Musiqualidade – Rubens Lisboa

L A N Ç A M E N T O

 

Cantor: ZECA BALEIRO

CD: “BALADAS DO ASFALTO & OUTROS BUES”

Gravadora: UNIVERSAL

O compositor e cantor maranhense Zeca Baleiro chega ao seu quinto álbum solo depois de uma bem-aventurada passagem por um trabalho dividido com o cearense Fágner.

 

Zeca é excelente compositor, um dos três melhores surgidos no meio fonográfico nacional de uns dez anos para cá. Tem anseios de artista popular, mas não abre mão da inteligência. Letrista inspirado, com sacadas super originais, passeia sua verve criativa por temas díspares, indo dos desencontros amorosos à fina ironia de constatações cotidianas com o domínio dos mestres. Suas melodias, via de regra, compõem-se de três partes e são facilmente assimiláveis, o que, hoje em dia, é uma qualidade e tanto. Como cantor, o timbre característico confere-lhe um charme à parte. Sua voz é grave, dotada de emoção e humor, de compaixão e lirismo.

 

Depois de lançar dois estupendos discos iniciais – “Por Onde Andará Stephen Fry?” e “Vô Imbolá” – (onde a multiplicidade de seu talento foi exposta através de um caldeirão sonoro que misturou diversos gêneros), de tentar a introspecção no denso “Líricas” e de exagerar nas informações e nos aparatos eletrônicos em “Pet Shop Mundo Cão”, Zeca está pondo no mercado um trabalho mediano que, infelizmente, fica aquém de suas possibilidades.

 

A crítica feita no Brasil é indócil e, muitas vezes, por mais que o artista não queira, termina por ela sendo influenciado. Parece ser o que ora acontece com Zeca. Os seus melhores discos foram aqueles nos quais ele se esparramou através de diversas vertentes, mergulhando a sua arte em várias praias. Mas os críticos intelectualóides (leia-se imbecilóides) ainda insistem na velha e ultrapassada tecla de “idéia conceitual do trabalho” e preferem elogiar um CD monocórdio a um outro mais ousado. E conceito de um trabalho musical é um elemento bastante subjetivo. O verdadeiro artista sabe se mostrar inteiro em sua obra, independentemente de ter que centrá-la num único tema ou em uma única vertente musical.

 

Mas Zeca pareceu ter se incomodado com as críticas disparatadas e surge tentando mostrar-se “coeso”. Soa falso. Soa tolhido. Soa anti-baleiro. Como agora, no novo disco “Baladas do Asfalto & Outros Blues”, quando tenta albergar somente canções ditas estradeiras. Bobagem! Quaisquer canções podem ser ouvidas no toca-fitas de um carro, desde que o ouvinte esteja predisposto a recebê-las. O CD, muito bem produzido por Walter Costa e Dunga, termina soando morno, isso sim um grande problema. São canções algumas vezes acima da média que terminam se banalizando em meio a outras menos interessantes.

 

Ainda assim, o talento do artista está lá e dá para vislumbrá-lo em canções inéditas como “Meu Amor Minha Flor Minha Menina”, “Cigarro”, “Alma Nova” e “Cachorro Doido” (estas duas últimas em parceria com Fernando Abreu) e nas regravações de “Muzak” e “Amargo”, músicas que já haviam sido anteriormente registradas pelas cantoras Rita Ribeiro e Adriana Maciel.

 

Zeca, todavia, é esperto o suficiente para, daqui a muito pouco tempo, detectar que não é por aí que deve seguir. Que este disco lhe sirva como um rito de passagem! E que, no próximo CD, venha inteiro, múltiplo e visceral, como o seu público espera dele e como ele já mostrou que é capaz de fazer! 

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     E são as seguintes as vencedoras do Festival da TV Cultura. 1º lugar: “Contabilidade” (de Danilo Moraes e Ricardo Tepperman, interpretada pelos autores); 2º lugar: “Achou!” (de Dante Ozzetti e Luiz Tatit, defendida brilhantemente pela cantora Ceumar); 3º lugar: “Girando na Renda” (de Pedro Luís e Flávio Guimarães, na bela voz de Roberta Sá). Como em todo festival que (não) se preza, a vencedora foi enormemente vaiada pelo público presente. De fato, as duas outras lhes eram superiores em tudo e havia pelo menos uma outra canção concorrente (“Seresteiro a Perigo”, de Edu Franco) que merecia ter sido destacada. Mas é de se louvar a iniciativa e que venham outros eventos desse tipo!

 

·                     As três músicas compostas por Caetano Veloso e Milton Nascimento para a trilha sonora do filme “O Coronel e o Lobisomem”, de Maurício Farias, intitulam-se “Senhor do Tempo”, “Sereia” (uma homenagem à atriz Ana Paula Arósio) e “Perigo”. As canções são as maiores novidades da miniturnê que os dois artistas já fazem por algumas capitais do Sudeste. O show, que está centrado em músicas feitas para o cinema, conta com a participação mais que especial da cantora mineira Marina Machado e foi inteiramente gravado para ser brevemente lançado em CD e DVD.

 

·                     O novo CD da banda Paralamas do Sucesso, que estará nas lojas em outubro e receberá o título de “Hoje”, vai contar com a participação do cantor francês Manu Chao na faixa “Soledad Coração”, parceria de Herbert Vianna com Pedro Luís. O disco reúne doze músicas inéditas compostas por Herbert Vianna após o acidente de ultraleve sofrido em 2001, além da regravação de “Deus lhe Pague”, de Chico Buarque, que foi escolhida pelos fãs do trio em eleição promovida pelo grupo através do seu site oficial e que vai entrar como faixa-bônus. A produção do álbum foi dividida entre Liminha e Carlo Bartolini.

 

·                     O show em que Erasmo Carlos, Wanderléa, The Fevers e Golden Boys vêm percorrendo o Brasil para festejar os 40 anos da Jovem Guarda vai se transformar em CD e DVD que serão lançados via EMI. No repertório, diversos clássicos das velhas tardes de domingo…

 

·                     O diretor do musical “Versos de Hollanda” vai lançar em breve, pela gravadora Lumiar, um novo songbook baseado na obra de Chico Buarque. Será um álbum duplo com regravações de músicas do compositor. Já confirmaram presença: Fafá de Belém (em “Tango de Nancy”), Rosa Maria (em “A História de Lily Braun”) e Elymar Santos (em “Gente Humilde”). Embora ainda sem canções definidas, estarão também no trabalho a maranhense Rita Ribeiro e cantoras iniciantes como Ivana Domenico e Alessandra Verney.

 

·                     A gravadora EMI informa: o sexto disco solo da cantora Marisa Monte, esperado para este ano, somente será lançado em 2006. A informação é confirmada pelo empresário dela, o experiente Leonardo Neto. Até agora, sabe-se pouco do álbum: apenas que deverá ser duplo, que a produção caberá a Mário Caldato Jr. e que deverá trazer no repertório músicas de Jair do Cavaquinho e possíveis parcerias de Marisa com Paulinho da Viola, Seu Jorge, Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.

 

·                     A compositora e cantora Fátima Guedes está a todo vapor! Terminou de gravar dois CD’s e planeja o lançamento de pelo menos um para ainda este ano. Um deles traz repertório exclusivamente autoral da artista, intitula-se “Óbvio” e inclui parcerias inéditas com Jorge Vercilo e Eduardo Gudin. O segundo (de nome “Outros Tons”) é trabalho de intérprete e reúne músicas menos conhecidas da fase inicial de Tom Jobim.

 

·                     Daniela Mercury foi a responsável maior pelo ‘boom’ do axé music nos anos 90. Passada a febre, a baiana resolveu inovar e flertou com a música eletrônica. Agora, está lançando um disco com o qual cai de vez na MPB. Gravado ao vivo no ano passado no Bourbon Street Music Club, em São Paulo, integrando o Projeto Credicard Vozes, o CD se intitula “Clássica” e está sendo posto no mercado pela gravadora Som Livre. Embora acompanhada por uma boa massa sonora (e inclua-se nisso a cozinha percussiva característica), o trabalho soa bastante acústico. A voz melodiosa de Daniela é valorizada e, embora fique claro que não é dotada de grande extensão, a cantora sabe trabalhar bem o seu canto. O repertório alberga, em sua maioria, pérolas do nosso cancioneiro. As exceções ficam por conta de “Maria Clara” e “Aeromoça” (esta, muito bonita!), ambas de autoria da própria Daniela, e de “And I Love Her”, um clássico do repertório dos Beatles. Dentre os destaques estão as releituras de “Serrado” (Djavan), de “Vapor Barato” (Jards Macalé e Waly Salomão) e de “Divino Maravilhoso” (Caetano Veloso e Gilberto Gil). A irmã e também cantora Vânia Bastos faz uma interessante participação na pulsante “Sua Estupidez” (de Roberto e Erasmo Carlos).  Este trabalho pode ser uma espécie de vestibular para que possa vir a ocorrer uma real mudança de rumo na carreira de Daniela…

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br 

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