Diz-se do isentão.

Não sei quem inventou a palavra “lulopetismo”.

 

Quem a usa, o faz com nojo, muito entojo.

 

Um nojo fingido, enfatiotado, porque lhe causa pior “intojo”, misturar-se com alguém “bolsonarista”, palavra esgoto para onde fluíram pouco menos de 50% do vasto eleitorado brasileiro na última consulta popular.

 

Foram 60.345.999 (50,90%) dos votos para Lula, e 58.206.354 (49,10%) para Bolsonaro, o que não foi coisa pouca.

 

Todavia, com sua voz bronca e engasturada, o “isentão” grita como sua glória suprema: “não sou ‘lulopetista’, nem, por pior, ‘bolsonarista’!

 

Um sinal de que em sendo o bista que é, fez o “Ele”, e já se exibe: envergonhado!

 

Bista? Sim, bista mesmo, para o leitor entender se o i é e, ou o, o que dá no mesmo, merecimento.

 

Porque só pode ser uma bista com o mesmo, se orgulhar de não ser um ‘lulopetista’, nem alguém ‘bolsonarista’, ou para ambos os lados pendido, anfótero, diante da opção de um 2º turno eleitoral polarizado, bem escolhido, orgulhosamente, por aqueles que exibiram as suas cores, e pendores; quem não os tem, ora essa!

 

Um 2º turno altamente maniqueísta, poder-se-á lamentar talvez, arrimado em teses bem explícitas e antagônicas, como deve ser, para não provocar indiferenças.

 

Um campo querendo a continuidade de um país pujante e moderno, onde a liberdade condicionasse o social.

 

O outro, saudosista e regressista, no meu parecer, tão nebuloso quão rancoroso e rançoso, pregando o atraso, daquilo que nunca vingou, na velha demagogia, de saber bem se utilizar dos pobres, em promessas vãs de picanha, antiga e prisca patranha, do social querendo tolher a liberdade, e o fraterno sempre exigindo que a igualdade possa se impor na força do fio, do grito e do aço.

 

Não foi assim que o debate se fez?

 

– “Que nada!  Ninguém o quis assim!”

 

E alguns evitam querer se definir ainda.

 

Preferem falar de rachadinhas e rachadões, escondendo-se no alforiamento do erro real já apurado e julgado, “retransitando-o” por outras vias, por vias invídias: a “des-condenação” sendo apagada, proibindo-se dela dizer, o que foi, e não devia.

 

Ou não deveria, jamais!

 

Mas que foi, e assim restou, já esquecida!

 

Esquecida, por vilã aleivosia, só não foi a tentativa de deslustrar a carreira do soldado, execrando-o enquanto capitão condecorado, e parlamentar pouco referido em sua passagem no dito “baixo-clero”, onde não ficam os que roubam e se inserem no dolo.

 

E porque não lhe havia manchas, o mérito alçou as ruas, com passeatas e motociatas, memoráveis!

 

Tudo o que incomodava, afinal o grito passou a se alastrar: Mito! Mito! Mito!

 

Tão incômodos gritos, que teimam em ressurgir, e já pensam em coibi-los querendo desde já; custodiar o Capitão.

 

O livro de Sudhir Hazarenesingh: “La legenda de Napoleón”da Points.

O que me faz lembrar a leitura de Sudhir Hazareesingh, Fellow da British Academy, professor do Balliol College da Universidade de Oxford, em sua premiada obra, “La legende de Napoleon”, a Lenda de Napoleão, em que discorre sobre a formação do Mito de Napoleão Bonaparte, acontecido a partir da sua queda em Waterloo, e subsequente encarceramento na Ilha de Santa Helena.

 

Um mito que permanece até hoje, além das fronteiras francesas, mais de duzentos anos após a sua morte.

 

Algo que impregnou o reconhecimento popular de tal modo, que duas vertentes se sucederam.

 

Uma “bonapartista”, por ordem, liderança, autoridade e doutrina política, e a outra “napoleônica”, por admiração e sentimento pessoal exaltados por escritos de Balzac, Stendhal, Victor Hugo e Léon Bloy, este último, que se perdeu na minha biblioteca.

 

Mas a leitura de Sudhir Hazaresingh se faz notável, porque longe de louvar ou denegrir a figura de Napoleão Bonaparte, como homem, militar e político, procurou entender a formação de mito, da fama e da lenda, que aconteceram após sua queda a partir de Waterloo, em 1815, justo após os “Cem dias”, exíguo tempo, quando sua pouca autoridade se firmou em tolerância e democracia, contra tudo o que lhe foi assacado como “sedicioso, conspirador e usurpador”, justo o “ogro corso”, que se agigantava perante o comum cidadão, o camponês, o ex-combatente que sentia com saudade a inclemência do inverno em Borodino e Smolensk.

 

Em farta documentação, duzentos anos depois, Hazaresingh resgata relatos de farto noticiário em perseguição promovida pelo regime dos Bourbons restaurado, semelhante ao que se vê hoje em terra pátria, querendo não só engaiolar Bolsonaro, como acossar os seus simpatizantes.

 

O fato é que a figura crescente de Napoleão ampliou-se bem além da sua morte, em 1820, de modo que o resgate dos seus despojos para a capela de “Les Invalides”, onde repousa desde 1840, foi acompanhado por cerca de um milhão de franceses em procissão, estando ali por centro de visitação pública, onde todos se curvam, ou para cima para louvá-lo, ou inclinando-se para baixo, de modo a melhor reverenciá-lo.

 

Eu ali já fui muitas vezes e pretendo, onde ninguém lhe fica indiferente.

 

Hoje, mais de duzentos anos se passaram em descaminhos vários do mundo, e sobretudo na França.

 

No vácuo de Napoleão Bonaparte, um seu sobrinho, Luís Napoleão, alçou o poder após a pacificação da chamada “Primavera dos Povos” de 1848.

 

A Revista LeFigaro Histoire de Janeiro de 2023.

Assumiu a Presidência da II República Francesa, com uma votação quase unânime (73,4% dos votos), vencendo figuras notáveis como o liberal Alphonse de Lamartine, o “republicano azul”, Louis-Eugène Cavaignac, o “republicano vermelho”, Alexandre Auguste Ledru-Rollin, o socialista, François-Vincent Raspail, e até o monarquista, Nicolas Changarnier.

 

Como ao Presidente fora negada expressiva maioria no parlamento, Luís Napoleão, imitando seu tio, deu o golpe de II Brumário, tão execrado por Victor Hugo, e sobretudo por Karl Marx, para quem os Golpes de Estado se fazem na História em Tragédia e Farsa.

 

Com tragédia ou com farsa, o trágico e o farsesco ficam por conta dos eternos insatisfeitos de cada banda.

 

A Revista Le Figaro História, edição de 02 de Janeiro, reflete a História deste 2º Napoleão, que se coroou imperador como Napoleão III.

 

Teria sido este 2º Napoleão, um impostor ou um visionário? Pergunta a revista.

 

A história da França, hoje observada, confere um apogeu que findou em 1870, com a derrota de Sedan, Paris sendo invadida pelos seus vizinhos por uma segunda vez, derrubando esse 2º Napoleão.

 

Filme belíssimo: “Summer of 42”.

Numa sequência desde 1914 e, por pior, em 1942, Paris foi invadida pelas tropas estrangeiras.

 

Oportunidade para lembrar de uma música triste, mas notável, de Michel Legrand: “L’eté de 1942”, tema do filme “Summer of ’42” (Houve uma vez um Verão), mas aí eu estaria falando de muitas ternuras o que não pretendo.

 

Endereço para ouvir a música:  https://youtu.be/oYu6HtUxRJs

 

O tempo, igual àquele, não é para ternuras.

 

Também não é para frescuras, de não ser “lulopetista”, e não ser também “bolsonarista”, essa coisa anfótera, equidistante, tirada a querer parecer mais séria, que os comuns mortais; essa coisa “bom-mocista”, que não me agrada.

 

Livre-nos do bem!

O que me faz lembrar da obra “Délivrez-nous du bien !”, (Livrai-nos do bem!, em referência ao “Livrai-nos do Mal, contido na prece do Pai Nosso), ensaio de Natacha Polony e Jean-Michel Quatrepoint, que não li ainda, mas dele já reli muitas resenhas.

 

Que Deus nos proteja, como diz a música notável de Rita Lee, composta após o desapreço sofrido pela roqueira em terras petistas sergipanas.

 

Segue uma chamada do referido ensaio para quem quiser traduzir.

 

“O clima é pesado. Sentenças, situações que antes pareciam inócuas tornam-se crimes. Somos todos culpados e os inquisidores estão nos observando.

Culpado de ter bebido, de ter feito piadas sobre mulheres, de ter comido carne, de ter ofendido qualquer minoria. Culpado de ter estado do lado do “dominante”. A cada dia, um cidadão que se considerava, não um herói, mas um cara do bem, se vê pregado no pelourinho, intimado a expiar seus crimes e a se arrepender.

Por trás dessa derrapagem rastreadora e desses empreendimentos de reeducação, um mecanismo: a tirania das minorias que exploram lutas essenciais, para transformá-las em cruzada contra uma suposta maioria, contra o “dominante”. Em nome do Bem, modificamos o vocabulário, negamos o prazer, criminalizamos o desejo, reescrevemos a história. Esses novos fanáticos, que odeiam o Homem como ele é e sonham com ele segundo seus ditames, são os idiotas úteis de um neoliberalismo que atomiza as sociedades e enfraquece as estruturas tradicionais para melhor impor sua visão maniqueísta do mundo”.

“L’atmosphère est lourde. Les phrases, les situations qui semblaient autrefois anodines deviennent des crimes. Nous sommes tous coupables, et les inquisiteurs nous guettent.
Coupables d’avoir bu un verre, d’avoir blagué sur les femmes, de manger de la viande, d’avoir offensé une minorité quelconque. Coupables d’avoir été du côté des « dominants ». Chaque jour, un citoyen qui se croyait, non pas un héros, mais un type à peu près bien, se retrouve cloué au pilori, sommé d’expier ses crimes et de faire repentance. 
Derrière cette traque aux dérapages et ces entreprises de rééducation, un mécanisme : la tyrannie de minorités qui instrumentalisent des combats essentiels, pour les transformer en croisade contre une supposée majorité, contre les « dominants ». Au nom du Bien, on modifie le vocabulaire, on nie le plaisir, on criminalise le désir, on réécrit l’histoire. Ces nouveaux bigots, qui détestent l’Homme tel qu’il est et le rêvent selon leurs diktats, sont les idiots utiles d’un néolibéralisme qui atomise les sociétés et fragilise les structures traditionnelles pour mieux imposer sa vision manichéenne du monde.”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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