Uma simples escavadeira?

– “O Senador CID Gomes é um doido!” – ouvi numa conversa.

– “Não acho” – respondeu outro, revoltado – “Ele é um cidadão exercendo sua capacidade viril de se revoltar perante a irresponsabilidade de policiais amotinados!”

– “Que nada! Deveria ser acusado de tentativa de homicídio! Com aquela retroescavadeira ele poderia ter matado milhares de pacíficos manifestantes reivindicando aumento de salário!” – refutou alguém, um quase-rábula, sonhando-se já estagiário e plenipotenciário causídico.

– “Muito bem fez o policial que lhe desferiu dois balaços no peito. Deveria ter-lhe mirado a cabeça. Mereceria ser louvado e condecorado em legítima defesa da vida e da honra da tropa!” – disse um outro em seu apoio e sem se sentir fatídico.

– “Como se erra uma pontaria daquela! Não conseguir acertar a cabeça de um cearense!?” – glosou um gaiato suscitando graça na algaravia.

Não achei graça. O assunto era grave e, sem possuir solução, era melhor ouvir tudo e permanecer calado.

Ninguém naquele entorno se sentira ofendido com os policiais cearenses mascarados e amotinados, rebelados em desafio ao Estado Democrático de Direito.

Um povo que não tem a capacidade de se envergonhar – refleti no meu mutismo – perdeu a estirpe, não tem alma nem esperança.

Se Cid enlouqueceu, posando de Dom Quixote, pareceu-me mais um novo Policarpo Quaresma querendo sair do conto para virar história.

Nesse contexto de muita bravata e covardia, foi-se o tempo em que o nordeste era terra de “Homi brabo”, cabra da peste, “muié” macho, masculina.

Hoje, a julgar pelo modismo carnavalesco, quando não somos todos tarados, segundo esta moda de “não é não!”, os homi dali e de fora somos convidados a falar fino e mijar de coca.

– “Cid, ó suprema covardia! usar de um trator, espécie de aríete, como se ali existisse um excesso de imundícia a remover!”– gritou alguém.

– “Mas, o que se desejaria se em terra que não vinga kamikaze, a desvergonha sempre sobra e extravasa a covardia?” – gritou alguém, em profundo desamor, por um desfecho excessivamente risonho e pouco trágico.

Estaria ele invocando um exemplo talibã para jogar um avião em chamas no lugar do trator escavadeira, só para semear mártires a torto e à direita? Ficou-me a dúvida.

“Esse Cid é um homem perigoso!” – Estão a dizer muitos que o querem retirar urgentemente do leito hospitalar para jungi-lo a ferros.

E se a moda pegar?

E se Cid morresse e virasse canção como João Pessoa e a revolução? – surgiu-me a tola pergunta que jamais foi pensada, com tantos querendo derrubar Bolsonaro.

– “Já pensou se alguém em idêntica inspiração resolvesse acabar aquele pleito terno e pacífico com um “peido-de-veio”? – glosou de novo o galhofeiro sem gerar riso.

– “Os indivíduos capazes de se indignar como Cid têm que ser excluídos do convívio social!” – disse outro em siso profilático.

– “Nada  exemplar é a indisciplina, a rebeldia, a desobediência à hierarquia!” – disse alguém tentando por bom senso na conversa.

– “Que nada! Cid é um louco: Quem somos nós, reles cidadãos comuns, sem alabardes ou espadins, para dar ordens a uma turba que se crê mais forte e só restará vencida se uma mão mais poderosa a repelir no seu tresloucado desafio?”

Uma simples escavadeira? Jamais!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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