Uma afronta à classe médica brasileira

         O Conselho Federal de Medicina e seus conselhos regionais, a Associação Médica Brasileira e suas federadas, incluindo as sociedades de especialidades que compõem o Conselho Científico, a Federação Nacional dos Médicos, com todos os seus sindicatos e a Associação Nacional dos Residentes Médicos estão mobilizados em todo o país para a discussão de estratégias visando combater sem tréguas a Medida Provisória do governo federal que institui o serviço civil obrigatório e traz outros absurdos.
         A MP 621 amplia a duração do curso de Medicina para mais dois anos, facilita a importação de médicos estrangeiros, dispensando-os da revalidação do diploma por três anos, amplia descomunalmente o número de vagas nas escolas médicas sem nenhum planejamento e cria dez mil cargos de bolsistas médicos, entre outras medidas impactantes.
         Alega o governo que o número de médicos no Brasil não é suficiente para atender à demanda. A verdade é outra. Médicos existem, o que não existe é uma Carreira de Estado que possibilite fixar o médico nos lugares mais longínquos, com condições adequadas de trabalho.
         Pressionado pela população que está comparecendo às ruas exigir moralidade e melhoria nos serviços públicos, acuado por todos os lados, com índices de popularidade despencando, sem rumo nem credibilidade, fragilizado na sua base parlamentar, o governo emite uma pacote apressado, inconsistente, demagógico, que agride a autonomia de uma categoria profissional, valendo-se da insatisfação do povo com a precariedade da assistência à saúde oferecida pelo SUS.
         Criar mecanismos antidemocráticos para forçar o médico a trabalhar em lugares extremos e remotos não resolve o problema. A oferta de vínculos precários, a falta de estrutura e condições de trabalho na rede pública, entre outros, são fatores que inviabilizam a melhoria na qualidade do atendimento à população mais carente. Expor os jovens médicos, ainda imaturos e inexperientes, a mais dois anos de graduação na forma de um serviço civil obrigatório, em locais desassistidos e sem as mínimas condições de praticar uma Medicina de qualidade, eficiente e eficaz é, no mínimo, um ato inconsequente e irresponsável, para não dizer desumano.
          Agora chegou a hora dos nossos deputados e senadores, tão sensíveis aos apelos das ruas, perceberem que o verdadeiro caminho para um Sistema Único de Saúde forte e com qualidade é outro. Os médicos, por sua vez, têm a obrigação de responder, unidos, às convocações de suas entidades legalmente constituídas e estas, por sua vez, deverão empreender todos os esforços possíveis para demonstrar, de forma inequívoca, a inconstitucionalidade da presente medida que se constitui, de longe, a maior afronta à classe médica brasileira em toda a sua história.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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