“Importante a contribuição da psicanálise para a psicopedagogia”, por Maria Aliomar Ribeiro Sales de Campos

Embora Freud afirmasse que não existe prevenção contra a neurose, sabemos, hoje, que a saúde mental depende da educação. Daí afirmarem os profissionais da saúde mental que “saúde e educação são termos de uma equação necessária”. A sua lógica, portanto, se baseia no senso comum ou na ordem da ciência.

 

A educação, no sentido literário, representa a administração de conhecimentos psicológicos, “com vistas a prevenção de distúrbios neuróticos ou caracteriais”. É o que nos ensina Jurandir Freire Costa. E adianta: “Não entendemos  a análise em campo das doenças de etiologia orgânica, isto é, as seqüelas mentais de afecções tóxicas, infecto-contagiosas, carências, metabólicas, etc. Essa a coincidência da educação com as medidas profiláticas médico-higiênicas e não com a tentativa de prevenção das anomalias de comportamento”. Também não podemos levar em conta as chamadas reações do tipo psicótico”.

 

O objetivo do educador é mais restrito. Centra o seu trabalho na prevenção de neuroses, por exemplo. A educação psicológica, porém,  “reproduz tão somente, a ordem social”. Eis porque Jurandir Freire Costa define o pressuposto  da identidade conceitual: “a educação é tomada ora num vago sentido filosófico ora no sentido de instrução ou escolarização. A socialização, portanto é, simplesmente, de ação educativa na infância ou acompanha o ser em toda a sua vida biológico-social”.

 

O agente de saúde deve se converter numa ação discreta, sem interferir na ação educativa propriamente dita. Por tal razão não se pode definir o processo educativo como uma ação psicológico-psiquiátrica. Esta é, portanto, a assertiva verdadeira: “educar para a saúde mental, significa, na prática, transmitir conhecimentos psicológicos às crianças”. O que pode acontecer por intermédio de profissionais de saúde, através da família ou de instituições afins, inclusive a escola. Mas existem outras escolas, estudiosos e pesquisadores que pensam diferente, que não concordam, por exemplo, com os termos “boa escola”, “boa psicologia”, corrente que leva em consideração a complexidade da doença mental.

 

Por outro lado, as teorias psicossociogenéticas realizaram profundas revisões “nas concepções mais rígidas da nosologia clássica, enquadrando, até, condutas e sentimentos antes desprezados pela psiquiatria”. A psiquiatria americana, por exemplo, não considera mais doenças as perversões sexuais.

 

Um dos aspectos fundamentais a se analisar é que os programas educativos americanos de saúde mental “em nada alteram a sanidade psicológica desse povo”, quanto mais no Brasil onde a desorganização é latente e não se leva a sério nem mesmo a estatística oficial. Todos os fatos históricos negam que a educação promova a saúde mental.

 

Na consideração da competência psicológica, analisamos a saúde mental dos adultos. É nosso dever dar aos nossos filhos carinho, presença, limites ou afeição necessários para um bom desenvolvimento emocional. Os ideais de felicidade residem, necessariamente no bem-estar do indivíduo, que resulta na otimização do prazer do corpo, do sexo e no sucesso”, tanto da pessoa como indivíduo, como na sua trajetória econômica, intelectual, artística e social.

 

Se não damos a conotação pejorativa ao desejo de felicidade individual das elites, chamando-o de burguês, também não encaramos o chamado “desejo de felicidade proletário”. Importa a discussão dos modos de vida das classes sociais e “suas respectivas diferenças” na análise do que designamos de “competência psicológica” (Boltansky e Castel). Do que se depreende que “A educação  psicológica é indiferente quanto à sanidade psíquica dos indivíduos”. No estudo da norma educativa, desvio e doença mental, descobrimos que “O indivíduo bem-educado é um indivíduo mentalmente sadio”. A educação psicológica não foge a regra de que a educação, no seu sentido mais amplo, produz regimes de representação e os hábitos mentais que ela cria são partilhados  por todos dentro de uma mesma sociedade. Daí se entender que o grau de desenvolvimento psíquico corresponde ao maior desenvolvimento possível da individualização. De modo geral “toda norma educativa, psicológica ou outra, busca a universalização do particular”. Ela atinge o seu perfil moldado segundo a classe social à qual o indivíduo pertence, formando o que chamamos de Tipo Psicológico Ordinário. Caracterizam-se, então, os traços da personalidade, valorizando-se a espontaneidade, a liberação da sexualidade, da agressividade. “além de se estimular o contato, cada vez mais intenso, com sentimentos e pensamentos do que chamamos vida íntima”.

 

Chegamos por isso, a conclusão de que “todo indivíduo está continuamente convivendo com este tipo psicológico de padrão de seu grupo social” e que “O desvio do Tipo Psicológico Ordinário pode ser causa de sofrimento, mas não é sinônimo de doença mental”, embora haja sobre isso, divergência entre Freud e Reich. Freud não acreditava na felicidade humana, Reich entendia que o homem freudiano, sujeito a sublimação era reprimido e neurótico, daí conceber que esse indivíduo estava exposto a tensão libidinal a um passo da neurose.

 

Outro aspecto a considerar é o de que “A interação emocional potencialmente patogênica leva, obviamente, a criança a construir um comportamento desviante com relação ao tipo ideal”. O importante, pois, é, nesta relação, “poder excluir do horizonte psíquico da criança o acesso a um tipo patológico ideal”.

 

Em resumo podemos adiantar que “a psicopatologia não é uma variante psicológica do processo educativo”. Para a dúvida, pois, nos estudos analisados, de que há dúvidas sobre o valor preventivo da educação psicológica porque a realidade psíquica é “absolutamente pessoal, idiossincrático, estrita e originalmente dependente da história de cada um”. Aprendemos, desta forma, que “até o momento nenhuma educação psicológica pode reivindicar o mérito de ter abolido ou reduzido o surgimento de doenças mentais”.

 

 

* Maria Aliomar Ribeiro Sales de Campos é autora, psicopedagoga, chefe da Coordenadoria de Educação para o Trânsito do Detran-SE.

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