Integralismo 2.0

Luyse Moraes Moura

Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe, onde desenvolve pesquisa intitulada “A Colonização do Ciberespaço e a Extrema-Direita Chilena (2007-2012)”, junto ao Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS), orientada pelo Prof. Dr. Dilton Maynard (DHI/UFS). Bolsista PIBIC/CNPq

O Integralismo (ou fascismo indígena, como é denominado por muitos) foi um movimento de extrema-direita brasileiro que reuniu milhares de militantes entre os anos 1932 e 1937, e que tinha como características essenciais o conservadorismo, o autoritarismo, o nacionalismo exacerbado e a defesa de princípios cristãos.

Fundada por Plínio Salgado sob o lema “Deus, Pátria e Família”, a Ação Integralista Brasileira (AIB) converteu o integralismo em partido político em outubro de 1932. AIB fundamentou grande parte de seus princípios – nacionalismo, corporativismo e hierarquia – no fascismo italiano. O partido também tinha como ideais o anticomunismo, antiliberalismo, o resgate da cultura nacional e a construção de um Estado corporativo.

Os integrantes do partido integralista brasileiro destacavam-se pela realização de encontros ou parada militares, nos quais vestiam uniformes e marchavam como soldados. Saudavam-se com a expressão tupi “anauê” (você é meu irmão), erguendo o braço e esticando a mão de forma semelhante aos grupos fascistas europeus. Os chamados camisas verdes defendiam com afinco a ideologia integralista e se esforçavam para construir a imagem do “outro” – judeus, capitalistas liberais, comunistas – como inimigos ou doenças culturais que, caso não fossem eliminados da sociedade, promoveriam a degradação e a desmoralização do Brasil.

Apesar de Getúlio Vargas ter extinguido a AIB durante o Estado Novo (1937-1945), o movimento integralista não se extinguiu junto com o partido. Nas últimas décadas do século XX, pôde-se observar a estruturação de novos movimentos dedicados a promover a difusão de um integralismo contemporâneo. Dentre os que compõem a nova geração integralista, destaca-se o Movimento Integralista e Linearista Brasileiro (MIL-B), fundado em 1991 no estado de Minas Gerais. Embora apresente uma roupagem diferente – utilizando novos uniformes, saudações e meios de propaganda – o MIL-B defende ideais semelhantes aos do integralismo dos anos 1930, tais como o tradicionalismo, o nacionalismo e a espiritualidade.

Com o passar dos anos, o grupo começou a realizar atividades propagandísticas como, por exemplo, a organização de congressos que reuniam integralistas de algumas regiões do Brasil. Entretanto, tais ações não foram suficientes para expandir a atuação do MIL-B. e não garantiram uma maior visibilidade ao grupo. Angariar novos adeptos exigiu dos integralistas  uma nova estratégia. E esta foi desenvolvida no território virtual. Em 2009, o MIL-B criou um portal para divulgar os principais aspectos da doutrina integralista brasileira.

No site, o MIL-B é apresentado como descendente direto dos antigos regimes integralistas dos anos 1930, e seus membros como seguidores fieis de Plínio Salgado. Em uma das páginas virtuais o idealizador do movimento, Cássio Guilherme, afirma que o MIL-B também tem como meta principal defender os valores da religião (Deus), da Pátria e da família. Segundo ele, os membros da organização preocupam-se em espertar uma consciência nacional nos brasileiros, para que esses valorizem suas raízes e suas culturas. Entretanto, não assumem ter uma postura xenófoba, ou agressiva para com os interesses dos estrangeiros no Brasil.

Os adeptos no MIL-B fundamentam seu suposto posicionamento contrário a praticas intolerantes, afirmando que os integralistas do passado nunca cometeram violências contra ninguém, do contrário, declaram com firmeza que durante a Intentona Integralista no Palácio da Guanabara os únicos que morreram fuzilados foram os integralistas.

Boa parte das informações veiculadas no site do MIL-B almeja limpar parte da imagem do integralismo no Brasil, e promover o não-conformismo da população quanto a fatos históricos comprovados, como apreensão de 3 mil punhais marcados com a cruz gamada, que procediam da residência de Plínio Salgado, e que seriam utilizados na conspiração integralista; ou a existência uma lista de nomes preeminentes, relação que os integralistas chamavam de Lista Negra e que continha os nomes das pessoas que seriam executadas pelos mesmos.

Ao analisar o site do Movimento Integralista e Linearista Brasileiro, podemos compreender como grupos de extrema-direita utilizam a Internet como uma ferramenta de propaganda, para divulgar seus ideais e atrair novos adeptos. Desde os anos 1980/1990, esses grupos têm ganhado uma maior visibilidade no cenário mundial, ampliando sua atuação política. Nesse contexto, a internet mostra-se uma aliada, já que é econômica e possui um alcance mundial, permitindo aos extremistas atingirem um número cada vez maior de usuários.

Saiba mais em:
DUTRA, Eliana de Freitas. O Ardil Totalitário: Imaginário Político no Brasil dos anos 30. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, Belo Horizonte: Editora UFMG, 1997.
SILVA, Hélio. O Estado Novo 1937/1938. São Paulo: Editora Três LTDA, 1998.
SILVA, Karla Karine de Jesus. Extrema-direita em rede: o portal Frente Integralista Brasileira e o retorno aos ideais da AIB. Anais Eletrônicos do II Seminário Visões do Mundo Contemporâneo: As Estações da História – Do Inverno Russo à Primavera Árabe (UFS – 05 a 06 de Junho de 2012) [ISBN: 978-85-7822-181-2].

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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