A carroça

Tempos bons aqueles, pensava José, sentado no banquinho em cima da carroça puxada por um burro, que ele conduzia, levando areia para uma construção lá no Siqueira; mas agora, sua preocupação era livrar o burro dos carros que passavam. Nessa avenida as coisas se complicavam. O sindicato já avisara que as autoridades “stão que stão” visando proibir a passagem de carroças pelas ruas mais movimentadas.

Mas Aracaju hoje em dia é só carros, ônibus, caminhões, sem falar nas motos! O tempo das carroças aqui pelo centro vai terminar!  Um aviso que sempre ouvia. Bons tempos aqueles, quando começara, lá por l950, dava muito bem para dividir espaços com todo mundo. Mas o carro invadiu tudo. É o imperador das ruas! Ôxente, e como iria viver?

As buzinadas lhe irritavam e tinha que ter paciência. Sai da frente! Tire essa merda das ruas! Chamar minha carroça, respeito é bom! e meu burrinho de merda! Tinha vontade de mandar tudo pro cabrunco! Mas ia agüentando. Já dissera ao filho: procure outra coisa pra fazer! Carroceiro não! Sustentara mulher e filhos com o dinheirinho que ganhava.

Até uma casinha tinha! Com televisão, fogão a gás e móveis. Agora era isso: o tempo das carroças está acabando. Lembrou-se de… Aí somente viu o ônibus alto batendo na carroça, o burro se empinando, a queda e a cabeça batendo no chão, a areia derramando-se no asfalto…

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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