Lições de guerra

A guerra começou em 5 de junho e terminou seis dias depois; no ano de 1967.

Sua causa; sempre a velha discordância de domínio daquelas terras férteis cercadas de tantas securas entre Israel e seus vizinhos palestinos, em antanha luta desde que Josué, o sucessor de Moises, cruzou o Rio Jordão para apossar-se das glebas que “O Senhor lhes tinha dado”, e onde jorraria leite e mel”.

Como nessas questões de posse até o usucapião é traumático, o Estado de Israel, surgido em 1948 por imposição da ONU, Organização das Nações Unidas, teve contra si a beligerância do entorno de seus vizinhos.

Quando rebentou a Guerra dos Seis Dias, duas outras já tinham acontecido: uma em 1948, quando os árabes e os palestinos estabeleceram os limites iniciais do estado judeu, cada lado querendo diminuir o outro, Israel conseguindo sair maior.

Assunto que ensejaria novas refregas, cada um se achando merecedor de melhor em maior pedaço.

Viria depois a Guerra de Suez, em 1956, em prenúncios de Guerra Fria, que resultou numa influência maior da União Soviética no Egito e a nacionalização do Canal de Suez por Gamal Abdel Nasser.

Em 1967, Abdel Nasser do Egito, Hafez-al-Assad da Síria e o Rei Hussein da Jordânia foram derrotados nessa 3ª Guerra Árabe-Israelense, ou Guerra dos Seis Dias, quando o Egito perdeu sua Esquadrilha no solo estacionada, e o vasto território da península do Sinai, e a Jordânia perderia as famosas colinas de Golan, fulcro de futuras brigas, e razão para uma nova guerra, a de Yom Kippur em 1973.

Essa Guerra do Yom Kippur, de 1973, foi deflagrada pelos mesmos aliados de 1967, agora incluindo apoios maciços do Iraque, do Kuwait, Líbia, Arábia Saudita, Argélia e Sudão, uns fazendo força ou torcendo apenas, num ataque de surpresa, já que o Yom Kippur é dia sagrado, dedicado ao perdão, onde é vedado o trabalho, o lazer, e o desforço físico, por preceito religioso dos judeus.

Por seu início em data vulnerável, a Guerra do Yom Kippur trouxe um malogro inicial aos Judeus, que perderam territórios antes ocupados no Sinai e também na Jordânia, insucesso que estaria já recomposto, quando houve um armistício por interferência da Rússia Soviética e as potências ocidentais.

Essa guerra, todavia, ensejaria o caos universal, já que os Países Produtores de Petróleo, acordados por sua força bélica, não de todo conhecida, firmaram uma aliança, um cartel, uma confraria de normal pirataria, a OPEP, Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que omnipotencialmente reduziu a oferta de óleo cru no mercado internacional, além de aumentar obscenamente o seu preço no mercado.

Os que viveram aquele tempo sabem que o Brasil vivia em pleno progresso do “Milagre Brasileiro”, em taxas altíssimas de crescimento, tempos em que a ARENA e depois o PDS eram o “Maior Partido do Ocidente”, tempos também do “Brasil, ame-o ou deixe-o!, dos “milhões em ação salvando a seleção”, quando o país viu-se num pesadelo de tudo morrer na praia com os hidrocarbonetos encarecidos, e as nossas exportações não mais cobrirem nem mesmo as importações desse setor vital energético.

Sabíamos todos, que o nosso petróleo estava debaixo da terra mãe gentil.

Era, porém, pouco gentil, afirmar que a Petrobrás sozinha seria incapaz de suprir a deficiência de prospecção e exploração do nosso ouro negro.

E nesse campo estratégico, do quem é quem, e de quem pode ou não retirar o óleo, um grande feito nacional, listado no rádio e na TV, levou o Presidente Ernesto Geisel pronunciar o célebre discurso dos Contratos de Risco, marco modernista para alguns e nódoa entreguista para outros, em velha política ideológica de bem-falantes e muitos farsantes.

Lembro que em face desta crise de petróleo, as filas de automóveis nos postos de gasolina se estendiam, não metricamente, mas quilometricamente.

Surgiram então grandes projetos de energia: 1. Construção de novas barragens, tecnologia que éramos vitoriosos e ninguém se elogiava tanto; 2. o Proálcool, em preocupação crescente com a produção do açúcar ameaçada, agora com a fermentação a requerer cepas eficientes de Saccharomyces cerevisiae, contratação de dornas e destiladores, discussões várias com tanta destilação do álcool, e geração de vinhaça sem fim, que seria o caos tão poluente, quão desertificador do solo, sem falar do periculum sem mora, que uma monocultura da cana iria inibir a produção de alimento do pobre, e só do pobre!, porque ele assim o é lembrado; 3. o esquecido acordo nuclear Brasil-Alemanha, com as Centrais de Angra a arrastar-se como lesmas, e tantos obstáculos dos americanos; 4. Pesquisas de Biodiesel com Mamona, Alvelós, Euphorbia tirucalli, muitos arbustos da família das euforbiáceas e até dos muitos óleos essenciais;  5. sem discutir que muito se falou e providenciou em Parques Eólicos, refletores parabólicos para aquecimento solar, e até Biodigestores  para geração de metano, em tecnologia indiana, utilizando esterco de boi, et all.

Se tudo ficou na História, o Brasil aos trancos e barrancos saiu maior da crise. Chegaram os carros a álcool, a geração de energia cresceu, ficamos ou não, ou quase isso, em autossuficiência de petróleo.

Aqui no Estado de Sergipe, após longas lutas, estuarino ou em Off Shore chegou o Porto, sem o qual restaríamos para sempre miúdo.

Dizia-se que não tínhamos porto porque nada tínhamos a exportar, ou que não exportávamos porque não possuíamos um porto.

Por conta destes conflitos entre árabes e israelenses, os sais evaporitos de Sergipe passaram a ser explorados.

Foi um drama! As nossas reservas, por legislação protetiva, estavam na mão de um Grupo Lume, intocável!

Como o Lume não vinha a lume, afastou-se o entorno de cheirume e daí surgiram duas grandes plantas em capital estatal: a Petromisa e a Nitrofértil.

O sal-gema, a halita, a silvinita, a carnalita e a tachidrita nunca foram tão babadas e pesquisadas, juntas ao gás natural, também farto em terras Serigys.

Depois, tudo ditado pelo mercado, o produzido na nossa esquina restou mais caro que o concorrente de fora.

E as unidades de Sergipe, mudando de mão e de posse, ficaram tão caras que foi necessário hibernar.

Agora estamos a viver a Guerra da Ucrânia.

A Rússia, segundo Putin, sendo escorchada pelo ocidente, tendo a OTAN por ameaça e a União Europeia como um inimigo avantajado.

É a velha política de dominó.

Quem tem razão numa guerra? Ninguém!

Ou melhor: tem razão quem a vencer!

Alguém me soprou numa palestra, ser de Tobias Barreto de Menezes (1839-1889) a lição de que “o direito internacional se apoiava na ‘boca do canhão’”.

Tobias vivera no Século XIX, e germanófilo como era, contemplou o descambar da grande derrota francesa frente aos exércitos comandados por Bismarck, naquela que seria a primeira surra levada pelos gauleses, sempre cacarejantes, afinal é bom repetir, porque ali se teima em esquecer, fingir que nada vingou, e La Marseillaise sempre é bem cantada no final. Mas, a que preço!.

Porque a primeira derrota, em 1870-71, teve Paris devassada.

Sem que Tobias o visse, no século XX, em 1914 a França apanharia de novo, repetido em 1940, quando houve a célebre debacle ainda sem merecer o devido esquecimento, segundo palavras de Jean-Paul Cointet, em seu texto de 06 de junho de 2020 no Le Figaro, em lembrança dos 80 anos dessa grande ruína, que a filmografia bem disserta em “LES UNS ET LES AUTRES” (Retratos da Vida) de Claude Lelouch em 1981, e “SUITE FRANÇAISE” de  Saul Dibb em 2014, e até “DUNKIRK”, de Christopher Nolan de 2017, só para dizer que o inglês se fez mais herói e Winston Churchill, sobremodo e até mesmo “DARKEST HOUR” (O Destino de Uma Nação).

E tantos outros filmes em lista longa.

Agora e sem delongas, prenuncia-se um novo filme, a Europa querendo entrar em guerra, tentando liderar o mundo contra os russos.

Monumento contendo as efígies de Charles De Gaulle e Konrad Adenauer, enaltecendo a paz germano-francesa.

Quem visita Berlim e passeia pelas longas avenidas onde desfilavam as tropas de Hitler, encontra na proximidade do Tiegartenstrabe, há um monumento contendo as efígies de Charles De Gaulle e Konrad Adenauer, com um texto que fala assim: “A reconciliação do povo alemão e do povo francês , pondo fim a uma rivalidade secular, constitui um acontecimento histórico que transforma profundamente as relações entre os dois povos”.

O filme ,“Les Uns et Les Autres”, não deseja calar ainda, sobretudo agora com a fuga dos ucranianos frente ao exército russo.

Nas palavras de Cointet, enquanto historiador, especialista na Segunda Guerra Mundial e da França na década de 1940: O êxodo tem um aspecto crucial, e tende-se depois a esquecer, como foi o caso do colapso da França em 45 dias em 1940. Seis a oito milhões de civis franceses fugiram da invasão alemã em maio e principalmente em junho. Todos ficando marcados para o resto da vida”,.

Agora tudo se assemelha esquecido, a ponto de recomeçar.

Da unidade idealizada por De Gaulle e Adenauer surgiu depois a União Europeia, da qual saiu o Reino Unido pelo Brexit.

À parte tudo isso, a Europa Unida está se vendo como uma grande nação a requerer orçamentos de guerra, com a Alemanha convidada a rearmar-se.

Isso é bom? Não é o caso!

É o prenúncio de novas guerras!

Por agora, se a Ucrânia está pagando por suas opções, o resto do mundo sofre por não ter outras opções.

Como as opções são as mesmas, usam-se os mesmos métodos convencionais que nunca funcionam: os bloqueios econômicos!
Justamente aquilo que Napoleão Bonaparte tentou em suas guerras: o “Bloqueio Continental”, que nos trouxe Dom João VI e seu Reino, mas também levou “Le Petit Caporal” enregelar-se em Moscou.

A Russia só tem duas saídas para o mar: ao norte , nas aperturas do Mar Báltico, e ao Sul, nos sufocos da Ucrânia, no Mar Negro. De ambas vem o NPK para o nosso agronegócio. De tal distância, por que nos chega em melhor preço? O terceiro roteiro, em azul, vai para a China.

 

Em tempos atuais, o Brasil se vê ameaçado por um preço exorbitante de petróleo a U$130 o barril e uma crise impensada de fertilizantes, afinal os Russos nos vendem NPK, a tríade que aduba a lavoura, a preços bem melhores, ao que parece, que os das terras nossas áridas Aperipês.

 

Para concluir, segue um mapa para mostrar o refreio da Rússia, ao norte: no Mar Báltico, e ao Sul: no Mar Negro, únicos caminhos que a levam ao mundo, porque quem não tem mar e nem porto, não vende e nem compra.

Estamos, portanto, a viver muitas expectativas.

O que acontecerá com o Brasil, quando muitos já falam do incomensurável prejuízo ao nosso agronegócio que já amplia por conta os seus custos?

E a Europa? Vai enfrentar nova guerra? A Ucrânia vale tanto?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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