Um Memorial para a medicina de Sergipe

      O governo de Maurício Graccho Cardoso (1922-1926) foi um dos mais estruturantes da história republicana de Sergipe. Difícil pontuar a sua administração em ações isoladas, em função  do programa amplo e arrojado, porém integrado, com atuação em várias frentes. Seu espírito empreendedor transformou o estado num canteiro de obras, entre elas as ações de saneamento básico da capital, compreendendo água, esgoto, drenagem e instalações domiciliares, iluminação elétrica, construção de açudes, represas e estradas, construção de prédios escolares, entre outras realizações.
      Além disso, Graccho Cardoso colocou a saúde pública como prioridade absoluta de seu governo, promovendo transformações importantes enquanto esteve à frente do executivo, mesmo enfrentando dois golpes militares, em 1924 e 1926, que dificultaram sobremodo a execução das tarefas programadas. No entanto, a determinação e o estoicismo de Cardoso foram determinantes para os avanços obtidos na saúde pública.
     O “ Instituto Bacteriológico”, com a finalidade de pesquisar e produzir insumos básicos, como vacinas, por exemplo e o Hospital Cirurgia, que deu a Sergipe um “meio cirúrgico adequado”, tão reclamdo pelo médico Augusto Leite, foram estruturas basilares para o desenvolvimento da saúde pública de Sergipe. Neste artigo, vamos nos ater ao primeiro.
     Criado pela lei 836, de 14 de novembro de 1922, o Instituto Bacteriológico foi concebido e sua construção viabilizada nos moldes exigidos pelos novos conhecimentos, uma preocupação de Graccho Cardoso, Para tanto, conseguiu trazer a Sergipe, em 1923, o médico Paulo de Figueiredo Parreiras Horta, carioca, discípulo preferido de Osvaldo Cruz, diplomado pelo Instituto Pasteur, de Paris e já um renomado cientista brasileiro.
      O inicio da construção ocorreu em 23 de julho de 1923 e foi inaugurado dez  meses depois, um tempo recorde para a época, mais precisamente em 5 de maio de 1924. Um mês antes, em 19 de abril, o Diário Oficial publicava o decreto que regulamentava o Instituto e, numa iniciativa louvável, já denominava o novo órgão de Instituto “Parreiras Horta”. O meio médico em Sergipe estava em festa.  Nos dois anos que passou em Sergipe, o ilustre esculápio foi hóspede oficial do governo e recebeu diversas homenagens, uma delas promovida pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe, precursora da Somese,  em 26 de abril de 1924, sendo saudado pelo Dr. Jessé Fontes. “Veio, sacrificando talvez os seus interesses profissionais, instalar o nosso primeiro instituto científico, que virá abrir novos e luminosos horizontes à medicina em Sergipe”, ressaltou Fontes em seu discurso.
     Em dezembro de 1925, com o Instituto funcionando de forma exemplar, como um verdadeiro Templo da Ciência, Parreiras Horta retornou ao Rio de Janeiro, deixando no seu lugar o médico João Firpo Filho, que deu sequencia ao trabalho de forma eficiente. Por muitos anos, o IPH foi um centro de excelência na realização de pesquisas médicas, de análises clínicas, bacteriológicas e químicas, constituindo-se num centro científico modelar na investigação dos principais problemas da saúde pública sergipana.
      No início da década de 60, já no governo Luiz Garcia, o IPH acolheu as primeiras turmas da recém  fundada faculdade de Medicina de Sergipe, o que exigiu  a construção de salas anexas ao pavilhão principal da instituição. No final do século XX, a instituição começou a sofrer com as constantes mudanças da política de saúde pública nacional e regional, entrando em processo de franca decadência. Sofreu ainda com a falta de atenção de alguns gestores, que não se preocuparam em resguardá-la e prepará-la para os novos desafios. A deterioração da estrutura ficou visível e mais recentemente, recebeu  interdição, por parte da Defesa Civil, de parte da construção, por risco de desabamento, justamente  a área que contempla a sua mais expressiva representação arquitetônica, a nave central com seu magnífico domo de estilo mourisco.
     Por tudo que representa na história da Medicina de Sergipe, ao longo de 90 anos de existência e preocupada com o destino que a instituição pode tomar, a Academia Sergipana de Medicina resolveu promover gestão junto ao Governo de Sergipe no sentido da recuperação e  revitalização da quase centenária instituição, com a instalação de um museu médico, tornando-se assim um  centro difusor da memória médica do Estado.
Bibliografia utilizada:
1) Silva, Henrique Batista. “História da Medicina em Sergipe”. Aracaju: Gráfica Editora J. Andrade, 2007.
2) Santana, Antonio Samarone. “As Febres de Aracaju – dos Miasmas aos Micróbios”. Aracaju, 2005.
3) Barreto, Luiz Antonio Barreto. “Graccho Cardoso-vida e obra”. Aracaju: Instituto Tancredo Neves, 2002.
4) Silva, Henrique Batista. “Parreiras Horta – Pioneiro da Medicina Científica em Sergipe”. Aracaju: Academia Sergipana de Medicina, 2001.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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