80 ANOS DO 13 DE JULHO

Vai ficando no arquivo da história a página dos Tenentes, que no dia 13 de julho de 1924 sublevaram o Quartel do 28 Batalhão de Caçadores, em Aracaju, em apoio aos revolucionários de São Paulo, sublevados desde o dia 5 de julho. Augusto Maynard Gomes, que no dia 19 de maio de 1923 participou da fundação do Centro de Propaganda do Voto Secreto e no mesmo dia foi eleito 1º Secretário da nova entidade, liderou os Tenentes e o movimento, surpreendendo o presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, que defendia o voto secreto e também aderiu ao Clube fundado por Florentino Menezes e Manoel dos Passos de Oliveira Teles. A revolução sacudiu Aracaju, mobilizou apoios populares e intelectuais e enfrentou uma reação dura que contou com batalhões a soldo, e com a participação da Força Policial do vizinho Estado de Alagoas, que mandou um contingente, sob o comando do Capitão Santa Rosa, com a finalidade de dar combate a parte dos militares federais aquartelados e que apoiavam os Tenentes. No dia 14 de julho de 1924 os Tenentes Augusto Maynard Gomes, João Soarino de Melo e Manuel Messias de Mendonça lançam uma Proclamação “Ao Altivo Povo Sergipano”, dando as razões da revolta: “Não desconhece o valoroso povo de Sergipe a situação de desrespeito e menosprezo aos direitos alheios implantada pelos que nestes últimos seis anos vêm governando a República Brasileira; não desconhece também o digno povo sergipano as humilhações, os vexames que esses mesmos dirigentes vêm impondo à classe militar, esta classe que, numa hora feliz e majestosa implantou em nossa cara Pátria o governo republicano, o governo da liberdade, o governo do povo, para o povo e pelo povo, princípios estes esquecidos e relegados pelos que se têm assenhorado das posições políticas e administrativas do País. Há bem dois anos, uma centena de brasileiros militares, orientada e sequiosa de bem servir à Pátria, levantou-se contra os processos anti – republicanos do governo do Sr. Epitácio Pessoa, cidadão que, apesar de Ministro do mais alto Tribunal da Nação, se mostrou o mais feroz inimigo dos direitos e da liberdade dos seus governados. ………………………………………………… “Como não mais possível fosse suportar tantos ultrajes nos direitos do povo, o Exército Nacional, por intermédio de um número considerável de seus representantes, se levantou novamente, e desta vez nas plagas do Ipiranga, justamente nas terras em que se verificou o grito patriótico da Independência ou Morte, “Ora, a guarnição militar de Sergipe não podia de forma alguma ficar indiferente e calada em momento tão sombrio e difícil para a Pátria, resolvendo então os que abaixo se assinam, acompanhar os seus camaradas que no sul se batem pela grandeza e verdadeira prática do regime Republicano. “E tal movimento de solidariedade e de patriotismo constitui em depor as autoridades que em Sergipe se correspondem com o governo central da República, constituindo-nos, doravante, em junta governativa militar para todos os efeitos, até que com a vitória final, assuma as rédeas do poder o verdadeiro escolhido do povo.” Na Proclamação dos Tenentes estava claro que o motivo principal da revolta era apoiar os camaradas de São Paulo, que dias antes, no 5 de julho, resolveram pela sublevação. Alcançar o poder local era uma conseqüência, não uma motivação inicial. Afinal de contas, Graccho Cardoso foi republicano na mocidade, militar e como tal participou de eventos de guerra, nos primeiros anos da República. Ele tem sua versão para os fatos de 13 de julho de 1924, cujos trechos de sua Mensagem à Assembléia Legislativa, em 7 de setembro daquele ano, vão, aqui, selecionados, sinteticamente: “Tão bem quanto eu, conheceis os fatos em toda a sua expressão e circunstâncias. Quatro oficiais transviados dos seus deveres, um deles já afeito às aventuras da salvação, revoltaram na madrugada de 13 de julho o 28 Batalhão de Caçadores, atacam o Palácio do Governo e o quartel da polícia, alvejam a minha residência particular e dentro de poucas horas dominam todas as resistências e se apoderam da cidade Detido com os demais auxiliares de governo e como meu irmão Dr. Hunald Cardoso, afora os militares que continuaram fiéis à honra do seu juramento, permaneci incomunicável durante vinte e um dias, expostas minha pessoa e vida a constantes ameaças. “Graças ainda à ação pronta, enérgica e eficaz do presidente Artur Bernardes, Sergipe foi salvo da odiosa e negregada rebelião.” O advogado João Ferreira da Silva, que defendeu o ex-presidente general José Calasans, acusado de ser um dos cabeças do levante tenentista, faz uma síntese dos fatos, na inicial que ingressou na justiça. Diz o advogado: “Na madrugada de 13 de julho do ano passado (1924), das duas para as três horas, o capitão Eurípedes de Lima e os 1º tenentes Augusto Maynard e João Soarino, aos quais se reuniu o 2º tenente Manoel Messias de Mendonça, revoltaram o 28 BC, estacionado nesta cidade (Aracaju), prendendo o seu comandante, major Jacinto Dias Ribeiro, e outros oficiais que não quiseram se lhes unir; saindo à rua, atacaram o palácio do Governo do Estado e o quartel da força policial, que se lhes receberam depois de uma ligeira e fraca resistência; em seguida depuseram e prenderam o presidente do Estado na própria casa de sua residência, transferindo-o no dia seguinte para o quartel do 28 BC, e constituídos em Junta governativa militar assumiram o Governo do Estado. “No movimento apoderaram-se das estações telegráficas e telefônicas e da Estrada de Ferro. “De posse do Governo, a Junta governativa militar aparelhou meios de resistências às forças legais enviadas pelo Governo Federal por terra e por mar para repor o Governo deposto e restabelecer a ordem legal no Estado, convocando reservistas e voluntários, levantando trincheiras no lugar denominado Carvão, em frente à barra de Aracaju, e remetendo, à aproximação das forças para a vila de Itaporanga, onde fez trincheiras, e para a vila do Carmo, onde o batalhão legalista de voluntários do Coronel Francisco Porfírio e a polícia de Alagoas fugiram, em debandada ao disparo de um canhão, do tempo da Independência, posto em uso pelos revoltosos. Chegadas as forças legais na vila de Itaporanga, diante de sua superioridade numérica e em armas e munições, e com a notícia que o seu chefe, o general Marçal de Farias, fez transmitir ao tenente Augusto Maynard de que a revolta do Estado de São Paulo tinha sido vencida, os revoltosos debandaram, entregando-se muitos às forças legalistas. E concluiu o advogado, em sua petição esclarecedora: “Assim terminou o movimento revoltoso, tendo o Governo da Junta governativa militar durado 21 dias, durante os quais não se registrou um só ataque às famílias, nem à propriedade particular, reinando a mais completa ordem e tranqüilidade na população da capital e do interior do Estado.” Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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