MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantora: FERNANDA PORTO

CD: “AO VIVO”

Gravadora: EMI

 

Quando Fernanda Porto lançou seu primeiro disco pela gravadora Trama e surgiu no cenário nacional como a rainha do drum’n bass tupiniquim, pareceram-me nitidamente claras duas coisas. A primeira: que o que ela queria era um passaporte para o reconhecimento, mas que sua praia era mesmo a MPB. A segunda: a forte influência que Daniela Mercury exercia sobre seu canto.

Recém-chegado às lojas, desta feita através da gravadora EMI, o terceiro disco de Fernanda (que tem timbre límpido e é bem afinada) nada mais faz do que comprovar essas minhas duas teses.

O trabalho (que se encontra disponível nos formatos CD e DVD) é o registro ao vivo de show realizado em abril passado na casa de espetáculos Tom Brasil, em São Paulo, e nele a artista flerta descaradamente com a boa e tradicional música popular brasileira, pondo em segundo plano as vigorosas programações eletrônicas que marcaram o início de sua carreira. Decerto que esse caminho já vinha se delineando desde o segundo CD, mas agora está assumido o que Fernanda realmente gosta de fazer. Embora os arranjos, em sua grande maioria, ainda soem deliciosamente pesados, alguns com pegadas marcantes de bateria e outros com acordes distorcidos de guitarra, as canções já se mostram mais delineadas, com harmonias desenvolvidas para ouvidos mais atentos e exigentes.

E há a participação especial da própria Daniela Mercury na faixa “Desde Que o Samba É Samba” (de Caetano Veloso). Do compositor baiano, Fernanda também incluiu “Sampa” e conseguiu fazer brotar novas nuances de uma música já tantas vezes regravadas. Também Gilberto Gil se faz presente com “Corações a Mil” e Chico Buarque com “Roda Viva”.

Mas os melhores momentos ficam a cargo das canções de safra mais recente. A própria Fernanda comparece como autora com o excelente maracatu “Baque Virado” (parceria dela com Alba Carvalho) e a pulsante “Pensamento 4” (dela com Arnaldo Antunes).

Dentre as inéditas, o mediano reggae “Simples” pode, se bem trabalhado, se transformar em hit, como também a contagiante “Coco Sem Água” (ambas de Fernanda com Vitor Bellis). E há ainda duas músicas pinçadas de jovens compositores da moda: a balançada “Samba a Dois” (de Marcelo Camelo) e a mais calminha “Sentimental” (de Rodrigo Amarante).

Fernanda Porto (que – frise-se – também é uma ótima instrumentista) pode não ter feito um álbum de qualidade incontestável, mas segue pelo caminho certo (embora mais difícil), mostrando estar apta para realizar vôos mais altos. Quem viver, verá…

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: LENINE

CD: “ACÚSTICO MTV”

Gravadora: SONY & BMG

 

É indiscutível que Lenine é um dos mais respeitados compositores da atualidade. Tem canções suas disputadas por oito entre dez intérpretes nacionais e sua obra musical vem sendo regravada à exaustão. Indiscutível também é que o cara possui grande talento e, embora suas músicas por vezes se tornem repetitivas, pode-se dizer que isso é o que caracteriza a sua grife pessoal. E também canta bem, com voz potente e bem colocada. Inobstante tantos atributos, seus discos até agora vêm obtendo vendagens modestas.

Para tentar conquistar um público consumidor mais concreto, o artista pernambucano resolveu aderir ao Acústico MTV, um projeto que, via de regra, costuma alavancar as vendas dos artistas que alberga. É um caminho de mão dupla: Lenine aumentará a vendagem de seu novo álbum e a MTV ganhará em credibilidade, pois ele é um artista tido como “cool” e, como tal, cultuado pela mídia intelectual formadora de opinião.

O CD (para quem preferir, está disponível também em formato DVD) conta com quatorze faixas pinçadas entre sucessos e lados B da carreira de Lenine. Há as participações especiais da cantora Julieta Venegas em “Miedo” (parceria de Lenine com Pedro Guerra) e do guitarrista (ex-Sepultura) Iggor Sepultura em “Dois Olhos Negros”. Lenine (que geralmente conta com um número reduzido de parceiros) mostra com maior urgência, desta vez, seus trabalhos divididos com o conterrâneo Lula Queiroga (é o caso das canções “A Rede”, “O Último Pôr do Sol” e “A Ponte’), de quem gravou ainda a já citada “Dois Olhos Negros” e a interessante “O Atirador”. Mas outros parceiros como Dudu Falcão (“Paciência” e “A Medida da Paixão”) e Sérgio Natureza (“Lá e Cá”) também estão presentes.

Os melhores momentos ficam por conta da pouco conhecida “Tudo Por Acaso” (outra de Lenine com Dudu Falcão) e da regravação de “Santana” (de Junio Barreto e João Carlos), muito embora a gravadora Sony & BMG tenha escolhido como primeira música de trabalho “Hoje Eu Quero Sair Só” (de Lenine, Mu Chebabi e Caxa Aragão), gravada originalmente pela cantora Daúde.

Enfim, um disco feito sob medida para catapultar a incensada obra de Lenine ao reconhecimento popular, mas que na verdade pouco acrescenta à sua já considerável discografia.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               A canção “Circo Singular”, com a talentosa e performática intérprete Patrícia Polayne, foi a ganhadora do Prêmio Banese de Música, cuja finalíssima se realizou sábado passado no Teatro Atheneu. Em segundo e terceiro lugares, respectivamente, ficaram a ótima “Métrica Marrom”, do iniciante Vinícius Rodrigues (Vina Torto), e a contemplativa “Onde Você Ama”, do experiente Paulo Lobo.

 

·               A sergipana Jéssica Lieko vem arrebentando em suas recentes apresentações e recebendo rasgados elogios do público que a prestigia cada vez mais. Para coroar essa fase áurea, a bela morena estará realizando uma apresentação super especial no próximo sábado (dia 23 de setembro) no Tequila Café. Imperdível!

 

·               A fenomenal cantora Ithamara Koorax colhe os louros de sua excursão pela Ásia. Depois de um giro de três semanas pela Coréia, que incluiu três concertos de gala no EBS Music Hall e um show ao ar livre, para 5 mil pessoas, no Jazz Festival in the National Museum of Korea, na cidade de Seul (que recebeu também Bob James, Nathan East, Harvey Mason, Larry Carlton, Laura Fygi, Patricia Barber, Chuck Mangione e o conjunto Yellowjackets), ela já se prepara para a segunda parte da turnê, agendada para novembro próximo, e que incluirá Taiwan, China, Hong Kong e Japão. Acompanhará a estrela o trio formado por José Roberto Bertrami (teclados), Jorge Pescara (baixo) e Haroldo Jobim (bateria).

 

·               Mateus Sartori acaba de lançar, através da distribuidora Tratore, o seu primeiro CD intitulado “Todos os Cantos”. Trata-se de um trabalho acústico de primeiríssima qualidade, no qual fica claro o talento do rapaz. Nitidamente influenciado pelo canto de Renato Braz (que, aliás, faz uma participação especial), Mateus passeia sua voz firme e de belo timbre por treze faixas que primam pela qualidade. Dentre releituras para obras de compositores famosos como Chico Buarque (“Joana Francesa”), Gonzaguinha (a pouco conhecida “Quebra-Pau”) e Djavan (“Bouquet”), os melhores momentos ficam com as faixas “Lamento” (do estreante Meyson) e “O Quilombo” (de Lenine). Vale super a pena conhecer este novo talento!

 

·               A maranhense Alcione está com tudo e não está prosa! Depois de receber o Lifetime Achievement Award, na Flórida, e de ser notificada de que será homenageada pela Academie Arts Sciences Lettres francesa com a Medalha de Ouro, é a vez de a Marrom também ser reverenciada pelos portugueses, o que acontecerá no dia 26 deste mês, no Cassino Estoril, quando estará participando da festa Gala de prêmios da Fundação Luso-Brasileira. Na oportunidade, ela estará dividindo o palco com o cantor angolano (que reside em Lisboa) Waldemar Bastos. Ainda sobre Alcione: ela será uma das convidadas presentes no DVD que Ângela Ro Ro gravará ainda esta semana no Rio de Janeiro.

 

·               Um novo samba que resultou de sua parceria com Marisa Monte e Arnaldo Antunes (“Talismã”) está sendo mostrado por Paulinho da Viola, em primeira mão, na temporada de shows que o sambista realiza atualmente no Teatro FECAP, em São Paulo. Como não poderia deixar de ser, trata-se de uma belíssima canção!

 

·               O terceiro CD do Cordel do Fogo Encantado (que se intitulará “Transfiguração”) tem por objetivo equilibrar música e arte cênica, uma vez que ficou comprovado através dos dois primeiros discos, que a banda tem muito apelo no palco e pouca força radiofônica. O repertório é composto por quinze faixas inéditas e o álbum estará disponível para os fãs na primeira quinzena de outubro.

 

·               O polêmico Lobão aderiu ao projeto Acústico MTV e gravará, ainda este ano, CD e DVD em show que conterá, no roteiro, os seus maiores sucessos.

 

·               No próximo mês, estará chegando ao mercado uma série de discos da extinta gravadora RGE. O lançamento é fruto de uma parceria entre a Trama e a Som Livre e trará, dentre os títulos relançados em CD, álbuns de Azymuth, Jorge Aragão e do grupo Fundo de Quintal.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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