Você é contra o feminismo?

Profª Drª Andreza Maynard

Universidade Federal de Sergipe

Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

 

Fotografia de Maria da Penha Maia Fernandes. Fonte da Imagem: https://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-penha.html. Acesso em 02/03/2022

 

A aproximação do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, evidencia o feminismo, que é tanto um movimento (político, social, ideológico), quanto um campo filosófico e teórico, cujo objetivo é conquistar direitos iguais para homens e mulheres. Para as feministas, existem razões para celebrar, mas é preciso continuar lutando. Há quem discorde.

Aqueles que se identificam com uma agenda conservadora acusam o feminismo de buscar privilégios para as mulheres. Nos últimos dias, a Ucrânia retomou o serviço militar obrigatório para homens e o perfil @bolsonarosp, do deputado Eduardo Bolsonaro, postou no Instagram: “Alguém viu alguma feminista reclamando por direitos iguais nestes casos? Lembrem-se disso quando te falarem em opressão do patriarcado” (https://www.instagram.com/p/CaZl3JRL8sj/ Acesso em 02/03/2022).

Para Luiz Felipe Pondé, o feminismo é desnecessário e chega a atrapalhar. Numa entrevista concedida em 2021 para a TV Cultura, ele afirmou que “feminista não entende nada de mulher” e que “o feminismo está estragando a relação entre homens e mulheres” (https://www.youtube.com/watch?v=wacqCH5S7uM Acesso em 02/03/2022).

Tais declarações contradizem o legado de bell hooks, pseudônimo de Gloria Jean Watkins, uma das maiores referências mundiais no assunto. Para ela, não estamos perante a luta de mulheres contra homens, mas diante de um esforço para promover a igualdade.

Em geral, os ataques ao feminismo são manifestações de opinião pessoal, desprovidas de fundamento. Por sua vez, o movimento feminista produz um discurso com base na observação de fatos, dados estatísticos e estudos sobre a condição das mulheres em diferentes contextos. Ao tomar o caso de um país estruturalmente desigual como é o Brasil, fica difícil sustentar o argumento de que não precisamos de mudanças.

Em 2021, o IBGE divulgou dados mostrando que os homens são maioria no mercado de trabalho e que, em 2020, as mulheres ganharam o equivalente a 78,1% do rendimento dos homens, ou seja, 21,9 % a menos.

A violência contra as mulheres continua sendo outro problema gritante. O relatório do 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2020) revelou que em 2019 foram registrados 66.123 casos de estupro, o que equivale a 1 crime sexual a cada 8 minutos. No livro Sobrevivi … posso contar, Maria da Penha relata que, além das agressões físicas que a deixaram paralítica, ela conheceu um tipo de violência invisível, qual seja, o preconceito contra as mulheres.

Nunca fomos tão conscientes do problema da desigualdade de gênero, do perigo do machismo e da importância de erradicar a violência contra a mulher. As feministas ostentam com orgulho conquistas históricas como o voto feminino e a maior liberdade sobre o corpo. Ao mesmo tempo, autoras como a brasileira Djamila Ribeiro e a estadunidense Angela Davis lembram que é preciso ampliar o papel e os direitos das mulheres na sociedade.

Historicamente, os direitos e a vontade dos homens se sobrepuseram aos das mulheres. Para que a igualdade ocorra de fato, é preciso empoderar as mulheres. Todavia, como escreveu a britânica Mary Wollstonecraft, ainda no século XVIII, quando o feminismo surgiu formalmente, não se trata de as “mulheres terem poder sobre os homens, mas sobre si mesmas”.

Você é contra o feminismo? Concordamos em discordar.

 

Para saber mais:

HOOKS, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Trad. Ana Luiza Libâno. 1 ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.

PENHA, Maria da. Sobrevivi… posso contar. 2. ed. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2012.

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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