DEUS NÃO ESCREVE CERTO SOBRE LINHAS TORTAS

Gosto muito de axiomas. Eles servem para facilitar o entendimento em torno daquilo a que aspiramos expressar e criam um campo favorável à compreensão do que queremos dizer.

Todavia, se muitos realmente cumprem o papel de dar lições de vida, pois são coerentes com o que se anuncia; outros ao contrário, não conseguem ter o alcance de tornar mais entendível o que é transmitido. São usados com frequência, porém não resistem a uma análise mais apurada. Se fizermos  uma apreciação mais crítica do seu conteúdo, constataremos com muita facilidade que são falazes.

Um deles afirma que: “Deus escreve certo sobre linhas tortas.”

Não me parece verdadeira esta máxima. Na verdade, Deus não escreve certo sobre linhas tortas.

Apreciando melhor, e sabendo que Deus não erra nem estimula o erro, podemos facilmente concluir que Deus escreve certo sobre linhas certas.

Considerando, também, não ser constatada nenhuma necessidade para que Deus escreva sobre linhas tortas, o que tornaria mais difícil a leitura de suas mensagens, infere-se que Deus escreve certíssimo, sobre linhas certas.

Somos nós, limitados e maus alunos, que não atentamos para as magníficas aulas que a todo momento nos são por Ele ministradas. Somos nós que não sabemos e, às vezes, até fazemos um esforço enorme para não aprender o alfabeto Divino.

Com efeito, encontramos, neste brocado, uma forma sutil de compensar a nossa ignorância e as nossas deficiências. É mais fácil colocar um defeitinho na Sua escrita do que admitirmos que somos analfabetos na escrita Deus.

Temos que estar atentos para as bem ministradas aulas que Deus nos dá todos os dias. Necessitamos, também, conscientes de que temos que fazer a nossa parte, saber que Deus, sinaliza sempre para o que devemos fazer ou deixar de fazer. Às vezes Ele até faz com que percamos um pouco para usufruirmos mais, lá na frente.

É aí que, como se diz na gíria, “passamos batidos”, não entendemos tais desígnios e, pior ainda, até nos revoltamos, criando dúvidas sobre as Suas determinações. 

Sugiro que, nestes instantes, procuremos compreender, as lições que estão sendo tão sabiamente ministradas. Em determinadas ocasiões, um pouco de calma, de fé e, sobretudo, muita compreensão fazem uma enorme diferença.

Sem esquecer de que temos que fazer a nossa parte, é claro.

Repito: Deus não precisa escrever em linhas tortuosas, para as coisas acontecerem. 

Poderia citar, neste instante, muitos exemplos que se prestariam a comprovar tudo o que estou dizendo. Seriam histórias muito conhecidas, exemplos pessoais ou que foram por mim presenciados.

Citarei apenas um que ilustra muito bem o que foi abordado:

“Estávamos no ano de 1967, eu tinha então 17 anos. Surgiu, na cidade de Sobral, um concurso para o CEDAE-CE – Companhia Estadual de Água e Esgoto do Ceará.

A seleção objetivava escolher uma pessoa para tomar conta de um chafariz, que seria instalado em cada pequena cidade do interior. Para a minha Groaíras, apenas dois candidatos se inscreveram: Diogo (meu primo) e eu.

Tudo pronto, todos já convictos de que eu seria o candidato aprovado, pois, à época, cursava o primeiro ano ginasial e o meu concorrente, jamais frequentara uma escola regular. Tudo o que ele sabia aprendera sozinho, em casa com a minha tia, sua mãe. Logo, eu era o favorito.

No dia da prova, estávamos os dois, juntamente com todos os candidatos das outras cidadezinhas. Na hora em que comecei a escrever, a minha caneta falhou – “secou”, conforme dizíamos à época.

Comuniquei ao fiscal da sala que me respondeu: “eu não tenho caneta, mas você pode ver com os colegas, quem tem mais de uma e peça emprestado”.

Eu só conhecia Diogo e, alegre, percebi que ele estava com quatro canetas: uma na mão e três no bolso da camisa. Aventurei-me a pedir-lhe:

– Diogo, empreste-me uma das suas canetas?

– Empresto não, respondeu prontamente.

– Mas você está com quatro canetas o que custa me emprestar uma?

– Empresto não, repetiu. Podem secar as três.

O pior é que meu concorrente tinha razão, pois, naquele tempo, as canetas eram muito ruins e facilmente poderiam “secar” de verdade.

Diante da impossibilidade de fazer a prova, só restou-me entregá-la, sem sequer iniciar, o que me eliminou da competição. Assim, Diogo, candidato único, foi aprovado.

Ele assumiu o emprego, se acomodou naquela situação, construiu uma casa próximo ao chafariz da cidade, constituiu família e lá está morando até hoje, já aposentado. Nunca se preocupou em procurar outra coisa, estudar, viajar. Diz-se muito feliz, com o que ganha e faz.

Eu, ao contrário, um pouco frustrado, confesso, até achando-me injustiçado por Deus, por não ter conseguido fazer aquela prova, fui obrigado a, como se diz por aí, “correr atrás”, tentar outras coisas, noutros lugares.

Saí da zona de conforto da minha pequenina Groaíras e já no ano seguinte atingi a maioridade, rumei, então, como retirante, para o Rio de Janeiro. Lá fiquei por oito anos, com passagens curtas por São Paulo e Brasília. Voltei para o Ceará, desta feita Fortaleza, onde fiquei por doze anos e, finalmente, cá estou, em Sergipe, há mais de vinte, fazendo coisas bem diferentes e, graças a Deus, mais interessantes, para mim, do que pastorear uma caixa d’água com várias torneiras.

Concluo, portanto, que Deus não escreveu em tortas linhas o meu destino. Escreveu sim em linhas muito retas, estava tudo muito alinhadinho. Eu é que, na época, não entendi, revoltei-me, achei injusto. No entanto, agora, compreendo e agradeço a Deus.

Bendita a caneta que “secou” na hora “H”! Obrigado, meu querido amigo e primo Diogo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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