LARANJEIRAS – 30 ANOS EM FOLCLORE

Laranjeiras vai viver, nesta semana, seus dias de glória anual sediando o “XXX Encontro Cultural”. O evento deve reunir especialistas, procedentes de vários Estados brasileiros, interessados nas temáticas em debate que destacam três linhas: os movimentos sociais, o poder comunicante do Folclore, e a própria história do evento, agora em 30ª edição.

Desde o primeiro Congresso Brasileiro de Folclore realizado em 1951, em torno do centenário de nascimento de Sílvio Romero, que o Brasil voltou-se aos estudos da cultura popular, cuja recolha começou com o próprio crítico lagartense. Os congressos – 11 em 53 anos – foram recentemente retomados e pretendem recuperar o tempo perdido, num trabalho seqüenciado por seminários temáticos. Ainda no plano nacional, as festas realizadas em alguns Estados animaram os grupos na divulgação massiva.

 

No mais, são esforços de cada Estado, cada Comissão Estadual de Folclore, estimulados pela Comissão Nacional, em favor da memória popular brasileira. A partir de 1976 Laranjeiras passou a chamar a atenção dos pesquisadores do Folclore, pela realização do I Encontro Cultural e por ter surpreendido com grande número de grupos folclóricos locais, e das suas vizinhanças. Folcloristas consagrados como Théo Brandão e José Aloísio Vilela, de Alagoas, manifestaram o contentamento pelo que viram em Laranjeiras, naquela tentativa de pesquisar, estudar e divulgar o Folclore.

 

Outros especialistas passaram a demonstrar interesse por danças, folguedos, autos populares que o povo sergipano tem guardado, como depositário fiel de um repertório que, no passado, serviu à catequese e à organização dos grupos sociais. O I Encontro Cultural de Laranjeiras foi programado para o final do mês de maio, porque seus criadores achavam que não se podia perder tempo. A professora Beatriz Góis Dantas sugeriu, à época, que a melhor data para a continuidade dos Encontros seria no princípio de janeiro, coincidindo com a festa de Reis e de São Benedito.

 

Sugestão acolhida, o II Encontro já foi feito em janeiro de 1977, e até hoje a data permanece, ligando a cultura popular com o devocionário laranjeirense. Achava-se, assim, a fórmula de inserção do Encontro no calendário de eventos do município. Formou-se, naquele I Encontro Cultural de Laranjeiras o que pode ser identificado como “fila da cultura”, quando uma multidão acorria a sede da Prefeitura, para receber discos, cadernos, álbum de xilogravura e outras publicações.

 

Pelo serviço de som da cidade, o povo de Laranjeiras ouvia a Taieira, com Maria de Lourdes, e o São Gonçalo, da Mussuca. Ouvia, também, a Zazumba, do mestre João Chorão, e a Chegança, de Paulo, ambos de Lagarto. Os Cadernos de Folclore, de autoria de Beatriz Góis Dantas, eram também distribuídos, fortalecendo o tripé do evento: pesquisa, estudo, divulgação. Outras publicações, nos dois anos seguintes, mantiveram o compromisso dos organizadores.

 

Depois pouca coisa se fez, em termos de publicação oficial, até que em 1995 foi lançado o volume especial dos Anais de 20 anos dos Encontros Culturais de Laranjeiras, organizado por Bráulio do Nascimento, com a colaboração de Cilene Lazarito. Em 1996.1997,1998 e 1999 saíram os volumes dos Anais, correspondentes aos Encontros realizados. Novamente a série de publicações foi interrompida, em 2000. O Secretário de Estado da Cultura, José Carlos Teixeira, tem feito um esforço pessoal para publicar textos, CDs e outros materiais, mas encontra a dificuldade da falta de recursos.

 

Todas as dificuldades, no entanto, são enfrentadas e vencidas, garantindo que os Encontros cheguem aos 30 anos de realização, sempre com êxito, fazendo de Laranjeiras um símbolo não apenas de Sergipe, mas do Brasil, com repercussão no exterior. Mestres do Folclore brasileiro, quase todos passaram por Laranjeiras, deixando uma contribuição rica para a bibliografia especializada.

 

Eles chegaram de toda parte: Dante de Laytano, do Rio Grande do Sul, Doralécio Soares, de Santa Catarina, Laura Dela Mônica, Maria de Lourdes Borges Ribeiro, Toninho Macedo, Maria Tereza Lemos de Arruda Camargo, de São Paulo, Maria de Cáscia Nascimento Frade, Raul Lodi, Bráulio do Nascimento, Aloísio de Alencar Pinto, Manoel Diegues Júnior, do Rio de Janeiro, Tales de Azevedo, José Calasans, Edilene Matos, Hidelgardes Viana, Nelson Rossi, Maria do Rosário Alban, Doralice Xavier Alcoforado, da Bahia, Théo Brandão, José Aloísio Vilela, de Alagoas, Mario Souto Maior, Valdemar Valente, René Ribeiro, Frederico Pernambucano de Melo, Roberto Benjamim, Sebastião Vilanova, de Pernambuco, Osvaldo Trigueiro, Altimar Pimentel, Neuma Fechine, da Paraíba, Deífilo Gurgel, Veríssimo de Melo, do Rio Grande do Norte, Florival Serraine, do Ceará, Domingos Vieira Filho, Mundicarmo Ferreti, Sérgio Ferreti, do Maranhão, Maria Elizabeth Vanderberg, Maria Brígido, Vicente Sales, do Pará, Luiz Beltrão, de Brasília, dentre dezenas de outros professores, formando ao lado dos sergipanos Jackson da Silva Lima, Beatriz Góis Dantas, Fernando Lins de Carvalho, Luiz Alberto dos Santos, Luiz Antonio Barreto, Francisco José Alves, Verônica Nunes, Aglaé d’Ávila Fontes, Lindolfo Alves do Amaral, e de outros, o maior grupo de estudiosos do Folclore brasileiro.

 

Os 30 anos de história dos Encontros Culturais de Laranjeiras dão a Sergipe um compromisso com sua cultura popular, que não pode ser negligenciado, nem interrompido, mas, ao contrário, deve ser estimulado, para que continue produzindo excelentes resultados.

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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