Para resolver crise, Dilma promete importar médicos

     Não demorou a resposta. As entidades médicas nacionais, reunidas em caráter de urgência, divulgaram neste sábado nota de repúdio

Marca exibida pelos médicos em seus perfis do Facebook

ao anúncio de importação de médicos estrangeiros feito pela presidente Dilma Rousseff, em rede nacional, na noite de sexta-feira.

       Para a Associação Médica Brasileira, o Conselho Federal de Medicina, a Federação Nacional dos Médicos e a Assocviação Nacional dos Médicos Residentes "o caminho trilhado é de alto risco e simboliza uma vergonha nacional. Ele expõe a população, sobretudo a parcela mais vulnerável e carente, à ação de pessoas cujos conhecimentos e competências não foram devidamente comprovados. Além disso, tem valor inócuo, paliativo, populista e esconde os reais problemas que afetam o SUS", ressalta o texto.

      Na verdade, não existe restrições à simples importação de médicos, que será sempre bem vinda, desde que esses profissionais revalidem os seus diplomas através do Revalida, programa do próprio Governo Federal que condiciona a autorização do exercício profissional no país à verificação dos conhecimentos e práticas adquiridas, como é de praxe para todos os médicos, inclusive brasileiros, com diplomas de faculdades ou universidades estrangeiras. O governo quer ferir a sua própria legislãção e permitir o trabalho desses médicos sem a necessidade do Revalida, passando por cima do Conselho Federal de Medicina, que é órgão que promove o registro profissional.

      E não foram somente as entidades médicas que protestaram. Vários segmentos da imprensa brasileira também se manifestaram sobre o assunto, criticando a fala da presidenta, como a Revista Veja. A onda de protestos agora se espalha também pelas redes sociais, com médicos de todo o país exibindo em seus perfis uma fita preta em sinal de luto. Novas manifestações estão sendo programadas para todo o país e uma paralisação geral dos médicos do SUS deverá acontecer na primeira semana de julho. Leia a Carta aberta aos médicos e à população brasileira, dirigida pelas entidades médicas nacionais.

A SAÚDE PÚBLICA E A VERGONHA NACIONAL

Há alguns anos, a presidente Dilma Rousseff foi vítima de grave problema de saúde. O tratamento aconteceu em centros de excelência do país e sob a supervisão de homens e mulheres capacitados em escolas médicas brasileiras. O povo quer acesso ao mesmo e não quer ser tratado como cidadão de segunda categoria, tratado por médicos com formação duvidosa e em instalações precárias.

Por isso, a Associação Médica Brasileira (AMB), a Associação Nacional dos Médicos Resisdentes (ANMR), o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) manifestam publicamente seu repúdio e extrema preocupação com o anúncio de "trazer de imediato milhares de médicos do exterior", feito nesta sexta-feira (21), durante pronunciamento em cadeia de rádio e TV.

O caminho trilhado é de alto risco e simboliza uma vergonha nacional. Ele expõe a população, sobretudo a parcela mais vulnerável e carente, à ação de pessoas cujos conhecimentos e competências não foram devidamente comprovados. Além disso, tem valor inócuo, paliativo, populista e esconde os reais problemas que afetam o Sistema Único de Saúde (SUS).

Será que os "médicos importados"- sem qualquer critério de avaliação ou com diplomas validados com regras duvidosas – compensarão a falta de leitos, de medicamentos, as ambulâncias paradas por falta de combustível, as infiltrações nas paredes e as goteiras nos hospitais? Onde estão as medidas para dotar os serviços de infraestrutura e de recursos humanos valorizados? Qual o destino dos R$ 17 bilhões do orçamento do Governo Federal para a saúde que não foram aplicados como deveriam, em 2012? Porque vetaram artigos da Emenda Constitucional 29, que se tivesse colocada em prática teria permitido uma revolução na saúde?

Os protestos não pedem "médicos estrangeiros", mas um SUS público, integral, gratuito, de qualidade e acessível a todos. É preciso reconhecer que é a falta de investimentos e a gestão incompetente desse sistema que afastam os médicos brasileiros do interior e da rede pública, agravando o caos na assistência.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os Governos de países com economias mais frágeis investem mais que o Brasil no setor. Na Argentina, o percentual de aplicação fica em 66%. No Brasil, esbarra em 47%. O apelo desesperado das ruas é por mais investimentos do Estado em saúde. É assim que o Brasil terá a saúde e os "hospitais padrão Fifa", exigidos pela população, e não com a "importação de médicos".

A AMB, o CFM e a Fenam -assim como outras entidades e instituições, os 400 mil médicos brasileiros e a população conscientes da fragilidade da proposta de "importação" – não admitirão que se coloque em risco o futuro de um modelo enraizado na nossa Constituição e a vida de nossos cidadãos. Para tanto, tomarão tomas as medidas possíveis, inclusive jurídicas, para assegurar o Estado Democrático de Direito no país, com base na dignidade humana.

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA (AMB)
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS RESIDENTES (ANMR)
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM)
FEDERAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS (FENAM)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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