Mãe e tia de Mayadni entregam relatório na Delegacia

Valéria [mãe] e Elaine [tia] saindo da delegacia (Fotos: Portal Infonet)

Visivelmente abaladas, a mãe e a tia da jovem Maydni Lima de Jesus, 17 [que morreu no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), após uma cirurgia de apendicite], compareceram na manhã desta sexta-feira, 23, à 8ª Delegacia Metropolitana. Elas entregaram toda documentação para que o delegado Fernando Melo possa dar entrada no inquérito policial que vai apurar as causas da morte da adolescente.

Segundo a tia da garota, Elaine Conceição Santos, a família decidiu denunciar o caso à polícia para entender o que realmente aconteceu, já que a menina entrou andando e conversando no Huse e saiu morta, após quase nove dias em que a família implorava por uma vaga na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

“Ela sentiu uma dor seguida de vômitos no dia 20 de dezembro, demos um remédio e passou, mas no dia seguinte a dor voltou. Levamos para o Nestor Piva, ela tomou remédio pra dor e soro porque estava desidratada. Dr. Gabriel passou exames de sangue e urina, não deu nada, mas a dor continuava. Foi quando ele passou a ultrassom abdominal e o médico detectou apendicite grau 2. O exame foi mostrado a um cirurgião que confirmou e ela foi encaminhada ao Huse”, conta.

Elaine: "O que levou à morte de Mayadni?"

A jovem deu entrada no Huse no dia 22 de dezembro e às 15h30 a levaram para o Centro Cirúrgico. "Quem veio pegar ela foram os médicos Marcela Leonardo, Mateus Peixoto e Vinicius de Bezerra, que falaram com a gente e nos tranquilizaram. A menina entrou andando, falando, consciente, não precisou de cadeira de rodas. Na porta do Centro Cirúrgico a mãe perguntou se podia acompanhar porque ela era menor e disseram que só é permitido até os 14 anos. Ficamos na porta aguardando”, conta Elaine Conceição.

Secreção

A tia da menina afirmou que por volta das 20h, um dos médicos que acompanhou a cirurgia saiu e disse que estava tudo bem. “O médico disse que tinha saído tudo bem, que tinha sido um sucesso, mas que, como tinha muito pus, tiveram que lavar pra tirar a secreção. Ai a gente perguntou se a apendicite tinha estourado e ele respondeu que não, que ela estava acordando da sedação e a gente podia ir pra casa que no outro dia ligavam para dizer o horário da visita. Fomos pra casa tranquilas, felizes, achando que a cirurgia tinha sido um sucesso”, completa.

Mãe extremamente abalada não consegue falar sobre o caso

Elaine Conceição ressaltou que às 23h, a sobrinha pediu emprestado um telefone celular de uma acompanhante de outro paciente e ligou pra família.

“Quando eu atendi o celular às 11h da noite, tomei um susto. Era Mayadni dizendo que não estava no Centro Cirúrgico, estava na UPC. Eu corri pra lá e a encontrei nua numa maca, cansando e disse que doía quando respirava. Eu fui pegar a autorização de acompanhante e perguntei porque não me ligaram e me responderam que foi porque ela continuava no Centro Cirúrgico, mas na verdade ela já estava na UPC. Os médicos diziam que o cansaço era normal. Pedi a enfermeira para chamar o médico porque as mãozinhas dela já estavam ficando roxas, mas ela me perguntou se eu tinha pago algum médico para ele estar ali na hora que eu quisesse”, lamenta.

Retorno

A tia da menina garantiu que o médico que fez a cirurgia nunca conversou com a família. “Após a enfermeira ter respondido mal, eu procurei outra que chamou um médico no plantão e ele a levou de volta para o Centro Cirúrgico [na terça-feira] para tomar oxigênio. A gente conversava com os médicos que acompanharam a cirurgia, mas Dr. Fábio Alves [o médico cirurgião que operou] nunca conversou com a gente. Na entrada do Centro Cirúrgico a menina fez coraçãozinho com as mãos para a mãe e para mim e a mãe só conseguiu vê-la na quinta-feira, após eu ter falado com um colega que tenho na Ouvidoria. Ela estava entubada”, diz chorando muito.

Mayadni morreu em plena juventude (Foto: Álbum de família)

E completa: “Quando minha irmã entrou, uma enfermeira a chamou e perguntou: ‘mãe você ama sua filha?’ e ela respondeu que sim e que só tinha ela. Ai a enfermeira disse: ‘chame a imprensa e faça o possível, porque eu não posso fazer mais nada, já tão dizendo que eu quero salvar o mundo. Estou acompanhando sua filha, mas o caso dela é de UTI acompanhada 24 horas por médicos’.

A família foi orientada a falar com o supervisor. “Ele respondeu que era feriado, não tinha médico no Huse, mas ia tentar resolver. Só depois de termos montado a barraca na porta, de levar os coleguinhas e chamar a imprensa, arranjaram a vaga, mas o médico da UTI disse que ia admitir, mas que o caso era grave porque demoraram demais e ela já estava em coma induzido, que não deviam ter deixado na UPC. A menina teve que fazer hemodiálise, tomar sangue porque as plaquetas baixaram muito e não tinha o remédio Noradrenalina para manter a pressão e o coraçãozinho. Conseguimos muitas doações de medicamento. A pressão normalizou, tiraram todas as drogas, mas ela não respondeu e suspeitaram de morte encefálica, ela morreu no início da tarde do dia 30, mas só informaram a gente às 16h e foi uma correria para encontrar cartórios abertos para o atestado de óbito, providenciar velório. Outra falta de respeito”, chora mais uma vez.

Processo

“Nós vamos abrir o processo pra saber o que aconteceu com Mayadni porque ela entrou lá falando e com apendicite grau 2, não estava estrangulada. Nos exames não constava nenhuma infecção. Tivemos que entrar na justiça pra conseguir o prontuário. Viemos aqui hoje trazer os docuemntos para o delegado para abrir o inquérito. Precisamos saber o que levou à morte dela, porque ela só entrou com apendicite e saiu com infecção, com os rins parados, com morte encefálica, com todos os órgãos destruídos?, pegou uma infecção, ninguém cuidou”, desabafa.

E continua: “A gente sabe que isso não vai trazer ela de volta, mas acredita que pode salvar outras vidas. No mínimo a gente quer uma explicação, já que o médico Fábio Alves [que operou], nunca nos procurou. O delegado vai encaminhar o prontuário ao perito e no próximo dia 28, começarão os depoimentos”, finaliza a tia da menina ao lado da mãe, d. Valéria, que só chorava.

Huse

Na assessoria de Comunicação do Hospital de Urgência de Sergipe, a informação que a Unidade de Pós Cirúrgica (UPC) em que Mayadni Lima ficou é semelhante à UTI. “A UPC é uma sala que possui os mesmos cuidados da UTI, com todos os equipamentos necessários. A paciente já deu entrada no Huse com infecção e quando os médicos abriram verificaram a gravidade”. À época, o hospital emitiu nota:

“O Hospital de Urgência de Sergipe informa que, apesar de toda assistência prestada à paciente Maiadne Lima de Jesus, 17 anos, a mesma evoluiu com morte encefálica. A jovem deu entrada na unidade ao 12h54 do dia 22 de dezembro pela área vermelha do pronto socorro do Huse. Ela, já havia passado pela Unidade de Pronto Atendimento da Zona Norte, quando se queixava de dores abdominais há três dias.

Assim que chegou ao hospital, Maiadne  fez um ultrassonagrafia que detectou um quadro de apendicite grave sendo encaminhada para cirurgia de urgência. Às 15h do mesmo dia, foi operada, sendo detectada uma apendicite já supurada, com peritonite aguda, ou seja, pus em cavidade abdominal. “O caso dela era muito grave. Por isso, após a cirurgia, ficou em leito crítico assistida por médico 24 horas”, explica Lycia Diniz, superintendente do Huse.

O quadro se manteve estável. No entanto, na madrugada do dia 25 de dezembro, a jovem apresentou piora clínica. Por isso, às 4h da manhã, o médico solicitou transferência para um leito de UTI. A Unidade de Terapia Intensiva preparou o leito e, às 17h30 do dia 25, ela já seguia com os cuidados da terapia intensiva.

“Apesar de jovem e todos os cuidados ofertados, Maiadne não apresentava melhora no quadro. Ao contrário, o estado de saúde dela só se agravava”, reiterou a diretora operacional da FHS Luciana Prudente, que acompanhou pessoalmente o caso. A paciente apresentou pneumonia, derrame pleural, insuficiência renal aguda necessitando de diálise e, por fim, isquemia cerebral. Na terça-feira,30, foi diagnosticada a morte encefálica da paciente".

O Portal Infonet fica a disposição dos médicos citados na matéria para quaisquer esclarecimentos pelo número 2106-8000 ou pelo e-mail jornalismo@infonet.com.br.

Por Aldaci de Souza

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