Entre livros, plantas e sentidos

Se tem algo que eu invejo é a simplicidade de viver dos meus gatos. Adoro a liberdade deles e a facilidade que possuem de serem felizes. Eles não são fofos, meigos e dóceis o tempo todo, e se posicionam acidamente quando invadidos . Não se seduzem levianamente , mas sabem ser felizes e isto, me atrai tanto…

Domingo fiquei horas lendo na minha varanda. Eu em uma cadeira e minha gata Lola, em outra. Ela aproveitava o restinho de sol e cochilava. Como cochilam os gatos! Vez ou outra quando eu fazia algum movimento, ela também se movia. Levantava a cabeça, dava voltas na cadeira, trocava de posição, se lambia displicentimente e voltava a sua leitura – seus sonhos de gata – enquanto eu voltava a minha leitura – A lógica do sentido, de Gilles Deleuze.

Por fim, já cansada de toda aquela monotonia, desceu da cadeira e foi brincar com algumas folhas secas caídas no chão, dos meus dois limoeiros sicilianos, que estão plantados em enormes vasos.

Vez ou outra passava por mim e ronronava. Depois prosseguia na sua brincadeira solitária. Neste momento, comecei a alternar a leitura do livro com a leitura que fazia dela. Gostaria de ter 10% da capacidade da minha gata em ser feliz com tão pouco.

Peguei-me pesando nos meus fantasmas, no meu tédio iminente e nesta grande prisão em que estamos acorrentados: ser mais, ter mais, querer mais. O tosco efeito do poder.  A desgastante e ininterrupta busca pela vida perfeita. Esse clamor por competência em tudo que fazemos e somos.

Estou chegando aos 46 anos e tenho pensado em quantas vezes deixei o mundo me escravizar, manipular e alienar. Decidi que preciso manter mais e mais os meus pensamentos abertos e desenvolver capacidades de mudar de hábitos.  Claro, Isto implíca em novas formas de agir, pensar, sentir  e impõe novos comportamentos que podem me ajudar a viver ainda mais leve. Desejo estar cada vez mais presente  em cada momento com aquilo que tenho , em lugar de estar ausente, angustiada por aquilo que se foi ou que poderá vir. Adentrar em um território novo, que me transforme de dentro pra fora. A vida é sempre mais rica quando nos permitimos mudanças.

Tomara que um dia, assim como a minha gata eu consiga ser feliz sem motivos. Tomara que a vida realmente aconteça todos os dias como um presente a ser desfrutato, dentro de mim.

Enquanto isso, vou seguindo, labirinto adiante. Fazendo escolhas e pagando o preço por cada uma delas.  Encarando meus fantasmas um de cada vez.

A vida segue. Continuo andando….

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais