Musiqualidade

Estamos em 2006! Ano em que o Brasil vai passar por várias novas experiências bastante significativas para o nosso povo. Teremos mais uma Copa do Mundo e com ela o sonho de conseguirmos o hexacampeonato. Haverá eleições gerais e o desejo de, desta vez, acertarmos nas nossas escolhas. Na área musical, as primeiras expectativas versam em torno dos novos lançamentos de Chico Buarque (em sua estréia na gravadora Biscoito Fino), de Marisa Monte (e seu tão aguardado álbum duplo) e de Maria Bethânia (com seu trabalho de inéditas em que comemorará os 60 anos de vida). Quem sabe o ano que se inicia também não nos presenteará com alguma nova e boa revelação? Enquanto isso não acontece, vamos aos destaques do ano que passou. A seguir, os doze melhores lançamentos em CD de 2005. Todos eles foram devidamente resenhados por esta Coluna na época em que chegaram ao mercado.   

 

M E L H O R E S    C D’s    D E    2 0 0 5

 

01 – NA CADÊNCIA DO SAMBA – Arranco de Varsóvia

O grupo vocal deu um show de criatividade em um CD que, além de excelentes arranjos e criativos achados, ainda contou com duas boas canções inéditas do mestre Dorival Caymmi. Entre sambas deliciosos e similares, fez um trabalho genuinamente brasileiro e irretocável. Imperdível!

 

02 – BRASEIRO – Roberta Sá

A melhor revelação do ano foi essa cantora potiguar que participou despercebida na segunda edição do programa “Fama” da TV Globo. Dona de um timbre belíssimo e com um repertório primoroso, estreou para o grande público (ela já tinha lançado anteriormente um outro disco, mas que correu por fora do circuito comercial) em grande estilo.

 

03 – NAQUELE VERBO AGORA – Vander Lee

Consolidando-se como um dos melhores compositores da atual geração, o mineiro Vander Lee construiu um disco simples mas bastante agradável. Muito embora aquém de seus dois trabalhos anteriores, o CD comprova o talento de um artista inspirado que sabe fazer música ao mesmo tempo inteligente e radiofônica.

 

04 – PRÉ-PÓS-TUDO-BOSSA-BAND – Zélia Duncan

Incansável, a niteroiense Zélia Duncan trabalhou pra caramba no ano que passou. Produziu discos, criou o seu selo musical, fez incontáveis participações especiais em CD’s de vários colegas, lançou um DVD do álbum anterior e ainda teve tempo para gravar um novo CD de sonoridade interessante e repertório inquietante. Uma cantora que não se permite estagnar e que se mostra em constante processo de mutação…

 

05 – SEGUNDO – Maria Rita

Mesmo subestimado pela crítica especializada, o segundo CD da aclamada filha de Elis Regina mostrou uma nítida evolução em sua maneira de cantar. Mais segura e com menos influências da mãe, a intérprete decerto que não fez um disco tão interessante quanto o seu trabalho de estréia. Culpa de um repertório frouxo, o que, contudo, não chegou a comprometer o bom resultado de um trabalho tão esperado quanto cobrado.

 

06 – NOS HORIZONTES DO MUNDO – Leila Pinheiro

Um tanto esquecida do mercado fonográfico nacional nos últimos anos, a paraense Leila Pinheiro estreou com pé direito na nova gravadora, no caso, a Biscoito Fino. Dona de uma técnica vocal primorosa, a cantora só precisa ousar um pouco mais, de uma próxima vez, no repertório porque de resto – como já se sabe – é uma artista e tanto!

 

07 – PIANO E VOZ – Ná Ozzetti e André Mehmari

Ainda quase desconhecida do grande público, a paulista Ná Ozzetti está, hoje, entre as cinco melhores cantoras brasileiras. Artista eclética que costuma escolher seu repertório entre obras mais vanguardistas, lançou um CD antológico no qual uniu sua voz abençoada ao magnífico piano de André Mehmari, um músico que constrói nas sutilezas o seu som de rara inspiração.

 

08 – MOSAICO – Quinta

Em seu quarto disco, Quinta (ou Marcelo Quintanilha) deu a volta por cima após um malfadado terceiro álbum e fez de seu novo CD um trabalho memorável. Distribuindo as várias faixas com diversos produtores, conseguiu a façanha de realizar um álbum coeso que se ouve da primeira à última faixa sem ter vontade de pular nenhuma delas. Merece ser bem mais conhecido!

 

09 – MOSAICO – Toquinho

Numa coincidência de título com o trabalho de Quinta, o exímio violonista Toquinho fez chegar às lojas, já no finalzinho do ano, um disco que foi feito especialmente para compor a trilha sonora de uma peça comemorativa aos 500 anos do descobrimento do Brasil. Dividindo parcerias com o sempre competente letrista Paulo César Pinheiro, fez do seu álbum uma verdadeira aula de história nacional.

 

10 – QUE FALTA VOCÊ ME FAZ – Maria Bethânia

Intérprete vigorosa, a baiana Maria Bethânia lançou um disco que estava gravado desde 2003. Totalmente voltado para a obra de Vinicius de Moraes, a cantora esqueceu-se das tintas exacerbadas com que costuma tingir o seu canto e, bem mais contida, mergulhou com devoção no universo do Poetinha. Se não chegou a ser um dos melhores trabalhos de sua já vasta discografia, mostrou uma cantora (às vésperas de completar seis décadas de vida) em surpreendente forma vocal.

 

11 – TODA CURA PARA TODO MAL – Pato Fu

Primeiro trabalho lançado pela banda depois que a vocalista Fernanda Takai pariu o seu primeiro rebento, mostrou-se um disco delicioso. Entre algumas canções de cunho experimental, há citações aos Mutantes e canções inéditas com melodias bastante assimiláveis. Gravado de maneira independente em Belo Horizonte (e só depois vendido a uma multinacional), o álbum mostra uma banda em pleno processo de amadurecimento.

 

12 – BAIÃO DE DOIS – Elba Ramalho e Dominguinhos

Mesmo tendo passado batido pelas rádios e pelo público consumidor, esse trabalho reuniu dois dos maiores nomes da música nordestina. Elba e Dominguinhos se entendem muito bem e o trabalho fluiu com naturalidade, embora o excesso de regravações tenha contribuído para que não sobressaísse nenhum grande hit. A presença de alguns arranjos memoráveis fará com que, no futuro, esse álbum venha a ter o seu alto valor reconhecido.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Na próxima sexta-feira, dia 13, estarão subindo ao palco do “Projeto Assaim de Música”, no Município sergipano de Pirambu, os artistas Joaquim Antônio e Sena. Ambos fazem a chamada música regional e desenvolvem excelentes trabalhos. Serão dois shows imperdíveis. Apareça por lá!

 

·               Fábio Souza, o vencedor da última edição do programa “Fama” da Rede Globo, foi contratado pela gravadora Deckdisc e atualmente termina de gravar, no Rio de Janeiro, o seu primeiro CD. Abraçando o estilo romântico, o baiano ganhou uma canção inédita de Jorge Vercilo (“Me Transformo em Luar”) e regravou canções aparentemente díspares como “Preciso de Você” (de Márcio Greick) e “Onde Deus Possa Me Ouvir” (de Vander Lee).

 

·               A fim de cobrir o período compreendido entre o ano em que lançou o primeiro CD (1997) até o ano retrasado (2004), a banda Pedro Luís e a Parede (PLAP) faz chegar lojas um bem-vindo resumo de sua obra fonográfica. O disco traz quatorze faixas, dentre as quais duas delas inéditas: “Vida de Cão”, em gravação ao vivo, e “Imantra” (esta nada tem a ver com a música “Mantra”, parceria do mesmo Pedro Luís com Rodrigo Maranhão, canção escondida depois da última faixa do segundo CD de Maria Rita). Entre nítidas influências de Jorge Ben Jor (“Zona e Progresso” e “Caio no Suingue”) e participações de Lenine, Fernanda Abreu e Ney Matogrosso, a galera (que, no Carnaval carioca, se transforma no elogiado grupo Monobloco) mostra sua capacidade inata para fazer um som percussivo e dançante mas com elegância.

 

·               Na edição para Portugal do CD “Baladas do Asfalto & Outros Blues” que Zeca Baleiro lançou ano passado há uma faixa-bônus. Trata-se da canção “Frágil”, de autoria do compositor lusitano Jorge Palma. Empolgado com o sucesso alcançado em terras de além-mar, Baleiro planeja gravar um disco com músicas de compositores portugueses, no qual unirá fados tradicionais ao pop lusitano contemporâneo. Mas esse não é o único projeto em andamento do irrequieto maranhense: Baleiro também tenciona pôr no mercado, em 2006, um CD voltado para o público infantil e outro com músicas de letras com caráter pornográfico. É esperar para ver!

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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