Onde está a aldeia?

Uma vez eu li um provérbio africano que dizia que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Muito bonito e eu concordo muito com esse provérbio, até por ser uma pessoa que está inserida diretamente na educação como professora e que acredita na educação como uma ferramenta chave para mudanças e transformações maravilhosas na vida dos seres humanos. Mas, na prática, a aldeia se resume a uma, duas, três pessoas no máximo. A aldeia usa outro provérbio: Quem pariu Matheus que balance. A aldeia promove debates, rodas de conversa, eventos, seminários sobre a importância do acolhimento, da sororidade, sobre a importância de inserir as mães em todos os espaços, a importância de insistir para que as mães participem das coisas, mas na prática, onde estão esses espaços?

 

Afinal, qual é o tipo de preocupação que a sociedade tem com as mães? Uma vez eu perguntei em uma das minhas redes sociais quais eram as empresas em Sergipe que tinham espaços para que as mães pudessem levar os seus filhos quando precisassem. Coisas básicas, até um fraldário, espaço para trocar a fralda da criança, um espaço para amamentar, ou seja, o básico. Todo mundo me respondeu assim: “aqui eu não conheço, não sei, não faço ideia. Poderia me dizer também, quando você descobrir?”. Essas foram as respostas que eu recebi. Mais uma vez, entrando nesse assunto sobre a maternidade, a gente precisa pensar de maneira efetiva que a representatividade da mulher nos espaços nem sempre garante que as mães e suas crianças sejam acolhidas quando necessário.

 

É necessário observar que muitas vezes as mulheres também têm comportamentos que são alinhados ao machismo, que são alinhados à lógica patriarcal, que são alinhados à lógica da exclusão das mães, até porque o machismo é estrutural em nossa sociedade e ela foi construída em cima dessa lógica, portanto, não basta ser mulher e ser uma mãe, é preciso romper com a lógica do patriarcado para avançarmos enquanto sociedade que busca a igualdade a partir do respeito às diversidades. A sociedade, sobretudo a sociedade do trabalho, trata as crianças como se fossem um peso, um estorvo, algo que atrapalha a produtividade. Obviamente isso acontece muitas vezes de maneira sutil, outras nem tanto.

 

No dia a dia, quando a mãe precisa levar o filho ao médico, quando a criança está doente em casa, quando a mãe precisa levar a criança para o trabalho porque não tem com quem deixar, a interpretação e o olhar do outro é o de julgamento. Acreditam que licença maternidade é o mesmo que férias, acreditam que doença de criança e consultas são “desculpas” para faltar ou sair mais cedo. Me impressiona a falta de memória de muitas pessoas de como é conviver com uma criança ou de como é ser uma criança. Por isso, antes de citar um discurso bonito, de que é muito favorável às carreiras das mães, vamos ser práticas e pensar criticamente sobre o que a gente faz para que as mães possam ter uma carreira?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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