O engraxate de 12 anos veste uma camisa surrada e suja, de cor amarela, e com o símbolo da seleção. Afinal, é ano de Copa do Mundo, é tempo de vestir verde e amarelo e sentir orgulho de ser brasileiro.
Mesmo sem saber explicar que orgulho é esse e de onde vem, o menino carrega o sorriso no rosto. A única coisa que ele e a maioria dos brasileiros lembram nesses tempos de Copa é que seu país tem a melhor seleção e é preciso concentrar energias positivas em busca do hexa.
Mas seria este o único motivo para pintar a cara, colocar bandeirinhas no carro, na janela de casa, vestir verde e amarelo e entoar o hino nacional? Por que não se faz isso 365 dias por ano? Por que os brasileiros esperam o Brasil entrar em campo de quatro em quatro anos para mostrar o orgulho de serem filhos deste país?
“O brasileiro não tem mais fé em nada e precisa se apegar a alguma coisa”, essa é a opinião compartilhada pelos designers Alberto Luiz e Miller Ramos. “O Brasil precisa de ícones para levantar a auto-estima do povo. Na falta, a gente elege as nossas potencialidades (no caso, o futebol), o que não é ruim. O problema é esquecer das outras coisas”, acrescenta Miller.
Nos anos de Copa as ruas do Centro da cidade ficam repletas de vendedores ambulantes com bancas coloridas com diversos acessórios verde e amarelo. Adriana, uma brasileira “doente”
Acabada a Copa ninguém encontra mais nada que represente as cores da bandeira. Para a ambulante Adriana Silva, a explicação é muito simples, “ninguém compra mesmo!”. O que sobrar da banca dela, vai para o fundo do armário e volta a ser vendido na próxima Copa.
“O povo só compra artigos do Brasil com o incentivo dos jogos, em outras épocas a gente não tem condições de vender”, afirma o vendedor ambulante Delvanir Evangelista. E ele diz mais, “se o Brasil perder nos primeiros jogos as vendas acabam”. Mas, se a seleção ganhar, as vendas estão garantidas, pelo menos até a primeira derrota. Ele próprio afirma que só usa o chapéu com a bandeira do Brasil por conta da Copa, “se a seleção perder, eu não uso mais”.
Diferente de Delvandir, a ambulante Adriana diz que usa roupas e adereços com as cores do Brasil o ano inteiro. “Eu sou brasileira “doente”. Visto verde e amarelo sendo Copa ou não, pois eu gosto das cores”. Quando questionada se gosta também do país em que vive, ela fica meio balançada e diz que precisa melhorar muita coisa, mas mesmo assim se diz feliz por ser brasileira.
A banca dela é uma das mais coloridas e movimentadas no Calçadão da rua João Pessoa. O artigo mais vendido é a bandeira do Brasil. O funcionário público Rivelino Santos leva logo duas bandeirinhas, diz que é mais para agradar seus filhos pequenos, por conta da Copa. Ele afirma que, “o orgulho pelo Brasil está meio derrubado. Continuo sendo cidadão e patriota, mas com um tanto de tristeza”.A bandeirinha de plástico que Rivelino comprou para colocar no carro, não vai durar muito. O tempo irá corroer o material frágil, as cores irão desbotar e provavelmente aquele plástico velho cairá sem que ninguém perceba. Até que venha a próxima Copa.
Por Carla Sousa