Paraguai por suas crianças e mulheres indefesas, não se curvaria, mesmo em Acosta Ñu, como aconteceu depois, em infausta memória.

Para o seu rival, Zacarias, o Duque de Caxias estivera quase igual ao que se denuncia do General Pazuello na CPI da Cloroquina, acusado de ominoso e quiçá criminoso, a merecer uma vindita exemplar, em punição: “por mentiroso”!

Nesse contexto, o artigo da Revue des Deux Mondes, exibido pelo “Luzia” Zacarias , enquanto mentiroso também, e até desertor a merecer punição, exaltava a excedente lista de cadáveres, sob sua responsabilidade nas lutas ferozes “Dezembradas”, aos milhares, comparando-as, às ralas perdas de vidas sob o comando do Conde D’Eu, enquanto verdadeiro pacificador e conciliador.

Ou seja: para o articulista francês, Caxias não fora diligente nem eficiente enquanto General, e o verdadeiro herói da guerra e da peleia fora, não um “macaco nacional”, como se dizia no Paraguai, mas um distinto francês: Monsieur Gaston D’Orleans, Le Comt D’Eu, que, não por acaso, pertencia à nobre família reivindicante da coroa parisiense, por descendência sequente de seu bisavô, Luís Filipe II, Duque de Orleans.

Interessante, é que hoje, em outra lâmina, e sem desvio levógiro ou dextrógiro, ao microscópio, tudo é possível analisar, inclusive resgatar, facilmente, o texto do jornalista Xavier Bertrand, na Revista dos Dois Mundos, em pdf, gratuitamente, como o fiz, e pude lê-lo no original, só para constatar que por igual, é excessivamente tendencioso, por leguleio orleanista, inclusive com a transcrição de uma missiva agradecida dirigida ao próprio Conde D’Eu, em seu epílogo.

Quanto ao texto louvando o Duque de Caxias, o seu colega e feroz inimigo Zacarias de Gois e Vasconcelos não o citou na sua fala transcrita nos anais do Senado, nem o foi localizado por mim.

Finalizando, que já me alonguei bastante, louvada seja, em outra via, a transcrição do debate, afinal vem de um tempo em que não havia gravação em vídeo e cores, mas restou degravado e publicado a partir de notas taquigráficas resgatadas, para melhor conhecimento da História.

Zacarias, pelo que restou daquele dia, saiu do Senado viva e efusivamente aplaudido, pelo seu eleitorado, feito comum aos verbosos tribunos quando na oposição esgrimem suas teses.

Já o Duque de Caxias, bom condutor de tropas e mal debatedor foral, restara vencido e “acuado” no floreio das palavras, só para dizer que há os que combatem a boa porfia, e fazem o seu bom trabalho, e há aqueles que duelam e bem podem mudar e transmudar as suas próprias versões.

E o que há demais nisso?

Fica a critério do leitor.

Nessa terra de muitos bacharéis, transcrevo, para uma melhor avaliação, só o 1º paragrafo do artigo de M. Xavier Raymond.

Don Lopez et la guerre du Paraguay.

La lutte sanglante qui depuis cinq ans désole les rives du Paraguay semble terminée, les derniers succès obtenus par M. le comte d’Eu paraissent être définitifs. Les guerres de la conquête et de l’indépendance méritent sans doute, pour les résultats politiques qu’elles ont produits, d’occuper dans l’histoire de l’Amérique une place plus considérable que celle qu’y tient la guerre dont nous venons d’être les témoins ; mais cette dernière a été de beaucoup la plus importante par la grandeur des opérations militaires et par les sacrifices de tout genre qu’elle a coûtés aux parties engagées.

O restante pode ser obtido em Don Lopez et la guerre du Paraguay – Wikisource

 

Chacina Parlamentar de Inquérito.

Programada para ser uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI senatorial vem tentando sem conseguir, medieval caça as bruxas, para incinera-las em praça pública, exemplarmente.

O exemplo, todavia, fora das torturas naturais por vilania, em câmara e microfones denunciados, revelam o falso exposto a luz do dia e em plena claridade, o posto restando mal posto, e o impostor se revelando.

Primeiro foi a premissa explicitada: a comissão poderia prender, manietar e amordaçar os inquiridos do seu não agrado, sendo-lhes vedado contestação e defesa, só não podendo espancar, porque não precisaria, e ficaria pior, afinal todos naquele ambiente são lhanos e carinhosos, pessoas de fino trato.

O destrato e o mal trato fariam parte do contrato da “testemunha-ré” não poder mentir nem vastar, porque a mentira ficaria a cargo da comissão elucidar em suas balanças próprias, impolutas e imaculadas, por politicas.

Em tanta discussão eufêmica, por farisaica e prosaica , vingou logo uma questão: seria descortês, responder firme e percuciente se a pergunta fosse bisonha, imbecil e até simplória, feita sem rigor e ao destrambelho, mesmo vinda em capa e capelo, senatorial, sem novelo e bom desvelo?

Eis o grande temor, porque a comissão bem preferiria que o inquerido fingisse asno, sem desasnar a bancada, o que não ficaria bem.

E não ficou!

Não ficou a partir do Presidente, o Senador amazonense Osmar Aziz, desprovido de mínima postura para presidir os trabalhos, parecendo mais das vezes um bedel escolar, sem rumo, nem aprumo, querendo botar ordem na classe, horas com pedidos de silêncio só “por um minutinho!”, horas provocando discussões “barraqueiras”, ousando até, sem pedir desculpa, em sanha própria, incluir as mães de colegas nas suas infâmias.

Curioso, é que tudo sai gravado em som e imagens sem requerer degravações tecnológicas que garimpem e elucidem o sussurro obscuro mal captado pelos microfones, embora tudo possa, o que é terrível!, ser “retirado das notas taquigráficas”.

Ou seja: xinga-se a mãe, ao vivo e em cores, podendo ser repetido a exaustão, mas depois rasga-se, rasura-se a fita, em nome da boa transcrição; falsificadamente! para consignar a excelência da discussão parlamentar!

Excelências e más referencias à parte, a Comissão, por origem, veio para apurar desmandos na administração da saúde, e já são muitos os convocados a título de “testemunhas”, advertidos de não poderem “mentir”, e nem por isso restarem imunes, como dito anteriormente, de uma decretação de prisão por ato, fato ou desacato, que alguém ali entenda por qualquer insatisfação.

E o temor e a incerteza são tamanhos, que perante tão atrabiliária e autoritária comissão, as testemunhas mais que pressionadas e ameaçadas, se sentem necessitadas de proteções prévias de “habeas corpus”, via Supremo Tribunal Federal, só para mostrar que o Estado Democrático de Direito está em perigo, nas mãos dos Senhores Senadores, posando, não como inquiridores, mas como inquisidores, misteres  análogos, mas bem distintos.

Em mesma analogia, mudando de pau pra cacete, se o Presidente Aziz é um bufão, em conselho, orientação e ampla exação na condução dos depoimentos , o Relator, o Senador Renan Calheiros, de boa cepa nordestina, se tornou insaciável inquisidor em infindáveis perguntas, querendo vencer por cansaço, sem nada esclarecer os fatos e omissões que já se percebe estarem já postas e repostas no seu próprio libelo prévio acusatório.

Um libelo que ao seu tempo e em boa hora depois será revelado, vazio em substância e concretude, como já se percebe, na faca aos dentes percebidas no seu sorriso.

De concreto, todavia, quem assiste vê a total ausência de sucesso dos Senadores, a ponto de já se configurar um “G-7”, em grupo majoritário, que longe de elucidar algo útil, pretende desmoralizar o governo federal em estridente discurso de oposição, somente.

E por fazer exclusiva oposição, a Comissão se desmoraliza, cada dia com sua agonia, os depoentes entrando menores e saindo bem maiores, gigantes mesmo, dando aulas de equilíbrio, segurança e firmeza, sobretudo o General Pazuello, enquanto militar e notável Ministro da Saúde, que calou a todos por dois dias, e a Dra. Mayra Pinheiro, aviltada como uma “Capitã Cloroquina”, que num dia só desbancou quatro médicos, salvo engano, que andavam vomitando medicina na CPI, sem bom estudo e em pior diagnose.

Em boa dose, a “Capitã” receitou o vermífugo e o parasitário cerebral que tais “doutores” bem precisavam, afinal a ciência deles exibida naquela Comissão estava a requerer que alguém lhes brandisse o bedelho em suas cabeças senis, recomendando-lhes imediato retorno aos livros e aos bancos de esculápia.

Como de médicos e de doidos todos o somos, em receitas e desfeitas, há de tudo na “Comissão da Cloroquina”, do Presidente ao Vice, deste ao relator, uns tenores outros tremores por castratis, em  vozes de todo pendor e desafino: a guarânia sendo a mesma, todos querendo bem se posicionar no prélio eleitoral que se aproxima.

No canto dos amazônidas, por exemplo, os Ex-Governadores, Omar Aziz e Eduardo Braga, fizeram da oitiva do General Pazuello virar floreio eminentemente paroquial.

Parecia cantarolar de Educandos, bairro da cidade de Manaus, coisa de boto, querendo iludir Tajapanema, a virgem morena, canto aqui inserido por mim, só para lembrar do meu tempo de componente do Coral da Professora Cândida Ribeiro, de doce memória, cantando uma musiqueta folclórica das margens do Rio Negro, que bem vale repetir:

Tajapanema chorou no terreiro

Tajapanema chorou no terreiro

E a virgem morena fugiu pro costeiro

 

Foi bôto sinhá

Foi bôto sinhô

Que veio tentá

E a moça levou

E o tal dancará

Aquele dotô

Foi bôto sinhá

Foi bôto sinhô

 

Tajapanema se pôs a chorar

Tajapanema se pôs a chorar

Quem tem filha moça é bom vigiar

 

O bôto não dorme no fundo do rio

Seu dom é enorme

Quem quer que o viu

Que diga que informe

Se lhe resistiu

O bôto não dorme

No fundo do rio

 

Com Pazuello aparecendo no terreiro das próximas eleições manauaras, ninguém ali quer concorrência de outro boto, os três barés querendo iludir a virgem morena.

Deixando a virgem morena e voltando à lengalenga da CPI, ali já se falou até de julgamento de nazista, a título de comparação com Bolsonaro, só para consignar que o script já está definido,  faltando “combinar com os russos”, digo, chineses: porque a finalidade é consignar o “genocídio” e sua autoria, se possível colocando o Capitão na gaiola do xadrez com uma ampola de cianeto na fissura da dentadura.

Nesse particular até um “Górigui”, restou requisitado, se o riso não fosse trágico, porque o  relator ousou revisitar o Marechal do III Reich alemão, Herman Goering na jaula, sendo julgado como criminoso de guerra, pelos seus impolutos vencedores, bem merecendo melhor respeito em pronúncia e citação.

Como este “Górigui” vem do castiço “alagoiês”, pior sobrou para Adolf Eichmann, só porque a “banalidade do mal”, mal lida e referida em Hannah Arendt, melhor serve a todos, inclusive aos descabeçados e despreparados, embora se diga o contrário.

Contrariando a todos, uma palavra devo dizer da “bancada feminina”: que coisa tola, essa de mulher, e ser mulher apenas, reivindicar respeitos vaginais, quando o que se exige no debate, e na vida, é o refletir cerebral!

Quantos guinchados captados, parecendo mais luta de porta-bandeira e mestre-sala, sem canto, nem encanto, e sem destaque de samba-enredo…

Porque haja cuíca….

Sem Medéia e sem Judite, e sem invocar Calabar ou a mulher de Putifar, em contramão dessa via, é difícil separar algo em brilho de pepita por farta ganga bateada e no excesso de obscuridade peneirado do apuro dessa semana na CPI da Cloroquina.

O destaque de joia rara: raríssima e isolada!, concentra-se no Senador Marcos Rogério de Roraima: notável, excelente!

Dele são os quinze minutos mais importantes da Comissão.

Só quinze, não mais que quinze!

Em todo tempo da CPI!

Um escasso e diminuto tempo, sempre interrompido por seus pares, em ruídos e grunhidos, e caretas incomodadas, só por lhes revelar a mediocridade que os caracteriza.

Mas, porque dar mais tempo ao prócer de Roraima, se o G-7 precisa sempre de horas a mais para repetir o seu desastre, sem apuro e precisão?

Finalizo, dizendo que estou escrevendo no último dia de maio de 2021.

Amanhã, terça-feira, 1º de Junho, a CPI irá ouvir outras testemunhas agora em requebros de São João.

Sem milho; sem fogueira; e sem quentão: mas mascarados! O que posa melhor!

Será a repetição do que foi?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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