Policial que atirou contra designer é indiciado por homicídio culposo

Delegado Júlio Flávio e peritos detalharam toda investigação do caso nesta sexta-feira (Fotos: Portal Infonet)

O policial civil José Humberto, responsável pelo disparo que matou o designer Clautenis José dos Santos, de 37 anos, durante uma abordagem no dia 8 de abril, foi indiciado por homicídio culposo (quando não intenção há intenção de matar, mas há imperícia, imprudência ou negligência). Essa foi a conclusão do inquérito presidido pelo delegado Júlio Flávio Prado, da Corregedoria da Polícia Civil. Durante os mais de dois meses de investigação, sete laudos foram efetuados e diversas testemunhas foram ouvidas. O inquérito já foi remetido para o Poder Judiciário e tramita na 5ª Vara Criminal.

De acordo com o delegado, com base nos resultados das perícias, o entendimento é que o policial José Humberto não agiu como deveria na ocorrência. “O disparo contra a vítima foi um equívoco, tanto é que nós o indiciamos por homicídio culposo. Chegamos a conclusão que faltou prudência ao policial naquele momento, mas assim como chegamos a conclusão também que ele não chegou ali com a intenção de tirar a vida da vítima”, detalhou.

Os outros dois policiais que também participaram da abordagem, de primeiros nomes Bruno e Valdemar, e que também fizeram disparos de contenção no local da abordagem, saíram ilesos no inquérito porque a perícia não conseguiu identificar de onde partiu o disparo que atingiu a perna do motorista de aplicativo, Eduardo. “O próprio Eduardo em depoimento não sabe dizer de onde partiu o tiro. O disparo atravessou a perna dele e nós não encontramos o projétil no local, o que dificultou o trabalho da perícia”, explicou Júlio.

Reconstituindo a abordagem

Imagens retratam a reconstituição: peritos detalharam como ocorreu a ação

Peritos da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP/SE) detalharam nesta sexta-feira, 28, como foi feita a reconstituição da abordagem policial daquele dia 8 de abril, no bairro Santos Dumont. Os três policiais estavam em plantão extraordinário numa caminhonete da Polícia Civil sem plotagem. Ao delegado, os policiais disseram que encontraram uma situação suspeita no veículo que fazia aplicativo de transporte e havia sido solicitado por Clautenis e o amigo Leandro. “Os policiais visualizaram que duas pessoas no banco de trás, e apenas o condutor na frente. A condição suspeita, para os policiais, se deu porque se tem visto esse método de operação em assaltos a veículos de transporte por aplicativo”, detalhou o delegado.

Ao receber a ordem de parada dos policiais, segundo a reconstituição, o motorista do veículo (Eduardo) foi o primeiro a descer com as mãos na cabeça. Clautenis e Leandro, conforme explicações do delegado, teriam levado mais tempo para descer do carro – fator que gerou desconfiança dos policiais. “Nós acreditamos que o primeiro disparo foi no momento que o Clautenis abriu a porta. Os policias acreditavam que estavam numa situação de risco e efetuaram os disparos”, afirmou o delegado. Segundo os autos, a porta de Clautenis foi aberta abruptamente, chegando a atingir o policial José Humberto.

Durante os primeiros disparos, o motorista do veículo teria corrido em direção ao outro lado da rua – nesse momento teria sido atingido na perna. Leandro permaneceu deitado no chão do lado direito do veículo, conforme ordem dos policiais. “Quando a situação ficou mais tranquila, os policiais colocaram Clautenis e o motorista do aplicativo, Eduardo, na Caminhonete, com intuito de socorrê-los”, completou o delegado.

Encaminhamentos

O delegado informou que o inquérito já está no Poder Judiciário e negou que tenha pedido segredo de Justiça, mas disse que o Ministério Público e a própria Justiça podem entender o contrário e manter em segredo. Júlio Flávio também afirmou que não vê motivos para que os policiais continuem afastados das suas funções, afirmando que eles não representam perigo para sociedade, mas lembrou que um procedimento administrativo na própria Corregedoria, sob tutela da delega Érica, está investigando a conduta dos policiais.

Por Ícaro Novaes

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