Chapuletadas

Diz-se de chapuletada, um tapa na orelha dado a alguém, um menino, uma criança, por outro que se vê maior e até com direito, a bater-lhe e a espancar.

Nesse contexto três chapuletadas aconteceram nos últimos dias.

A primeira chapuletada foi dada pelo Presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, estapeando a grande imprensa, e em especial o jornal O Estado de São Paulo, que ao fio e à força, teimava em violar o seu direito ao sigilo pessoal quanto ao exame da Covid-19.

Meio mundo de gente, açulado pelos jornais, queria a divulgação do seu exame.

Para quê?

Achavam que deveria havia mais que um segredo, um engodo, uma tapeação; algo que estivesse encobrindo uma safadeza.

Porque safadeza é sempre uma branda acusação jogada contra o “homofóbico, misógino e sexista” Presidente, entre outras vetustas carícias a ele dirigidas.

Narrativas que bem se enquadram às velhas intrigas, em máximas atribuídas ao notável escritor e polemista Olavo de Carvalho, dito “astrólogo” ou “tirado a filósofo” por meio mundo de iletrados e hemiplégicos analfabetos, em rama que urtiga a grama, sem fertilizar o debate.

Na luta política, ao pontuar o mote assaz empregado pelos partidos de esquerda, aqui e lá fora, diz o mestre emigrado nos Estados Unidos: “Acuse-o do que você é, eis a metodologia dessa gente”.

Uma lição que também justifica as manchetes rotineiramente empregadas pela imprensa em sua excedente necessidade de vender ilusões repetidas, obscenidades diárias, informações distorcidas, noticiário vário e pouco hilário, em busca de leitores ávidos de miséria, fartando-os com falta de compromisso e ausência de seriedade.

Sinceramente questionando, estava a imprensa realmente, perquirindo a busca da verdade ao escarafunchar o exame do Mito?

Não estava insinuando no segredo do exame uma safadeza incrustada ou enrustida, enquanto  velha prática alardeada por Carvalho?

“Denuncie-o do que você é!” – repete o filósofo lá da terra de Thomas Jefferson.

Uma máxima bem conhecida pelos franceses por Pierre Beaumarchais e seu Barbeiro de Sevilha: “Caluniai, caluniai; alguma coisa sempre fica!”

Se havia algo de podre lá no Reino da Dinamarca, questionam muitos canalhas, por que não haverá uma safadagem qualquer em tanta citação de João Evangelista?

Assim surgiu a imperativa manchete: “Cobremos o exame do Bolsonaro!”

Nas próprias entrelinhas da notícia, percebia-se o mote que a inspirava: “Tá na cara que o desgramado está escondendo uma falcatrua, algo que todo mundo faz, não é mesmo!?”

E assim foram movidos todos os óbices para se descobrir a imoralidade imaginada, em sucessivas solicitações por toda a cadeia do judiciário, subindo até o Supremo Tribunal Federal, a última corte jurisdicional, usando toda cadeia monolítica que erige a República.

Para quê?

Só para desvendar uma ventosidade, lançada previamente para glosar no final?

Porque foi uma flatulência, sonora e explosiva, o dirimido por tão parca canora coorte em insolente impertinência.

Descobriu-se por pertinência, que o presidente, porque quis e ninguém o obrigou, fizera três exames, e todos laudaram negativos para o Covid19.

Um exame foi feito no nome de Airton, outro no de Rafael e um terceiro como 05, um número primo e indivisível, simplesmente.

Precisamente, o Presidente fizera os exames em nome de Airton Guedes, Rafael Augusto da Costa Ferraz, e o 05, um numeral apenas, antes explicitando a sua identificação verdadeira com nome, sobrenome e CPF, no laboratório Sabin de Brasília e na Fiocruz.

A providência, em rocambolesco malabarismo inusitado, fora um contorcionismo empregado para resguardar a sua identidade, afinal isso assegurou-lhe a não violação do exame pela imprensa, que o Presidente define como “Canalha!”, e que assim lhe é useira e vezeira.

Teria sido uma piada de mau gosto?

Não! Foi uma piada de excelente gosto!

Uma chapuletada na “extrema imprensa”, que assim tem sido batizada.

 

A 2ª Chapuletada foi a imprensa quem deu no Brasil.

Com tanta gente sendo ceifada por dona morte e seu Covid-19, o judiciário foi acionado pela imprensa na elucidação do exame do Presidente.

Mostrou-se em vil chapuletada requerida, que mais uma vez, no nosso presidencialismo “cidadão”, Bolsonaro não será derrubado como desejado, mas estará incapaz de governar, não lhe sendo garantido um mínimo de direito legal e constitucional, nem mesmo o de manter em sigilo as suas consultas médicas, e até um eventual exame parasitológico de fezes, que venha a requerer.

Com muitas fezes ainda a recolher, consegue-se perceber em tal chapuletada uma fragilidade da República Cidadã, que está a pedir, quem o sabe; um déspota, um condestável, alguém firme e forte, que consiga botar ordem na coorte, na prensa e até na tropa, em interminável anarquia recursal.

 

A 3ª Chapuletada está dando o Supremo Tribunal Federal que espanca todo mundo.

O Supremo vergasta e açoita a todos; mereçam ou não: do Presidente ao Congressista, do dirigente autônomo ao anônimo trabalhador; em desafio e em amplo desavio irrefletido, ao talante da lei e ao se favor.

E se a Lei e sua exegese assim o toleram, por autônoma hermenêutica a seu bem lavor, eis aquela corte se entronizando na Praça dos Três Poderes, qual relevante importância superior, um monstrengo e canhestro Poder Moderador, sem Imperador Sereníssimo, nem suas barbas, ou coroa e cetro que o simbolizem.

Pelo que foi e pelo que virá em tantas chapuletadas dadas e a receber, onde iremos parar?

A persistir assim, não nos espantemos se tudo piorar.

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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