Um elogio à História

Bruno Gonçalves Alvaro
Professor do DHI/UFS
Pesquisador-associado do Vivarium (Núcleo Nordeste)
brunoalvaro@ufs.br

Em um momento em que a historiografia tem sido escrita e reescrita à luz de novas teorias relativistas – em alguns momentos ao extremo – o livro Fontes para História de Sergipe Colonial (Séculos XVI-XVIII), lançado pela Editora UFS, em 2012, pode ser considerado um dos grandes elogios contemporâneos, não só aos estudos sobre Sergipe Colonial, como, grosso modo, à pesquisa histórica.

Mantendo acessa a chama e reafirmando os passos conduzidos por historiadores que vieram antes de nós e ditando veredas a jovens pesquisadores, como eu, os 28 documentos apresentados pelo professor Francisco José Alves, do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, formam um corpus pertinente para aquilo que sabemos ser a condição sine qua non de estudo analítico e apurado: a preocupação com o empirismo e com a crítica documental.

Longe de ser um positivista, o editor não dá fé cega aos documentos. Ao contrário, numa lição de harmonização entre a “escola clássica”, a já “velha” Nouvelle Histoire e as correntes pós-modernistas, Alves demonstra de forma erudita, em sua Introdução, que teve como objetivo “examinar” tal “conjunto documental para caracterizá-lo quanto a seus autores, confiabilidade, gênero, linhagem literária e suas potencialidades enquanto suporte empírico para investigações historiográficas” (p. 9).

O professor une então as duas pontas perdidas do novelo: A edição de fontes e as contribuições mais atuais que temos diante daquilo que ele mesmo chama de “prato apetitoso da síntese histórica” (p. 9). De maneira certeira, ele alerta não ter tido o intuito de servir-nos uma iguaria pronta. No entanto, de maneira sagaz – e o faz muito bem – nos enfeitiça com os aromas do prato preferido dos historiadores, segundo sua própria expressão: o relato histórico.

Para um medievalista como eu, ler cada um dos documentos do período colonial do atual estado de Sergipe é um constante aprendizado sobre o manuseio de fontes. Sua preocupação e trabalho de manutenção de uma prática hercúlea que vem sendo abandonada pelas novas gerações deve ser vista com total atenção. O trabalho de edições de fontes possibilitou, por exemplo, o crescimento dos Estudos Medievais no Brasil e tem possibilitado a renovação do estudo historiográfico desta e de outras áreas do saber histórico.

Em meio ao ron ron devoto – na expressão crítica do grande medievalista francês Alain Guerreau – que tem tomado de assalto os corredores universitários e prejudicado o ofício da pesquisa justa e limpa, o livro do professor Francisco José Alves leva a cabo, melhor do que muitos, o velho ensinamento do monge medieval Bernardo de Chartres  (séc. XII): “Somos como anões aos ombros de gigantes, pois podemos ver mais coisas do que eles e mais distantes, não devido à acuidade da nossa vista ou à altura do nosso corpo, mas porque somos mantidos e elevados pela estatura de gigantes”. In: JOÃO DE SALISBÚRIA, Metalogicon III, 4 (ed. Webb, Oxford 1929, p. 136).

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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