A epopéia dos 200 anos da imprensa (IV)

À memória de Aluysio Mendonça Sampaio

 

Na convivência com os jornais figuram, em todo o País, revistas que ganhavam público a cada número, rompendo as barreiras fronteiriças e projetando grupos de pessoas afinadas, tematicamente, e dispostas a oferecerem textos e ilustrações refinados, em seus formatos livres, praticamente sem limites de espaço. O jornal adquiriu um caráter efêmero, enquanto a revista ganhou o tempo, permitindo a inclusão de colaborações extensas, reportagens longas, ilustração fotográfica e artística, que se tornavam partes de um todo harmonioso. Durante o século XX algumas revistas encantaram o Brasil com suas seções, textos, artes, contendo o peso de seus colaboradores. O Malho, Número, Careta, Eu Sei Tudo, Dom Casmurro, Ilustração Brasileira, esta ricamente editada, com belas gravuras, para celebrar o Centenário da Independência do Brasil. Outras revistas, que marcaram a segunda metade do século XX, como Vida Doméstica, O Cruzeiro, A Cigarra, Manchete, Fatos e Fotos, Realidade, Veja, que moldaram um novo jornalismo, no contexto de uma história escrita entre restrições e censuras, mas também entre aplausos e leitura.

 

A imprensa sergipana não foge à regra e também contou com algumas revistas, desde aquelas clássicas, como suporte de entidades culturais, de que são bons exemplos as publicadas pelo Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, desde 1913, e pela Academia Sergipana de Letras, entidade fundada em 1929. A Revista de Aracaju, editada pela Prefeitura de Aracaju, é outro exemplo de publicação densa, cuja contribuição permanece válida, como atesta a consulta aos seus poucos exemplares publicados. A Faculdade de Direito de Sergipe editou, por algum tempo, uma revista de boa qualidade, contando com a colaboração do corpo de professores, liderado por Gonçalo Rollemberg Leite. A Gazeta de Sergipe teve na revista Momento sua expressão cultural explícita, substituindo os suplementos culturais, que ao longo da existência do jornal contou com Bonifácio Fortes, Alberto Carvalho, Hunald Alencar, José Abud, dentre outros.

 

As mulheres tiveram, sob a liderança de Maria Rita Soares, a sua expressão jornalística na revista Renovação, ainda na década de 1930, e os progressistas, afinados com as lutas políticas e ideológicas, editaram Época, a partir de 1948, que se dizia ser “Mensário a Serviço da Cultura e da Domocracia.” Tal revista, que tinha como Diretor o poeta e advogado Walter Sampaio, ainda hoje vivo, em São Paulo, Austrogésilo Porto, como Secretário e Fragmon Carlos Borges, como Redator-Chefe, contava com um trio de ilustradores que entraria para a história das artes de Sergipe e do Brasil: Jenner Augusto, Álvaro Santos e Reinaldo Siqueira, e com um corpo de colaboradores, locais e nacionais, como Seixas Dória, Santo Souza, Jorge Amado, Alina Paim, Garcia Moreno, Jorge Madaur, dentre outros.

 

Dentre os primeiros colaboradores e mais tarde partícipe da sua direção estava Aluysio Sampaio, intelectual engajado, autor de vasta obra de interpretação da vida brasileira, jurista do trabalho, que viveu em São Paulo por muitos anos, editando, por conta e risco, 49 números da LB -Revista de Literatura Brasileira, gracioso veículo de integração da cultura nacional, elaborada carinhosamente pela consciência crítica do seu Diretor, falecido na semana passada, na capital paulista. A morte de Aluysio Sampaio significa uma perda de grande monta para o Brasil intelectualizado, e principalmente para Sergipe, onde mantinha o vínculo de ser sócio correspondente da Academia Sergipana de Letras, além de distribuir, entre intelectuais e amigos da terra, sua bela obra jornalística.

 

LB -Revista de Literatura Brasileira
Foi graças a Aluysio Sampaio que Jenner Augusto fez de sua arte um instrumento estético compromissado com a face do povo, registrando o jeito de viver das comunidades que viviam entre os alagados, mesclando beleza e pobreza nas mesmas molduras, como um grande artista que foi, elevando toda a sua geração sergipana. Era o tempo da poesia de José Sampaio, outro intérprete da alma dos humildes, parceiro das mesmas andanças culturais e políticas, dando tom eloqüente a uma quadra de reconstrução do ânimo nacional, depois de mais de uma década de repressão e propaganda. As capas e muitas das ilustrações da revista Época são de autoria de Jenner Augusto, embora nem sempre estejam assinadas, como esta, do nº 3, de janeiro de 1949. (continua)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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