O Catar, o Mundo Árabe e a Copa do Mundo

Diego Leonardo Santana Silva

Doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com bolsa Capes

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

E-mail: diego@getempo.org

 

Catari anda no gramado do estádio Al Baytm em Doha. Imagem retirada de: https://ge.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/covid-19-interrompe-obras-dos-estadios-da-copa-2022-e-suspende-celebracao-do-ramada-no-catar.ghtml

 

A Copa do Mundo de futebol é o evento esportivo mais assistido do planeta. Ao longo de um mês, 32 seleções representando países de todas as partes do mundo entram em campo em busca do tão cobiçado título de campeão mundial de futebol por seleções. Por ser um evento tão popular, a Copa do Mundo, que nesse ano de 2022 será realizada no Catar, atrai os olhares do planeta e o governo local quer aproveitar essa oportunidade para apresentar o mundo árabe ao restante do mundo.

Tão estereotipado devido aos trágicos eventos de atentados terroristas cometidos por extremistas jihadistas, o mundo árabe é dotado de uma série de preconceitos. Os árabes seriam radicais, extremistas e intolerantes. Não, não é isso que eles realmente são e a organização do mundial quer ir de encontro a essa visão e apresentar um mundo islâmico amistoso, sorridente, tolerante e de braços abertos para o mundo.

A copa do Catar custou centenas de bilhões de dólares a um país que visa apresentar uma visão futurista e modernizadora que contou com um orçamento de 200 bilhões de dólares. O país, famoso por seus arranha-céus futuristas, por façanhas arquitetônicas e por carros luxuosos, agora também contará com estádios de futebol, alguns que inclusive serão desmontados após o mundial. Os investimentos do Catar nesse esporte não se restringem ao mundo. O mais notável deles é o clube de futebol francês Paris Saint-Germain (PSG) propriedade da Qatar Sports Investment (QSi), uma subsidiária da Qatar Investment Authority que tem como CEO o emir Tamim bin Hamad Al Thani.

Durante o sorteio os grupos das seleções participantes do mundial, a Fifa e o Catar se esforçaram para vender uma imagem positiva do país que sofre com algumas críticas. Recentemente, a presidente da Federação de Futebol da Noruega, Lise Kleveness, fez críticas ao Catar devido a condições de trabalho ruins às quais trabalhadores estrangeiros estariam sendo submetidos. Além disso, o país não permite a realização de jogos de futebol feminino, algo estranho para a Fifa explicar; afinal, a entidade máxima do futebol vem realizando os mundiais de futebol feminino visando aumentar o público desse evento. Como ceder a realização de seu evento mais importante a um país que não permite a prática do futebol às suas mulheres?

Outro ponto de preocupação está relacionado aos visitantes estrangeiros da comunidade LGBTQIA+, um ponto de preocupação também existente na Copa da Rússia em 2018. O comitê organizador da Copa do Mundo 2022 afirma que o Catar é um país árabe, mas também multicultural e que todos são bem-vindos no país desde que respeitem certas cartilhas de comportamento, como ocorre com os estrangeiros que lá moram. Existem áreas mais flexíveis quanto ao comportamento no país, como praias onde é possível usar biquini e outras onde isso não é permitido. Isso também vale para o consumo de bebidas alcoólicas. Para a comissão organizadora, hábitos como esse não fazem parte da cultura islâmica, mas a hospitalidade faz parte; então, aqueles que forem ao mundial poderão encontrar áreas do país onde esse tipo de coisa é permitido.

Seja dentro ou fora do campo, o mundo olhará para o Catar no período de 21 de novembro a 18 de dezembro, e o país árabe terá oportunidade de apresentar sua face. Qual é o mundo islâmico que o Catar quer que o restante do planeta conheça? É o que veremos nos próximos meses.

 

 

Para saber mais:

https://exame.com/revista-exame/a-mais-rica-das-copas-do-mundo/

https://www.uol.com.br/esporte/reportagens-especiais/qatar-2022-o-mundo-arabe-quer-mudar-a-impressao-que-voce-tem-dele/#cover

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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